Quanto a Portugal, que se ponha em guarda. Com uma força de trabalho com baixos níveis de formação, uma crise que nos deixou presos ao pensamento de curto-prazo e uma elite que não tem demonstrado capacidade de deliberar para o futuro, arriscamo-nos a ser atropelados pelo camião-fantasma. Se querem conhecer o futuro, sigam os camionistas. Eles são uma das categorias profissionais mais numerosas em todos os países e continentes. Em 2006 eles representavam 1,3% da força de trabalho nos Estados Unidos da América: um milhão e seiscentos mil, mais do que todos os professores de escola primária. Na União Europeia, onde a sua atividade é enquadrada por regulamento comunitário, as rotas que eles fazem são as veias e artérias da economia. Porquê os camionistas? Por causa disto: na semana passada, a fabricante de automóveis alemã Daimler mostrou um seu camião a viajar em piloto automático, e anunciou que espera estar em plena produção em série destes camiões em 2025. É certo que estes camiões ainda têm um condutor, que está ao lado do volante com um computador ou tablet, e que poderá tomar conta da condução quando necessário. Mas outras marcas já testaram automóveis inteiramente desprovidos de condutor humano. Por sua vez, a Volvo já testou camiões automáticos em pelotão: só o primeiro veículo tem condutor, e os três ou quatro a seguir seguem-no como camiões-fantasma. Não nos iludamos. Aproxima-se o dia em que uma categoria profissional inteira se tornará desnecessária. Com o tempo que demora a substituir frotas e um período normal de habituação, pode ser daqui a vinte anos, mas a maior parte das pessoas que estão a ler este artigo verão esse dia. A partir daqui, os argumentos bifurcam-se.