“Não somos obrigados a endossar todos os candidatos para entender que a democracia local dá às pessoas uma oportunidade de sacudirem a canga do aparelho e, sem surpresa, elas fazem-no.” Ao contrário do que às vezes se pressentiria na redes sociais, são as elites nacionais que quase destruíram estas eleições autárquicas e os movimentos locais que vão fazendo qualquer coisa para as dignificar. As maiores trapalhadas foram feitas pela Assembleia da República, as direções dos partidos, os tribunais e as chefias das redações. Enquanto isso, ao nívellocal, as pessoas fazem e aprendem a fazer democracia. Há cartazes parvos, candidatos desdentados e ideias absurdas? Há. Mas não há só isso. Há milhares de candidatos pelo país fora, nos partidos e nos movimentos de independentes, dispostos a fazer campanha para depois ter uma carga de trabalhos na Junta de Freguesia local. Isso nunca será suficientemente louvado (que um partido como o PCP, por exemplo, consiga ter candidatos em todo o país, sem ser um partido grande, é um feito logístico, mas também de convicção cívica). Apesar de estar na moda criticar as candidaturas independentes por serem “falsos independentes” (quem decide estas coisas?), o que não se entende é que, mesmo onde o independente é um ex-militante partidário, o que isso revela é muito mais as inadequações da democracia dentro dos partidos do que uma suposta hipocrisia do candidato. Não somos obrigados a endossar todos os candidatos para entender que a democracia local dá às pessoas uma oportunidade de sacudirem a canga do aparelho e, sem surpresa, elas fazem-no. Nestas eleições apoio duas candidaturas, uma por razões locais, outra por razões gerais.