Longo: 25 mil carateres. A seguinte conversa teve lugar num café do norte de Chicago — o Caffe de Luca da North Damen Avenue, a pouca distância do cachorrinho da foto — a 7 de Novembro de 2008. Andrew Bird tinha já terminado o seu álbum mais recente, “Noble Beast”, e terminaria nesse dia as misturas do álbum extra instrumental “Useless Creatures”. Ainda sob a influência da vitória de Obama e da sua celebração na cidade, começámos pelas relações entre o tempo histórico, o tempo musical, e as suas influências na música de Andrew Bird. Esta é a transcrição quase total do que foi dito. Andrew Bird [AB]: “Sempre estive interessado em história. Gosto de épicos multigeracionais. Gosto de visualizar o tempo, como se estivesse dentro de um cilindro graduado, sabe? Tenho uma forma particular de… Nunca tinha pensado como isso se relaciona com a música. Mas sabe como a música por vezes tem um efeito de abrandar o tempo , tornar o tempo mais lento? Quando eu faço aqueles loops em camada que se repetem, às vezes conseguem abrandar o tempo. É uma coisa puramente musical, de tempo musical. Nas letras, a História aparece de outra maneira, porque eu tenho uma maneira de escrever que usa muitas palavras e expressões arcaicas para inseri-las nas minhas canções e criar uma espécie de coisa nova. Pegar em coisas que já deixaram de usadas, palavras que já não são novas, e torná-las no núcleo da canção. Por exemplo, Scythian Empires [do álbum Armchair Apocrypha] é uma canção muito complicada para mim, eu visualizo todo o tipo de coisas nessa canção que não estão na verdade dentro da canção. Vejo, por exemplo, uma espécie de agente de imobiliário nas estepes da Rússia, “offering views of scythian empires”, sabe, aquelas vastas extensões das estepes russas [faz o gesto de um vendedor estendendo os braços para as “vistas imaginárias das estepes russas”]. É como tentar trazer coisas do presente… é uma canção que começa muito pessimista e que depois se abre progressivamente e olha para três mil anos atrás, regressivamente, é um tipo de história irresponsável, mas mesmo assim…