Estamos, talvez pela primeira vez, perante uma geração de monárquicos já destituída de qualquer cultura monárquica. Aculturados que estão pela República, não têm já narrativa ou ritual próprios. Uma coisa é certa: para haver um escândalo em Agosto tem de ser protagonizado por esquerdistas, pobres ou minorias étnicas. Se for uma acção de meninos-bem ninguém lhes teme as razões de queixa — que não têm — nem lhes pressente mais ameaça do que a de, na altura certa, os papás lhes arranjarem os melhores empregos. E por isso o país opinativo respira fundo e declara que uma palermice não passa de uma palermice. Estamos assim livres para comentar com tranquilidade os “guerrilheiros simbólicos” que hastearam uma bandeira monárquica na Câmara de Lisboa. Por mim, dou-lhes nota alta no capítulo da “guerrilha” — subir por um escadote e filmar a cena toda — e nota medíocre no capítulo do “simbólico” — que supostamente deveria ser o ponto crucial da coisa. Vejamos: temos desde logo um desrespeito pela regra da equivalência hierárquica.