Nós, os portugueses, não somos e não podemos ser o escaravelho de Ortobalagan. Não podemos ter perdido a capacidade de imaginar um outro país que não no fundo da gruta. A cientista portuguesa Ana Sofia Reboleira descobriu, numa gruta de dois mil metros de profundidade situada na Abecássia, ali nas montanhas do Cáucaso junto ao Mar Negro, uma nova espécie de escaravelho que não tem asas nem olhos viáveis. Segundo informa o Diário de Notícias, trata-se de “um escaravelho carabídeo”, e foi pela sua “adaptação à vida sem luz e às condições inóspitas” naquela que é a gruta mais profunda do mundo, que perdeu as suas asas e os seus olhos deixaram de servir para ver. A Dra. Reboleira, que batizou o seu achado de Duvalius abyssinius, considera “provável que ele habite outras cavidades do vale glaciar de Ortobalagan”. Um dia um cientista português vai ganhar o Prémio Nobel. Já aconteceu uma vez com Egas Moniz e a lobotomia, o que nos deu a todos a duvidosa honra de sermos todos lobotomizados de nascença. Como é evidente, desejo uma carreira preenchida de sucessos à nossa brava cientista no Cáucaso, incluindo uma mão-cheia de prémios. O meu medo é que depois digam que nós portugueses somos como o escaravelho que ela descobriu, quase uma versão zoológica da Caverna de Platão,