Alemanha, a Jamaica da Europa

Hoje no Público: “Alemanha, a Jamaica da Europa“. “A pior coisa que os restantes governos da UE podem fazer é tratar o drama político alemão como se fosse o seu próprio. Entramos em dois anos decisivos para o euro, até à saída de Mario Draghi do BCE, em 2019. É expectável, e até legítimo, que a Alemanha não queira pagar pelos outros países. Mas já não será legítimo que a Alemanha bloqueie a única outra possibilidade para assegurar a estabilidade do euro e garantir o futuro da UE: um orçamento europeu de coesão, reforçado a partir de recursos próprios da União, por exemplo oriundos da taxação das multinacionais. É essa proposta que os países do Sul devem pôr em cima da mesa, conjuntamente com a França, ultrapassando de vez a descoordenação e o vazio de ideias de que padeceram no passado.”

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Uma CETA no coração da democracia

“Em Portugal, o debate parlamentar sobre o CETA foi adiado e depois antecipado, e acabou a realizar-se em apenas uma sessão, na segunda passada. Após esta discussão sumária, é de prever que a aprovação do acordo seja igualmente desenvolta, com os votos do PS a serem suplementados por um PSD e um CDS agora esquecidos do seu papel de desmancha-geringonças, e do outro lado o BE e o PCP a apresentarem propostas de rejeição do CETA que sabem derrotadas à partida. Perante um dos acordos comerciais mais importantes dos últimos anos, estamos limitados à rotina. Teria de ser assim? Não. Compare-se isto com o que se passou no ano passado no parlamento regional da Valónia, umas das regiões da Bélgica. Tal como descrevi então nestas páginas, o acordo com o Canadá foi profundamente discutido pelo parlamento da Valónia durante vários dias. O governo belga foi forçado a procurar garantias e proteções de aplicação junto das instituições europeias e do governo canadiano. E o estado belga acabou a apresentar um processo contra algumas das disposições do CETA no Tribunal de Justiça da UE.” Leia a crónica completa aqui.

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O último dia normal de Jan Karski [texto integral]

|Do arquivo Público 25.08.2017|O último dia normal da vida de Jan Karski foi um dia como este. Pelo calendário, teria calhado anteontem: 23 de agosto. Só que o ano era 1939, e a cidade Varsóvia. Jan tinha 25 anos e era amigo de um português — filho do embaixador de Portugal na Polónia, César de Sousa Mendes, e portanto sobrinho de Aristides de Sousa Mendes — que o convidara a ir a um baile da embaixada do seu país. Jan ficou encantado com uma das filhas do embaixador. Ao chegar a casa nessa noite, um dos seus planos para a semana seguinte seria levar a jovem portuguesa a almoçar com um grupo de amigos.  De madrugada, Jan Karski foi acordado por um destacamento do Exército polaco. Foi-lhe anunciado que a invasão alemã estava iminente e que ele faria parte de uma mobilização secreta, a única autorizada pelos aliados franceses e ingleses (uma mobilização geral seria “provocatória” para Hitler). Jan Karski foi enviado para uma cidadezinha agradável que frequentara em anos felizes — Oswiecim — mais tarde conhecida pelo seu nome em alemão: Auschwitz. A resistência polaca em Oswiecim durou pouco; Karski e os seus camaradas de armas foram forçados a retirar para o leste da Polónia. Quando chegaram, descobriram que essa metade do país seria anexada pelas tropas de Estaline (o protocolo secreto do Acordo Molotov-Ribbentrop, através do qual Hitler e Estaline partilharam entre si a Polónia, fora assinado em Moscovo na mesma noite em que Karski bailara e namoriscara na embaixada portuguesa em Varsóvia).

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A questão catalã é para levar a sério

A questão catalã é para levar a sério – a minha crónica de hoje no Público. “Pois bem, acordemos para a realidade: a questão da independência da Catalunha é para levar muito a sério. Independentemente (passe o trocadilho) de haver ou não referendo no próximo dia 1 de outubro. Independentemente de, caso haja referendo, o governo espanhol pretender inabilitar os governantes catalães para o exercício de cargos públicos. Engana-se quem pensar que essa é uma ameaça para a qual os líderes catalães não estejam preparados e cujas consequências não estejam dispostos a aceitar. Engana-se ainda mais quem pensar que, por detrás desta geração de dirigentes catalães, não há uma outra capaz de suceder-lhe e ainda mais firme na defesa do que acreditam ser o seu direito a decidir.”

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A Europa há 75 anos: parece que foi ontem

“O ano de 1941 foi o último em que Hitler esteve a ganhar a guerra; 1942 foi o primeiro em que a guerra esteve perdida para a Alemanha nazi. Essa viragem fez com que “solução final” deixasse de ser um eufemismo e passasse a ser, no tempo que restasse de guerra, um objetivo com método e consequências concretas: deportação para campos de extermínio em vez de campos de concentração; execução a tiro em vez de trabalhos forçados e morte por fome; em breve, gaseamento de milhões deseres humanos. A decisão final sobre a “solução final” terá sido tomada entre o Natal de 1941 e o final de janeiro de 1942. Houve milhões de mortos antes dela; houve milhões de mortos depois. Mas algo mudou entre 1941 e 1942: todos os pretextos territoriais, ideológicos e geopolíticos com que os nazis justificavam a guerra revelaram o seu total vazio e em lugar deles ficou apenas o impulso genocida.” A crónica de hoje no Público, sobre a solução final, as terras sangrentas da Europa (a partir do livro de Timothy Snyder com o mesmo título) e uma ordem para o extermínio dos combatentes antifascistas da Bielorússia dada por Hitler num dia como hoje, 18 de agosto de 1942. Foi há setenta e cinco anos. Parece que foi ontem.

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Explicar o neo-passismo

A crónica de hoje no Público é sobre o revelador discurso do Pedro Passos Coelho na festa de verão do PSD. “Numa terceira explicação, talvez seja apenas a reação perante um diabo que era esperado e que afinal não veio. Se assim for, devemos ter medo, muito medo. Por cada ponto a mais de crescimento económico que tivermos no país lá teremos nós de assistir a uma nova uma guinada de Passos Coelho para o território ideológico da extrema-direita.”

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Brasil: o galinheiro é das raposas [texto integral]

 |Do arquivo Público 04.08.2017| Há um verso do hino brasileiro que chama ao país “impávido colosso” — uma boa descrição do país nos dias de hoje. Já não estou tão certo sobre o verso seguinte, que diz: “e o teu futuro espelha essa grandeza”. Impávido colosso, sim, que impotente viu 263 deputados votarem para impedir a investigação das denúncias de corrupção contra Michel Temer (seriam necessários 342 votos para que o presidente pudesse ser julgado no Supremo Tribunal; só houve 227 votos a favor da investigação das denúncias). A comparação entre este voto e aquele de que há uns meses foi alvo Dilma é mais do que instrutiva. Os deputados que então votaram contra a presidente em nome da família, do cachorro e “do evangelho quadrangular” limitaram-se agora, com Michel Temer, a fazer uma muralha sem moral em torno de um presidente gravado a discutir entregas de subornos para manter os seus aliados calados.

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Povos promíscuos

“Contrabando de produtos, contrabando de pessoas. Durante a Guerra Civil de Espanha, estas aldeias raianas receberam republicanos espanhóis refugiados ao franquismo, e por ali os deixaram ficar. Após a IIª Guerra Mundial, quando estes refugiados começaram a fazer planos (e a comprar armas) para restabelecer a democracia espanhola, as ditaduras ibéricas juntaram as forças e decidiram acabar com eles. Numa operação conjunta da Guardia Civil espanhola, da PIDE e da GNR, foi montado um cerco à aldeia do Cambedo para apanhar anti-fascistas. Num par de dias antes do Natal de 1946, os habitantes da aldeia ficaram sob fogo cruzado e não entregaram os republicanos. Foram chamados reforços militares. A aldeia foi bombardeada com fogo de morteiro. Houve mortos de ambos os lados, dos republicanos só sobrou um, e quando a resistência do Cambedo foi vencida, homens e mulheres que ganhavam o sustento para as suas famílias foram presos pela PIDE. Quando finalmente puderam regressar, meses ou anos depois, decidiram calar a história daquilo a que chamavam “A Guerra do Cambedo”.” Leia o resto da crónica no Público de hoje – Povos promíscuos.

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Uma conspiração de espertos

Uma conspiração de espertos – A minha última crónica da semana no Público. “Ambas as candidaturas oriundas do mesmo grupo parlamentar municipal foram, portanto, invalidadas pelo tal juiz próximo do presidente da câmara. Mas para lá das suspeitas agora lançadas pelo juiz, também seria interessante saber mais sobre o mérito da decisão, que repousa sobre o facto de as assinaturas recolhidas para validar as candidaturas não estarem nas mesmas páginas onde estaria a lista de candidatos. Isto pode parecer um detalhe, mas é nos detalhes que o diabo vive. Sónia Amado Gonçalves entregou 11 mil assinaturas; Isaltino Morais 31 mil. Mais do que é necessário para registar um partido político e quatro vezes mais do que é necessário para apresentar uma candidatura à Presidência da República, respectivamente. Ora, não parece descabido tentar perceber se as pessoas sabiam o que estavam a assinar, ou se as suas assinaturas foram recolhidas pelas duas candidaturas (espera-se que separadamente) como se fossem para qualquer outro propósito. E seria bom que a discussão sobre a possível parcialidade do juiz, que se deveria ter recusado a julgar, não nos impedisse de julgar sobre a fidedignidade das candidaturas.”

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Os populistas não querem saber do povo

A minha crónica de hoje no Público: Os populistas não querem saber do povo. “A estratégia funciona. Mas isso não é razão para que a beneficiemos mais ainda promovendo equívocos sobre as razões por que funciona. O populista não ouve o povo — põe palavras na boca do povo. O populista não quer unir o povo, mas dividi-lo. O populista não quer, aliás, saber do povo para nada. Quer saber apenas de si mesmo e do seu sucesso. A palavra “povo” como raiz do termo “populista”, na sua acepção contemporânea, é apenas uma triste coincidência e um dano colateral à partida. Na verdade, nós nem deveríamos chamar populistas a estes demagogos. Chamar-lhes apenas mentirosos e desonestos seria analiticamente mais rigoroso.”

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