É por isso que indigna tanto que Passos tenha para si a sensibilidade que negou aos concidadãos que governa. Razões para a sua demissão não faltaram durante todo o seu mandato. O que não há é razões para que ele possa ser juiz de si mesmo. Diz muito sobre Pedro Passos Coelho que este tenha pensado dar uma novidade a alguém quando a semana passada nos anunciou que não é “um cidadão perfeito”. Nós já tínhamos desconfiado, e nem foi preciso esperar pela sua biografia fiscal e contributiva. A questão é: qual deve ser a bitola? A não-perfeição do cidadão é claramente inadequada, porque nos inclui a todos, e porque inclui demasiada coisa. Ninguém consegue ser perfeito e, consequentemente, ninguém tem culpa de ser imperfeito. Há pois algo de inversão moral na forma como Passos Coelho se coloca perante os cidadãos, pretendendo dizer-nos que, porque nós próprios não somos perfeitos, ele é apenas um de nós. Os comentadores declaram que ele falhou na sua missão de “fechar o assunto”.