É ridícula a ideia de que um dos candidatos que foram a eleições tenha menos legitimidade do que um desconhecido escolhido às escondidas dos cidadãos — qualquer que seja o argumento utilizado. Está virada do avesso a política portuguesa. Para uma parte dos partidos que reclamam eleições antecipadas (a exceção é o PCP) nada interessa menos do que eleições antecipadas agora. Sendo assim, vão continuando a pedi-las, mas cruzando os dedos para que o desejo não se realize. Quanto ao governo, que sempre disse querer chegar ao fim do mandato, deu agora uma grande pressão a Pedro Passos Coelho e Paulo Portas para declarar uma crise política e ir a eleições numa situação que lhes permita continuar no governo. Ainda mais do que o costume, os principais atores políticos passam uma parte do tempo dizendo o contrário do que desejam.A novidade é os riscos políticos que eles estão dispostos a correr. Pedro Passos Coelho faz um ataque frontal ao Tribunal Constitucional e estimula a sua maioria parlamentar a fazer o mesmo, atropelando o princípio da separação de poderes. Como num mau filme, o programa da troika, cujo fim foi celebrado com pompa e champanhe no dia 17 de maio, ainda sobrevive: a 12ª avaliação ainda não está fechada, a última tranche não pode chegar, e o governo pretende usar esse factos para amplificar a sua crise com o Tribunal Constitucional. E por detrás de tudo isto há, é claro, a situação de indefinição no maior partido da oposição, que serve de tentação aos partidos do governo.Bem, se procuravam uma boa maneira de desacreditar o sistema político-partidário, encontraram-na. Se querem apresentar-se a eleições deixando patente aos portugueses que os seus governantes não passam de uns tipos manhosos, o caminho é este. Se tudo vale — uma guerra entre órgãos de soberania, o atropelo ao estado de direito, o descrédito dos partidos — a resposta não pode certamente ser bonita. Entretanto, em Londres e Berlim