“Se não eu, quem?”

A nossa sociedade está a ficar mais rica. Nós estamos a ficar mais pobres. E há quem ache que isto é normal. Decoremos então este nome: Antoine Deltour, francês, 28 anos. Algumas das suas palavras a um jornalista: “Há muitas pequenas e médias empresas que passam por dificuldades para poder fazer face à sua carga fiscal, e no entanto vejo que as multinacionais não contribuem com a sua parte para o esforço conjunto. Sou cidadão, pago os meus impostos como você, e gostaria que as multinacionais pagassem também a parte delas ao mesmo título que eu pago os meus impostos sobre o rendimento.” Banal, não é? Toda a gente acha o mesmo. A diferença é que Antoine Deltour arrisca agora uma pena de prisão de cinco anos e uma multa de mais de um milhão de euros por isso.

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Cavacos dos Natais passados

Minha crónica de hoje no Público: “O sono foi agitado. Pedro Passos Coelho, que ele conhecia desde rapazote, ligou-lhe (às nove da noite!) para o convidar a provar umas rabanadas lá em casa pelo Natal. “Achas que tens razões para luxos?” — disse Aníbal — “Isso está acima das nossas possibilidades.” Pedro murmurou qualquer coisa sobre a quadra. “Balelas!”, respondeu Aníbal, “mais uma palavra sobre este assunto e não te seguro como tenho feito”. A crónica completa pode ser lida em Cavacos dos Natais passados

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Ao delator desconhecido

Se a sua identidade for revelada, centenas de milhões de europeus terão a quem agradecer por ter exposto o roubo organizado dos nossos recursos, num momento em que nos dizem que teremos de perder as conquistas sociais e democráticas das últimas gerações “porque não há dinheiro. Recapitulemos. Enquanto a situação orçamental de vários países europeus, incluindo o nosso, ia ficando tão má que acabou por forçá-los a pedirem resgates, o homem que presidia a esses resgates governava um país, o Luxemburgo, que fazia acordos secretos com multinacionais para que estas pudessem pagar um imposto irrisório por transações que tinham lugar nos nossos países. Nas últimas semanas foram revelados milhares de documentos, em duas fugas diferentes, que comprovam a existência deste esquema inteiramente legal e profundamente imoral que, por si só, nos revela muito do que está errado na União Europeia de agora. Ah, mas a justiça não falha. Finalmente um juiz do Luxemburgo abriu um processo de investigação por roubo e violação de segredo comercial… contra o delator do caso. Ainda não tem nome conhecido este homem, se for de facto homem, que se pensa ser francês e ter trabalhado na PricewaterhouseCoopers, apenas uma das quatro grandes empresas de consultoria e auditoria do mundo especializadas neste tipo de serviços, e aquela de onde vinham os documentos que abriram esta nova fase do escândalo. Entretanto, o ex-primeiro ministro do Luxemburgo,

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Trancas à porta?

Minha crónica de hoje no Público: “Isto seria apenas divertido se as mesmas ideias e muitas das mesmas pessoas não se preparassem ainda assim para voltar a fazer estragos. Podem lamentar o que se passou nos últimos anos, verberar a irresponsabilidade dos banqueiros ou a pusilanimidade dos políticos, mas não se vê retirarem-se consequências.” Para ler a crónica completa, click Trancas à porta?

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A corda

Os deputados e deputadas da comissão parlamentar levaram a sério o seu trabalho, dignificaram a Assembleia da República e honraram-se a si mesmos. O país seguiu ontem as audições parlamentares aos dois primos e banqueiros do Espírito Santo — uma espécie de maratona em estafeta na qual os dois corredores se detestam. À hora a que escrevo, José Maria Ricciardi ainda responde às perguntas dos deputados, depois das mais de dez horas de interrogatório a Ricardo Salgado. Para digerir tudo isto vamos precisar de um longo relatório, um par de romances, meia dúzia de livros de não-ficção e, provavelmente acima de tudo, uma ópera. No estilo ópera do malandro. A grande família, o poder, o dinheiro, as desavenças e o fiasco final. Um tenor fará de Ricardo Salgado, fleumático, composto, envolvendo o seu discurso numa cuidadosa teia verbal. Um barítono fará de José Maria Ricciardi, sanguíneo, intempestivo, dando erros de português enquanto as suas palavras se atropelam para sair. E seria injusto não incluir o coro parlamentar.

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“Se não eu, quem?”

Minha crónica de hoje no Público: “Há 500 milhões de cidadãos na União Europeia, e mais ainda no resto do mundo, que têm razões para estar gratos a Antoine Deltour. Com um só ato, pacífico e ordeiro, ele pôs o dedo na maior das contradições da economia atual. Essa contradição exprime-se em três frases. A nossa sociedade está a ficar mais rica. Nós estamos a ficar mais pobres. E há quem ache que isto é normal.” A crónica completa está em “Se não eu, quem?”.

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Política é tempo

Como todos os políticos, Soares pode ter errado muitas vezes nas coisas pequenas. Como poucos, acertou na grande. São várias as artes de que é composta a política. Para o desenho institucional e constitucional, a arquitetura. Para encontrar as palavras, a literatura. Para a representação do poder, a cenografia. Para a oposição de ideias e temperamentos, o drama. Para mover as pessoas, o arco narrativo do cinema. Para as juntar, a arte mais profunda que é a da psicologia, a leitura das almas. A política é uma arte de artes. Ninguém domina todas elas. Mas fazer política — essa é a arte de ler o tempo. Como a música, portanto. Ler o tempo não é fácil. Para quem não o tenha de instinto, só se ganha com muita observação, mas toda a vida humana é feita de tempos, de ritmos que se cruzam. Há tempos longos, mais sinfónicos, e tempos curtos, mais metronómicos, e por cima dessa estrutura há uma total cacofonia de palavras e modas, exigência e temas, todos os dias, todas as horas, para confundir os incautos.

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Ao delator desconhecido

A minha crónica de hoje no Público: “Mas há dinheiro, muito dinheiro, por aí. Mais do que suficiente para recuperar as nossas economias e manter o essencial do estado social. E esse dinheiro é nosso, usado em transações quotidianas nos nossos países, mas em que as multinacionais têm facilidade em declarar como se tivessem sido realizadas nos países onde pouquíssimo imposto se paga, ao abrigo de acordos especiais e secretos.” Leia o texto na íntegra: Ao delator desconhecido  

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Corrupção e corrosão

É ridículo combater a evasão fiscal com carros sorteados por faturas de cabeleireiro, quando as multinacionais fogem com todo o dinheiro que entendem por cima das nossas cabeças — e mesmo as grandes empresas nacionais o fazem através da Holanda. A corrupção contribui para a corrosão, ou seja, o minar da credibilidade das instituições públicas. Mas a corrosão não se dá apenas por efeito de crimes, ou atos ilegais. Vamos voltar aqui a um dos grandes escândalos morais dos dias de hoje, emblematizado pelo caso Luxleaks. É tudo perfeitamente legal. Alguns países europeus — por acaso, entre eles aqueles que exigem austeridade aos outros para que equilibrem as contas — organizam-se com as multinacionais para, por debaixo da mesa, roubar aos outros os impostos sobre as transações que se realizam no território das vítimas. É claro, “roubar” e “vítimas” são palavras aqui usadas com certo risco: se é tudo legal, não há roubo, e se não há roubo não há vítimas. Mas então que chamar às centenas de milhares de milhões de euros que já se comprovou que saem dos nossos países em direção, pelo menos, ao Luxemburgo, para que não paguem impostos? Se há razão para minar a credibilidade da União Europeia, é esta.

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A corda

Minha crónica de hoje no Público – “E seria injusto não incluir o coro parlamentar. Polifónico, mas estudioso e bem ensaiado. Os deputados e deputadas da comissão parlamentar levaram a sério o seu trabalho, dignificaram a Assembleia da República e honraram-se a si mesmos. Ouvi taxistas atentos ao que transmitia a rádio, — “já estou faz horas nisto” —, soube de reformados que tiveram a televisão acesa todo o dia e fui seguindo jovens que foram comentando as audições nas redes sociais. Tenho a certeza que os deputados deixaram a todos eles, como a mim, a excelente impressão de que estávamos a ser representados nas nossas dúvidas e interrogações, melhor do que faríamos. Nestes tempos, é essencial registar isto, e esperar que a responsabilidade seja bem levada até ao fim do trabalho da comissão.” Click no link para ter acesso ao texto integral: A corda  

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