Comecemos pelo que sabemos relativamente bem. É muito difícil sair uma maioria absoluta das próximas eleições, e igualmente difícil formar-se uma coligação maioritária após a contagem dos votos. Há gente, em todos os partidos principais, que garante já saber exactamente o que fazer daqui a dois anos — quando o governo cair — ou o líder mudar — ou o partido fizer uma coligação — ou o presidente mandar — ou após as eleições antecipadas — e por aí fora. Espanta-me o vigor destas profecias. Não porque seja impossível qualquer destas coisas acontecer, mas porque necessitaria, cada uma delas, da conjugação perfeita de três ou quatro variáveis com a não-ocorrência de três ou quatro imprevistos. Ora uma boa profecia política não pode depender de muitas variáveis, mas de uma, ou no máximo duas, contra as quais aposte a maioria das pessoas. Com cinco partidos, vários actores secundários, uma dezena de combinações de resultados possíveis, possíveis alterações de liderança, mais conjuntura económica e alianças políticas, só será possível acertar se se apostar em tudo e mais alguma coisa.