Ligar o pagamento da dívida grega ao crescimento económico do país é uma mera questão de bom senso, e deveria ser alargada a outros países da zona euro que têm pela frente serviços à dívida muito pesados — a começar por Portugal.

Dias decisivos na União Europeia, enquanto Yanis Varoufakis roda pelas capitais europeias para explicar qual é a atitude do novo governo grego, de que é ministro das finanças, em relação ao problema da dívida do seu país e à estabilidade da zona euro.

Escrevo “atitude” porque aí está muito do que é decisivo nestes dias. Haverá tempo para que os planos de saída da crise esbarrem em pormenores técnicos, ou sejam resolvidos em reuniões até às altas horas da noite em Bruxelas, Frankfurt ou Atenas. Mas o elemento mais importante para decifrar no imediato é, desde já, a atitude. A disposição dos atores em cena. Demonstram vontade política de chegar a um compromisso? Estão irredutíveis nas suas posições? Pretendem resolver um problema sério ou dar lições uns aos outros?

Ora, a única lição de política (ou de vida) que vale a pena ter em mente nestes momentos é a seguinte: não há vitórias absolutas para derrotas absolutas. O absolutismo é contrário à boa resolução dos assuntos humanos.

Estou certo de que o que Varoufakis tem dito nas suas reuniões é aquilo em que acredita: que esta crise não será resolvida sabendo quem dispara primeiro ou quem é o último a ceder, agindo unilateralmente ou dando início a uma cadeia irreversível de acontecimentos involuntários. Ninguém sabe, em bom rigor, o que pode suceder na Grécia e na zona euro se entramos num caminho desses. Em consequência, o melhor é não tentar.

O tempo é muito curto e os passos que podem dar errado são vários, e de vários lados. Mas se for encontrada uma disposição de cooperação, tolerância e paciência de todos os parceiros europeus, esta crise resolve-se e todos sairemos dela mais fortes.

As soluções que estão em cima da mesa são, no mínimo, uma boa base de discussão. Ligar o pagamento da dívida grega ao crescimento económico do país é uma mera questão de bom senso, e deveria ser alargada a outros países da zona euro que têm pela frente serviços à dívida muito pesados — a começar por Portugal. Fazer uma conferência europeia de credores e devedores é provavelmente a melhor forma de afastar de uma vez por todas o fantasma da dívida que entrava o projeto europeu, nem que tenhamos de esperar algum tempo para a podermos levar a cabo. Tal como é uma boa ideia substituir a troika por um mecanismo europeu de estabilidade completamente comunitarizado, sujeito ao controle do Parlamento Europeu, e às obrigações dos tratados de coesão, solidariedade e pleno emprego.

O maior risco, neste momento, é que alguém nas instituições europeias ou no governo alemão decida bloquear o diálogo para forçar os gregos a “entrar na linha” dos acordos insustentáveis que foram negociados pelos anteriores governos gregos, e assim possa desencadear uma reação de fuga para a frente que o atual governo grego pretende evitar a quase todo o custo.

E nesse contexto é também importante a atitude da parte de governos como o português e o espanhol. Ao optarem por uma atitude de bloqueio irrefletida e egoísta, recusando qualquer consideração das propostas gregas, estes governos podem seruma pedra no caminho para uma solução duradoura para esta crise, no momento em que mais precisamos de boa vontade política.

(Crónica publicada no jornal Público em 04 de Fevereiro de 2015)

2 thoughts to “A atitude pode ser tudo

  • Miguel Fonseca

    Exmo. Sr. Dr. Rui Tavares:

    Gostaria de convidá-lo para participar num ciclo de conferências que organizo em Coimbra no Hotel Quinta das Lágrimas, pelo que venho por este meio saber como poderei contactá-los.
    Os meus melhores cumprimentos, Miguel Fonseca

  • Miguel Lopes

    Caro Rui,

    A Grécia paga muito pouco em juros de dívida, por isso essa ideia de ligar pagamento de dívida ao crescimento não dá em nada. Além disso o crescimento previsto para 2015 já seria superior a 2% (antes do syriza subir ao poder), o que comparado com juros de 2.5% faz com que essa proposta não tenha sentido.

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