A resposta à primeira pergunta é muito simples: a bolsa teve uma taxa de sucesso de cem por cento. Mas — e como fazer para conseguir apoiar mais projetos? No ano passado escrevi que a resposta poderia ser a criação de uma “plataforma inter-bolsas”. Essa é a experiência para levar a cabo no próximo ano.

Há um ano e um mês, nesta coluna, expliquei que tínhamos conseguido, entre o meu contributo inicial e a crucial ajuda financeira de três amigos (Ricardo, Zé Diogo, Miguel) atribuir sete bolsas de estudo. Hoje gostaria de responder a duas perguntas que me fazem muitas vezes: como correu a coisa? que vai acontecer agora?

Há uns meses recebi uma carta de Itália. Tinha um postal do Museu dos Uffizi e um recorte do jornal L’Unità, fundado por Antonio Gramsci e antigo órgão oficial do Partido Comunista Italiano. No artigo aparecia uma foto onde estava eu, com ar encavacado, três dos quatro gatos fedorentos, e a Diana Ferreira, remetente da carta e estagiária no Museu dos Uffizi com uma das bolsas que nós inventámos. A Diana cumpriu o estágio e está agora a escrever um livro sobre monumentos e estilos artísticos.

A Isabel Duarte, bióloga, completou o seu trabalho de análise de dados com a extensão que a bolsa lhe permitiu. Publicou três artigos científicos que lhe vão servir de base à tese de doutoramento, que deve ficar pronta nos próximos meses.

O Jon Schubert, um suíço que estuda na Escócia e passou a infância em Angola, usou a bolsa para fazer um ano de trabalho de campo sobre memória e política na Angola pós-guerra civil. Vai redigir a sua tese de doutoramento no próximo ano e meio.

O Marcos Santos terminou a investigação e a escrita da sua tese de mestrado sobre theileriose bovina (não perguntem) que concluiu e defendeu com excelente nota.

O projeto do Miguel Moreira é fascinante; mais do que uma banda desenhada, uma biografia gráfica de Fernando Pessoa, uma verdadeira prova de resistência. O Miguel conta com a colaboração da Catarina Verdier, a sua colorista. Em breve, vocês verão o resultado numa livraria.

A Raquel Mesquita completou a parte teórica do seu doutoramento em ciência política (sobre as candidaturas independentes nos sistemas eleitorais dos 27 países da UE) e defendeu com excelente nota o seu projeto de tese, que passará a redigir nos próximos meses.

A Tânia Madureira é antropóloga e foi a primeira a partir, para um trabalho de campo em Trás di Munti, na ilha cabo-verdiana de Santiago. Veio de lá carregada de imagens e gravações que entretanto transcreveu, e encontra-se a redigir a sua tese de mestrado.

A resposta à primeira pergunta é muito simples: a bolsa teve uma taxa de sucesso de cem por cento. Todos os bolseiros fizeram o que tinham prometido, e concluíram ou deram continuidade aos seus projetos tal como tinham descrito nas suas candidaturas; mantiveram-se sempre em contacto, documentaram os seus avanços, escreveram relatórios atempados. Isto prova que a experiência funciona. É possível criar, quase artesanalmente, uma bolsa não-institucional, direta e flexível.

Mas — e como fazer para conseguir apoiar mais projetos, em vez de apenas sete? No ano passado escrevi que a resposta poderia ser a criação de uma “plataforma inter-bolsas”. Essa é a experiência para levar a cabo no próximo ano, e cujas peças serão: um concurso de ideias, a partir de um caderno com dezenas de questões em quatro áreas diferentes (jurídica, técnica, criativa e comunitária), com uma bolsa de 30 mil euros para a equipa, de entre quatro a seis elementos, que melhor responder a essas perguntas para depois desenvolver o conceito e implementar a plataforma. Os pormenores serão divulgados daqui a um mês.

9 thoughts to “Bolsas 2.0

  • Theileria annulata Anaplasma marginale

    Pois o doutoramento em gatos fedorentos é tão importante como em cientologia política ou em Anacardium officinalis de corrida
    pode ser que o clima mude e zoonoses tropicais que já tiveram centros de estudo em Portucale deixem de necessitar desvios para Itália
    agora estágios sejam Erasmus ou Emigrantis dão novas perspectivas
    ou reforçam as antigas de que os universitários e os papers são em todo o mundo a mesma treta e que há muito encher de chouriços nas Universidades Dependentes deste mundo

    agora a partir de um caderno com dezenas de questões em quatro áreas diferentes (jurídica, técnica, criativa e comunitária), com uma bolsa de 30 mil euros para a equipa, de entre quatro a seis elementos, que melhor responder a essas perguntas

    é de certo modo a burrocracia a con curso

    provavelmente era melhor fazer um con curso televisivo

    além da bolsa passar a 100 mil eurros
    Podia chamar-se à PROCURA DO MANDARIM perdido

    ou do MAndarim Bébé..ou Anão ou Anona
    tenho de pensar melhor na título do con curso (bolto Já)

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Como sempre muito oportuno.

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Felicitações Rui Tavares por esta Sua excelente inicitiva, se todos os Eurodeputados e os Internodeputados, fizessem qualquer “coisa” de semelhante, talvez fosse uma mudança não só solidária, como democratica!

    Força, continue, a ver se alguém, algum, alguma tem capacidade, coragem de o imitar…duvido.

    MAS FICA O SEU EXCELENTE TRABALHO. E EXEMPLO.

    augusto küttner de magalhães

  • Theileria annulata Anaplasma marginale

    essa dos 100% de sucesso parece um gajo professor unibersitário que dizia dos nossos licenciados 110% encontram trabalho

    mas não há ali um a arrumar carros?

    mais vale licenciados a arrumar carros do que gente sem educação….
    tá provado mais vale uma bolsa que a vida…

    a vida pode não servir para nada
    a bolsa serve sempre

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Felicito-o, sinceramente, Caro Rui Tavares, pela Sua positiva diferença.

  • J. Saro

    Excelente trabalho! Parabéns ao Rui pela ideia e execução do projecto, bem como a quem ajudou e participou na mesma.

  • Ricardo

    Parabéns aos quatro patrocinadores, mas acima de tudo uma palavra de encorajamento aos sete bolseiros.

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Parabens, aos envolvidos.

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Que sirva de exemplo a muitos outros!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Leave a comment

Skip to content