Há duas olimpíadas, Portugal não estava a ganhar muitas medalhas e o pessoal, zangado, descarregou num dos nossos melhores atletas por ele ter dito… a verdade: que de manhã as suas pernas não funcionavam bem e que a experiência dos Jogos Olímpicos era fantástica mesmo só pela participação. Não sei se se lembram, mas a indignação foi tanta que o puseram de volta para casa com um bilhete comprado expressamente para o efeito. Essa foi a crónica que então escrevi, e uma das minhas de que mais gosto. Para mim, Marco Fortes é até hoje o símbolo do espírito olímpico injustiçado. *** Oh meu Zeus, meu Zeus, vejam como estou indignado. Estou indignado, indignadíssimo!, com Marco Fortes, atleta português do lançamento do peso. Ao comentar o seu fraco desempenho nos Jogos Olímpicos, Marco Fortes reconheceu que o seu corpo não responde tão bem de manhã: “De manhã é para estar na caminha – eu queria esticar as pernas mas elas só queriam estar na caminha.” Que é isto?! Em toda a minha vida, só ouvi um português dizer que “de manhã não funciono”: Sousa Franco. E foi preciso ter sido ministro das Finanças duas vezes, presidente do Tribunal de Contas – um homem sério, portanto -, para poder afrontar esse tabu. Mas Marco Fortes fez pior: