O estilo apocalíptico na direita portuguesa [texto integral]

|Do arquivo Público 06.09.2017| No fim do seu discurso aos jovens sociais-democratas, Cavaco Silva deixou um recado que não está a merecer a devida atenção. Disse ele:  “De vós jovens eu espero que não vos falte a força e a coragem para combaterem o regresso da censura. Se tiverem oportunidade não deixem de ler um artigo excelente, muito bem escrito, de Maria João Avillez, publicado na passada segunda-feira. E fico por aqui. Não vos quero maçar mais.” Estranhei. Como remate de discurso, é das coisas mais bizarras que já me foi dada ouvir. Mas depois fui ler o artigo de Maria JoãoAvillez recomendado por Cavaco Silva (trata-se de “O meu mundo não é deste reino”, no Observador de 28 de agosto). Aconselho a sua leitura a toda a gente. Trata-se igualmente de um texto alusivo. A autora começa por descrever uma ameaça, que lá por ser vaga não deixa de ser menos assustadora: “Vigiam-nos. Estão atentos. Estão de serviço. Mobilizados pelo pensamento único, uma nova forma de vida. Nunca se cansam.” De pelos eriçados, em vão nos perguntamos: quem?

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Que ganhamos em ignorar Macron?

Que ganhamos em ignorar Macron? – A minha crónica de hoje no Público. “Sendo assim, quem saberá que ontem passaram a ser propostas oficiais da França as ideias que passo a listar? Criação de um imposto sobre o carbono emitido na UE e de uma taxa sobre o carbono nas importações para financiar a transição ecológica; apoio à taxa para sobre as transações financeiras para capitalizar a ajuda ao desenvolvimento e as políticas de integração de refugiados; criação de uma força europeia de proteção civil contra as catástrofes naturais; aprovação de uma doutrina europeia de defesa; harmonização dos impostos sobre os lucros das empresas; estabelecimento de regras para um salário mínimo europeu, adaptado à realidade nacional; criar uma agência europeia do digital e tributação dos gigantes da internet; eleições europeias com um segundo boletim de voto para listas pan-europeias de candidatos (no lugar dos 73 eurodeputados britânicos que saem). E poderíamos continuar. Haverá aqui propostas boas, más, excelentes e péssimas. Ideias vagas ou impossíveis de concretizar. O que não pode haver é pretextos para ignorar que estas propostas estão agora em cima da mesa e que devem ser discutidas, apoiadas umas, combatidas outras.”

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Alemanha, a Jamaica da Europa

Hoje no Público: “Alemanha, a Jamaica da Europa“. “A pior coisa que os restantes governos da UE podem fazer é tratar o drama político alemão como se fosse o seu próprio. Entramos em dois anos decisivos para o euro, até à saída de Mario Draghi do BCE, em 2019. É expectável, e até legítimo, que a Alemanha não queira pagar pelos outros países. Mas já não será legítimo que a Alemanha bloqueie a única outra possibilidade para assegurar a estabilidade do euro e garantir o futuro da UE: um orçamento europeu de coesão, reforçado a partir de recursos próprios da União, por exemplo oriundos da taxação das multinacionais. É essa proposta que os países do Sul devem pôr em cima da mesa, conjuntamente com a França, ultrapassando de vez a descoordenação e o vazio de ideias de que padeceram no passado.”

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Uma CETA no coração da democracia

“Em Portugal, o debate parlamentar sobre o CETA foi adiado e depois antecipado, e acabou a realizar-se em apenas uma sessão, na segunda passada. Após esta discussão sumária, é de prever que a aprovação do acordo seja igualmente desenvolta, com os votos do PS a serem suplementados por um PSD e um CDS agora esquecidos do seu papel de desmancha-geringonças, e do outro lado o BE e o PCP a apresentarem propostas de rejeição do CETA que sabem derrotadas à partida. Perante um dos acordos comerciais mais importantes dos últimos anos, estamos limitados à rotina. Teria de ser assim? Não. Compare-se isto com o que se passou no ano passado no parlamento regional da Valónia, umas das regiões da Bélgica. Tal como descrevi então nestas páginas, o acordo com o Canadá foi profundamente discutido pelo parlamento da Valónia durante vários dias. O governo belga foi forçado a procurar garantias e proteções de aplicação junto das instituições europeias e do governo canadiano. E o estado belga acabou a apresentar um processo contra algumas das disposições do CETA no Tribunal de Justiça da UE.” Leia a crónica completa aqui.

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O último dia normal de Jan Karski [texto integral]

|Do arquivo Público 25.08.2017|O último dia normal da vida de Jan Karski foi um dia como este. Pelo calendário, teria calhado anteontem: 23 de agosto. Só que o ano era 1939, e a cidade Varsóvia. Jan tinha 25 anos e era amigo de um português — filho do embaixador de Portugal na Polónia, César de Sousa Mendes, e portanto sobrinho de Aristides de Sousa Mendes — que o convidara a ir a um baile da embaixada do seu país. Jan ficou encantado com uma das filhas do embaixador. Ao chegar a casa nessa noite, um dos seus planos para a semana seguinte seria levar a jovem portuguesa a almoçar com um grupo de amigos.  De madrugada, Jan Karski foi acordado por um destacamento do Exército polaco. Foi-lhe anunciado que a invasão alemã estava iminente e que ele faria parte de uma mobilização secreta, a única autorizada pelos aliados franceses e ingleses (uma mobilização geral seria “provocatória” para Hitler). Jan Karski foi enviado para uma cidadezinha agradável que frequentara em anos felizes — Oswiecim — mais tarde conhecida pelo seu nome em alemão: Auschwitz. A resistência polaca em Oswiecim durou pouco; Karski e os seus camaradas de armas foram forçados a retirar para o leste da Polónia. Quando chegaram, descobriram que essa metade do país seria anexada pelas tropas de Estaline (o protocolo secreto do Acordo Molotov-Ribbentrop, através do qual Hitler e Estaline partilharam entre si a Polónia, fora assinado em Moscovo na mesma noite em que Karski bailara e namoriscara na embaixada portuguesa em Varsóvia).

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A questão catalã é para levar a sério

A questão catalã é para levar a sério – a minha crónica de hoje no Público. “Pois bem, acordemos para a realidade: a questão da independência da Catalunha é para levar muito a sério. Independentemente (passe o trocadilho) de haver ou não referendo no próximo dia 1 de outubro. Independentemente de, caso haja referendo, o governo espanhol pretender inabilitar os governantes catalães para o exercício de cargos públicos. Engana-se quem pensar que essa é uma ameaça para a qual os líderes catalães não estejam preparados e cujas consequências não estejam dispostos a aceitar. Engana-se ainda mais quem pensar que, por detrás desta geração de dirigentes catalães, não há uma outra capaz de suceder-lhe e ainda mais firme na defesa do que acreditam ser o seu direito a decidir.”

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A Europa há 75 anos: parece que foi ontem

“O ano de 1941 foi o último em que Hitler esteve a ganhar a guerra; 1942 foi o primeiro em que a guerra esteve perdida para a Alemanha nazi. Essa viragem fez com que “solução final” deixasse de ser um eufemismo e passasse a ser, no tempo que restasse de guerra, um objetivo com método e consequências concretas: deportação para campos de extermínio em vez de campos de concentração; execução a tiro em vez de trabalhos forçados e morte por fome; em breve, gaseamento de milhões deseres humanos. A decisão final sobre a “solução final” terá sido tomada entre o Natal de 1941 e o final de janeiro de 1942. Houve milhões de mortos antes dela; houve milhões de mortos depois. Mas algo mudou entre 1941 e 1942: todos os pretextos territoriais, ideológicos e geopolíticos com que os nazis justificavam a guerra revelaram o seu total vazio e em lugar deles ficou apenas o impulso genocida.” A crónica de hoje no Público, sobre a solução final, as terras sangrentas da Europa (a partir do livro de Timothy Snyder com o mesmo título) e uma ordem para o extermínio dos combatentes antifascistas da Bielorússia dada por Hitler num dia como hoje, 18 de agosto de 1942. Foi há setenta e cinco anos. Parece que foi ontem.

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Explicar o neo-passismo

A crónica de hoje no Público é sobre o revelador discurso do Pedro Passos Coelho na festa de verão do PSD. “Numa terceira explicação, talvez seja apenas a reação perante um diabo que era esperado e que afinal não veio. Se assim for, devemos ter medo, muito medo. Por cada ponto a mais de crescimento económico que tivermos no país lá teremos nós de assistir a uma nova uma guinada de Passos Coelho para o território ideológico da extrema-direita.”

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Brasil: o galinheiro é das raposas [texto integral]

 |Do arquivo Público 04.08.2017| Há um verso do hino brasileiro que chama ao país “impávido colosso” — uma boa descrição do país nos dias de hoje. Já não estou tão certo sobre o verso seguinte, que diz: “e o teu futuro espelha essa grandeza”. Impávido colosso, sim, que impotente viu 263 deputados votarem para impedir a investigação das denúncias de corrupção contra Michel Temer (seriam necessários 342 votos para que o presidente pudesse ser julgado no Supremo Tribunal; só houve 227 votos a favor da investigação das denúncias). A comparação entre este voto e aquele de que há uns meses foi alvo Dilma é mais do que instrutiva. Os deputados que então votaram contra a presidente em nome da família, do cachorro e “do evangelho quadrangular” limitaram-se agora, com Michel Temer, a fazer uma muralha sem moral em torno de um presidente gravado a discutir entregas de subornos para manter os seus aliados calados.

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Povos promíscuos

“Contrabando de produtos, contrabando de pessoas. Durante a Guerra Civil de Espanha, estas aldeias raianas receberam republicanos espanhóis refugiados ao franquismo, e por ali os deixaram ficar. Após a IIª Guerra Mundial, quando estes refugiados começaram a fazer planos (e a comprar armas) para restabelecer a democracia espanhola, as ditaduras ibéricas juntaram as forças e decidiram acabar com eles. Numa operação conjunta da Guardia Civil espanhola, da PIDE e da GNR, foi montado um cerco à aldeia do Cambedo para apanhar anti-fascistas. Num par de dias antes do Natal de 1946, os habitantes da aldeia ficaram sob fogo cruzado e não entregaram os republicanos. Foram chamados reforços militares. A aldeia foi bombardeada com fogo de morteiro. Houve mortos de ambos os lados, dos republicanos só sobrou um, e quando a resistência do Cambedo foi vencida, homens e mulheres que ganhavam o sustento para as suas famílias foram presos pela PIDE. Quando finalmente puderam regressar, meses ou anos depois, decidiram calar a história daquilo a que chamavam “A Guerra do Cambedo”.” Leia o resto da crónica no Público de hoje – Povos promíscuos.

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