Ideias em tempo de crise

A esquerda e o centro-esquerda estão mais próximos agora do que alguma vez estiveram nas últimas décadas. Já estou habituado a nunca ter lido nada do prémio Nobel da literatura quando ele é anunciado. Invulgar é ter lido neste Verão o último livro do nobel da Economia. The conscience of a liberal, de Paul Krugman (em português uma tradução seria “Uma consciência de esquerda”) é um ensaio sobre história política e as suas consequências económicas e sociais. A certa altura do seu livro, Krugman convida-nos a levar a sério algumas das políticas que F.D. Roosevelt seguiu para fazer face à Grande Depressão: “enormes aumentos de impostos sobre os ricos, apoio a uma vasta expansão do poder dos sindicatos e um período de controlo dos salários para diminuir as diferenças entre extremos”, entre outras. Não duvido que para um leitor de direita esta seja uma visão do inferno. Para Krugman, aquelas medidas “igualitárias” foram as grandes responsáveis por uma sociedade preparada para crescer e dar conforto a milhões de pessoas nos anos 50 e 60. O reverso da história é também conhecido.

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É preciso ter lata

Jamais se poderá abolir a ganância. Podemos no máximo taxá-la com um imposto fortemente progressivo. Não tenho qualquer razão para defender os executivos, mas não — a culpa da crise não está na “ganância dos executivos”. Os executivos não são mais gananciosos do que qualquer outra pessoa em circunstâncias semelhantes. As suas empresas agem no interior de um sistema legal. Quem fez as leis ou — mais exactamente — quem revogou as leis que nos protegiam? Políticos. Quem elegeu os políticos? Nós. Quem convenceu a maioria dos eleitores de que regular o mercado era indesejável? Os mesmos que agora querem pôr as culpas na “ganância dos executivos”. Por sinal, os mesmos que durante anos proclamaram (por outras palavras) que a “ganância dos executivos” iria resultar na prosperidade de todos. Já ouviram algum deles dizer “andei nos últimos anos a defender ideias que agora se revelaram desastrosas”? Bem me parecia.

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Prémio Nobel do humor discreto

An interesting morning A funny thing happened to me this morning … No blogue de Paul Krugman. Digam lá que o gajo não tem classe a receber o maior prémio da sua carreira.

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Justiça económica

  RT   A análise de padrões de comércio e de localização da actividade económica tem certamente muito que se lhe diga do ponto de vista técnico, desde que não seja eu a dizê-lo. Mas do ponto de vista do debate público é certamente de louvar que Paul Krugman, o homem que escreveu isto enquanto era tempo… How bad will that aftermath be? The U.S. economy is currently suffering from twin imbalances. On one side, domestic spending is swollen by the housing bubble, which has led both to a huge surge in construction and to high consumer spending, as people extract equity from their homes. On the other side, we have a huge trade deficit, which we cover by selling bonds to foreigners. As I like to say, these days Americans make a living by selling each other houses, paid for with money borrowed from China. Paul Krugman, Greenspan and the Bubble, Agosto 2005. …tenha ganho o Prémio Nobel da Economia 2008.

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Agora me contas

LR do Blasfémias escreve o seguinte: «O mundo está literalmente a implodir, mas o Público considera mais importante dedicar a capa e mais 10 (dez!!!) páginas ao casamento entre a maricagem gay.» É preciso chegar o casamento gay para os liberais do Blasfémias acharem subitamente que afinal o mundo está a implodir. Mas a crise financeira não era natural, ao contrário do casamento gay entre a maricagem?

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O nosso tiranete em Bruxelas

Durão Barroso apresentou a sua ida para a presidência da Comissão Europeia como uma honra de Portugal — e até chegou a sugerir que isso compensava a posição que o seu governo teve durante a Guerra do Iraque. Convinha então, para não desonrar o nosso país, que nos desse o prazer patriótico de se ser o líder de que a Europa precisa. Mas Durão nunca o conseguiu ser e muito menos está a conseguir ser esse líder agora, quando a Europa está numa crise profunda. Mas há mais: não só Durão Barroso é uma exportação de incompetência, como parece que perde o seu tempo em guerrinhas vingativas contra jornalistas. O jornalista Jean Quatremer, do Liberation, perdeu a paciência e descreve aqui como tem sido a sua relação com o gabinete de Durão Barroso nos últimos quatro anos. Em poucas palavras, Quatremer (um dos melhores jornalistas de temas europeus e autor de um dos blogues políticos mais lidos em língua francesa) escreveu um artigo que desagradou a Durão Barroso, e foi metido numa informal mas eficaz lista negra de jornalistas indesejáveis. Mas vale a pena ler a história completa. A mesquinhez de Durão não surpreende, mas envergonha que se tenha internacionalizado. Um excerto: «Ce boycott peut aller très loin. Le 8 février dernier, Barroso a donné une conférence de presse publique, où étaient présents une vingtaine de journalistes, pour féliciter la France d’avoir ratifié le traité de Lisbonne. La porte-parole adjointe, Leonor Ribeiro da Silva, une Portugaise qu’il a amenée avec lui de Lisbonne, est chargée de donner la parole. Je suis au premier rang et lève immédiatement la main. Systématiquement, elle m’ignore – je suis devant elle — et désigne des journalistes slovène, tchèque, polonais, britannique, etc., évidemment plus impliqués qu’un journaliste français. Il a fallu que je hurle : « est-il normal que l’on me refuse la parole ? » pour que Barroso, gêné, m’autorise enfin à poser ma question… […] S’il faut s’abstenir de le critiquer trop durement pour avoir droit à l’information, c’est la liberté qui est menacée. Car le message envoyé à l’ensemble de mes confrères est le suivant : déplaisez, et vous risquez de ne plus avoir accès au souverain. Donc, attention à ce que vous écrivez. Barroso n’a manifestement pas oublié les pratiques de sa famille idéologique de jeunesse, les Maoïstes… En 22 ans de métier, j’ai écrit de nombreux papiers qui ont déplu. Mais jamais je n’ai été confronté à un tel « blacklistage ».»

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A lição do dia

Sendo adultos e solteiros, quem não pode casar em Portugal?   Pessoas em coma, com deficiência mental profunda — e homossexuais. Os homossexuais já não são considerados criminosos nem doentes mentais. Podem ser ministros, primeiro-ministros, presidentes e chefes de empresas, decidir da vida de milhares de pessoas. Mas não podem tomar uma decisão sobre a sua própria vida. Não podem casar.   Quem votou para mudar isto? PCP, BE, Os Verdes, Manuel Alegre (que desobedeceu ao seu partido), Paulo Pereira Coelho do PSD (a quem fora permitida a liberdade de voto) e Pedro Nuno Santos da JS (em liberdade condicional).   O resto é conversa: não me atirem poeira para os olhos com declarações de votos e defesas “intransigentes” dos direitos dos cidadãos.

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Só para avisar…

…antes que o post desapareça para os arquivos, está em curso uma discussão interessante nos comentários ali em baixo em “Um amor como o nosso”. Mete tecnologia, o fim do mundo, malthusianismo, e mais opiniões dos comentadores João Vasco, Lidador, Miguel Madeira, Jaime Taveira, entre outros.

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