Justiça económica

  RT   A análise de padrões de comércio e de localização da actividade económica tem certamente muito que se lhe diga do ponto de vista técnico, desde que não seja eu a dizê-lo. Mas do ponto de vista do debate público é certamente de louvar que Paul Krugman, o homem que escreveu isto enquanto era tempo… How bad will that aftermath be? The U.S. economy is currently suffering from twin imbalances. On one side, domestic spending is swollen by the housing bubble, which has led both to a huge surge in construction and to high consumer spending, as people extract equity from their homes. On the other side, we have a huge trade deficit, which we cover by selling bonds to foreigners. As I like to say, these days Americans make a living by selling each other houses, paid for with money borrowed from China. Paul Krugman, Greenspan and the Bubble, Agosto 2005. …tenha ganho o Prémio Nobel da Economia 2008.

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Agora me contas

LR do Blasfémias escreve o seguinte: «O mundo está literalmente a implodir, mas o Público considera mais importante dedicar a capa e mais 10 (dez!!!) páginas ao casamento entre a maricagem gay.» É preciso chegar o casamento gay para os liberais do Blasfémias acharem subitamente que afinal o mundo está a implodir. Mas a crise financeira não era natural, ao contrário do casamento gay entre a maricagem?

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O nosso tiranete em Bruxelas

Durão Barroso apresentou a sua ida para a presidência da Comissão Europeia como uma honra de Portugal — e até chegou a sugerir que isso compensava a posição que o seu governo teve durante a Guerra do Iraque. Convinha então, para não desonrar o nosso país, que nos desse o prazer patriótico de se ser o líder de que a Europa precisa. Mas Durão nunca o conseguiu ser e muito menos está a conseguir ser esse líder agora, quando a Europa está numa crise profunda. Mas há mais: não só Durão Barroso é uma exportação de incompetência, como parece que perde o seu tempo em guerrinhas vingativas contra jornalistas. O jornalista Jean Quatremer, do Liberation, perdeu a paciência e descreve aqui como tem sido a sua relação com o gabinete de Durão Barroso nos últimos quatro anos. Em poucas palavras, Quatremer (um dos melhores jornalistas de temas europeus e autor de um dos blogues políticos mais lidos em língua francesa) escreveu um artigo que desagradou a Durão Barroso, e foi metido numa informal mas eficaz lista negra de jornalistas indesejáveis. Mas vale a pena ler a história completa. A mesquinhez de Durão não surpreende, mas envergonha que se tenha internacionalizado. Um excerto: «Ce boycott peut aller très loin. Le 8 février dernier, Barroso a donné une conférence de presse publique, où étaient présents une vingtaine de journalistes, pour féliciter la France d’avoir ratifié le traité de Lisbonne. La porte-parole adjointe, Leonor Ribeiro da Silva, une Portugaise qu’il a amenée avec lui de Lisbonne, est chargée de donner la parole. Je suis au premier rang et lève immédiatement la main. Systématiquement, elle m’ignore – je suis devant elle — et désigne des journalistes slovène, tchèque, polonais, britannique, etc., évidemment plus impliqués qu’un journaliste français. Il a fallu que je hurle : « est-il normal que l’on me refuse la parole ? » pour que Barroso, gêné, m’autorise enfin à poser ma question… […] S’il faut s’abstenir de le critiquer trop durement pour avoir droit à l’information, c’est la liberté qui est menacée. Car le message envoyé à l’ensemble de mes confrères est le suivant : déplaisez, et vous risquez de ne plus avoir accès au souverain. Donc, attention à ce que vous écrivez. Barroso n’a manifestement pas oublié les pratiques de sa famille idéologique de jeunesse, les Maoïstes… En 22 ans de métier, j’ai écrit de nombreux papiers qui ont déplu. Mais jamais je n’ai été confronté à un tel « blacklistage ».»

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A lição do dia

Sendo adultos e solteiros, quem não pode casar em Portugal?   Pessoas em coma, com deficiência mental profunda — e homossexuais. Os homossexuais já não são considerados criminosos nem doentes mentais. Podem ser ministros, primeiro-ministros, presidentes e chefes de empresas, decidir da vida de milhares de pessoas. Mas não podem tomar uma decisão sobre a sua própria vida. Não podem casar.   Quem votou para mudar isto? PCP, BE, Os Verdes, Manuel Alegre (que desobedeceu ao seu partido), Paulo Pereira Coelho do PSD (a quem fora permitida a liberdade de voto) e Pedro Nuno Santos da JS (em liberdade condicional).   O resto é conversa: não me atirem poeira para os olhos com declarações de votos e defesas “intransigentes” dos direitos dos cidadãos.

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Só para avisar…

…antes que o post desapareça para os arquivos, está em curso uma discussão interessante nos comentários ali em baixo em “Um amor como o nosso”. Mete tecnologia, o fim do mundo, malthusianismo, e mais opiniões dos comentadores João Vasco, Lidador, Miguel Madeira, Jaime Taveira, entre outros.

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Mais “novo progressismo” e uma campanha pouco séria

As ideias, mesmo as mais elementares, têm consequências. Em política, sobretudo as mais elementares têm consequências, pela facilidade com que se convertem em narrativas e se cristalizam no espaço público. As ideias dominantes dos últimas trinta anos têm sido estas: o mercado tende “naturalmente” para o equilíbro, o sector privado é sempre mais eficiente do que o público, a concorrência produz transparência, o governo só serve para atrapalhar, a prosperidade “pinga” do alto se diminuirmos os impostos aos mais ricos, etc. Todas, sem excepção, nos eram dadas como evidentes. Todas, sem excepção, estão hoje em dúvida, seja quando empresas privadas coleccionam (e perdem) dados privados de milhões de indivíduos, seja quando o estado gasta no salvamento de grandes bancos o dinheiro que não havia para a comunidade. Em momentos assim, mudam as marés. Com as marés mudam as ideias e as histórias que as acompanham. Em plena Grande Depressão, Franklin Delano Roosevelt fez em 1932 o seu discurso do “Homem Esquecido”, que partia de uma ideia simples. Era também uma história: a desgraça de Napoleão, dizia ele, foi preocupar-se apenas com a cavalaria, que dava mais rendimento, e desprezar a infantaria — os homens comuns que o seguiam a pé e que eram, no fundo, o seu exército. Muita gente vai dizer coisas destas nos próximos tempos. A semana passada, Obama disse que a economia não se resumia às empresas da Fortune 500 (a cavalaria) mas que era o conjunto de todas as casas e todas as pessoas comuns (a infantaria). Um dos espectadores chamados ao palco, um desempregado de sessenta anos chamado Barney Smith, disse “preciso de um governo que ponha o Barney Smith à frente do Smith Barney”. O “Smith Barney” é um grande banco de investimentos: foi o maior aplauso da noite.

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O que é o “novo progressismo”

Vocês decidam-se, pá. Ou Obama é um político de plástico, ou Obama é demasiado radical. Ou Obama não quer saber da Europa, como diz Vasco Pulido Valtente, ou Obama cometeu um crime de lesa-pátria ao discursar para 200 mil pessoas em Berlim, como diz a direita americana. Ou Obama é um risco demasiado grande num mundo perigoso, ou não há risco, porque nenhum presidente consegue mudar a política internacional dos EUA (e como se explica Bush?). Ou Obama é um intervencionista ou um isolacionista (nenhuma das duas: em política internacional parece ser mais institucionalista e multilateralista do que é comum nos EUA). Ou o pessoal vota em Obama só por ser negro, ou por ele ser um intelectual com ideias a mais. Ou a esquerda europeia é cega no seu antiamericanismo, ou a esquerda europeia está cega na sua paixão por Obama. Não pode ser tudo verdade ao mesmo tempo. Mas provavelmente a explicação para as contradições está nisto mesmo: a preocupação não é com o que está a acontecer, mas em reagir à reacção da esquerda europeia. É uma lástima, porque o que está a acontecer é mais interessante. Obama é mais do que um candidato histórico por ser negro. O que ele fez na semana passada foi propor a reinvenção de uma tradição política: a do progressismo americano.

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Gosto deste “debate”

A direita comentadeira, em particular a portuguesa, é muito curiosa. Aqui há um ano, quando António Costa e José Sá Fernandes formaram uma aliança na Câmara de Lisboa, houve um sobressalto geral contra a proposta de introduzir uma cota para habitação a custos controlados. Denunciou-se que era uma ideia “cubana”, apesar de estar em prática de Nova Iorque a Amsterdão, por infringir o direito sagrado dos promotores imobiliários colocarem cem por cento das suas casas no centro da capital a preços irrealistas, contribuindo para que Lisboa se torne numa espécie de ovo com a gema esburacada. Passado um ano, descobre-se que essa medida seria talvez a melhor forma de evitar problemas como o da Quinta da Fonte. Em vez de continuar a fazer bairros sociais como depósitos de pobres, deve alojar-se por unidade familiar em bairros comuns, com rendas ou prestações apropriadas aos rendimentos. Sabe-se que a criminalidade e a violência são maioritariamente praticadas por homens jovens e adultos, entre os 18 e os 30 anos, e tanto mais quando concentrada localmente. Pois bem: uma família com filhos menores num bairro comum, frequentando uma escola comum (e com esta regra muito clara: só deve receber benefícios do Estado quem mantiver os filhos na escola até ao fim) e participando na vida desse bairro, é uma família que está mais afastada da criminalidade quando os filhos crescerem.

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