Eu também sonho às vezes com uma escrita que fosse só palavras, sem convenções gráficas. Mas a escrita é toda ela convenção; e logo vejo que há sinais gráficos a menos e não a mais. Há uns anos, a revista The Economist decidiu publicar um texto só com palavras curtas, porque Winston Churchill tinha dito uma vez que as palavras curtas eram as melhores. O autor ou autores, anónimos como sempre naquela revista, pareciam orgulhosos pelo seu feito, e convencidos de que tinham produzido um escrito pragmático, sucinto, preto-no-branco, claro, concreto e totalmente isento de toda a conversa fiada. Estavam errados. O texto era ilegível, o que até a mim surpreendeu. Aquela sucessão de palavras estreitas, na matraqueação das suas quase sempre duas sílabas, era o equivalente literário do ruído da electricidade estática e fazia da folha impressa uma paisagem de cagadelas de mosca. Sem palavras compridas, difíceis ou rebuscadas, não havia nada a que o cérebro se pudesse agarrar, nada que o intrigasse ou o forçasse a perder tempo, nada que segurasse a sua atenção. O texto declaradamente mais objectivo e anti-elitista era na verdade o mais arrogante e pseudo-intelectual dos manifestos. Assim é; e assim é também com a ideia equivocada, dominante no jornalismo literário, de que um bom texto deve ser feito de frases curtas.