Agora que a democracia se começa a aproximar em anos da ditadura, a relutância dos nossos partidosem credibilizarem-se pela abertura é a nossa pior inimiga política. Há uns meses ouvi a historiadora Luísa Tiago de Oliveira resumir as teses do Congresso da Oposição Democrática de 1973, em Aveiro. O pormenor que mais chamou a minha atenção foi este: nas conclusões daquele encontro, a um ano do fim da ditadura, a existência de partidos políticos foi apenas mencionada uma vez, num parágrafo que também incluía cineclubes e sociedades recreativas. Mal nos damos conta, mas naqueles primeiros dias de abril de 1973 só havia verdadeiramente um partido assumido como tal no país, e estava ilegalizado: o Partido Comunista Português, fundado em 1921, ainda durante a Iª República. A União Nacional (que em 1970 mudara o seu nome para “Acção Nacional Popular”), fazia na prática o papel de partido único, mas descrevia-se como associação cívica. E só duas semanas depois do Congresso de Aveiro foi fundado o Partido Socialista, no exílio. Osrestantes partidos e seus sucessores que temos até hoje nasceram, quase todos, nos meses e anos logo após o 25 de abril de 1974.