Object of Political Desire I: My Hypocrite Reader

Let me start by saying something about you. Yes, you. “— Hypocrite lecteur, — mon semblable, — mon frère!” as Baudelaire once called you. There’s one or two things I know about you. You’re reading this article in the Green European Journal, which means that you are interested in environmental questions, European affairs, or ideological debates. You are, in short, interested in politics. You think about politics a lot, you may even be one of those persons who think about politics all the time, and you may justify yourself with that oft-repeated truism, “everything is political”. You are right. Everything is political in the sense that everything in society is social and everything about humanity is human. But everything being political does not mean that everybody cares about politics for the sake of politics. Quite the contrary: precisely because everything can be said to be political for many people (even for most) politics are relevant mainly as a conduit to other objects of political desire. Let’s now shift into thinking about a third person, one that is neither you nor me. The person who is neither reading nor writing this article nor any other article in the Green European Journal and probably does not care for it anyway — a choice that is as legitimate as caring deeply about it. It is much more difficult to guess things about them. Does this person think about politics the whole time? Do they agree that everything is political or would they say that apart from a very commonsensical interpretation of that sentence, they pride themselves in not being political? In any case, everything is also cultural, or social, or communitarian, or even spiritual; may it be the case that this person cares much more about culture, or religion, or the arts, than you care about politics? You certainly know people that care even more about politics than you and there are surely people who care less. The ones who care more about politics are no better than you and you are no better than the ones who care less. It just a matter of distribution of interest, motivation, and attention that people are bound to care more or less about something, or care less about something now and more about something in the future. However, the person who thinks about politics the whole time is making a mistake if they think that everyone else is wrong for not thinking about politics with the same intensity, in the same terms, or according to the same categories as they do. If someone reasons like this, explicitly or otherwise, they are actually not thinking about politics as deeply after all. For the political is, as Spinoza once wrote, about people as they are and not as you think they should be. This, in turn, leads to another mistake: thinking that politics should be enough to engage people in politics. Don’t get me wrong: I have probably been in as many political meetings, movements, and the like as you have. Politics was motivation enough for me to be interested in politics. But if we are ready to admit a heresy in political circles, the political is never enough of a reason in itself. History teaches us otherwise. Working people did not form trade unions because of the trade union form itself; they did it because they wanted more pay and shorter working hours. Feminists did not create their movement because of the movement, but because of women themselves: votes for women, legal rights, individual freedoms that would allow them to live their lives more fully. Anti-colonial parties were not created by people who loved being in political parties, but people who wanted to free their peoples from oppression and eradicate colonialism. Some people did feel the joys of extremely long meetings and speeches and dedicating most of their free time to the cause. Most people, however, participate in politics because of an object of political desire. But the “object of political desire” in itself is seldom the object of political reflection or theorising. People say they are in politics because they desire justice, or freedom, or equality. But in order to arrive there, they first have to desire. And when one reads political theory one reads a lot about justice and freedom and equality — but never about desire. Isn’t something amiss there? That’s what this column strives to explore. We desire desire. We are not hypocrites when we say we want justice, or freedom, or equality. But we are a little bit hypocritical when we think that being political is only about the love of high-minded ideals and concepts and refuse to give pride of place to the very mechanics of wanting. This shift in focus will help us, I believe, grasp a much better theory of change, understand the roots of some of the current misunderstandings between progressive politics and our societies, and even identify some of difficulties of contemporary Green European politics. This is why I hope — desire? — you follow this new column in the Green European Journal. (Article published in the Green European Journal, 25 January 2023.)

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Infinita Plasticidade

Jacob Burckhardt — um historiador da arte, de nacionalidade suiça, que viveu durante o século XIX — lamentou-se uma vez escrevendo que “o mundo está submerso em falso ceticismo”, acrescentando logo depois “já que do verdadeiro ceticismo nunca pode haver demasiado”. Não é fácil interpretar isto, mas vale a pena tentar.

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A geração parva

Há mais ou menos dezoito anos, um editorial deste jornal teve a ideia de chamar “geração rasca” aos jovens que na altura tinham mais ou menos dezoito anos. A geração — essa geração, a minha — nunca mais conseguiu esquecer. Com toda a ambiguidade, levámos o nome a peito: ficámos ofendidos com ele, um pouco envergonhados sim, muito irritados também, mas fizémo-lo nosso sobretudo, tentando dar-lhe a volta (a “geração à rasca”) às vezes. Recusámo-nos sempre, sabe-se lá porquê — porque era injusto, digo eu —, a largá-lo.

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Jogo Alto

A história acelera; as respostas chegam quase antes de termos imaginação para fazer as perguntas. Qual é a próxima Tunísia? O Egito. Quanto tempo demorou? Menos de duas semanas. Ainda estávamos a considerar a hipótese de uma revolta civil num país árabe e já Ben Ali tinha apanhado o avião. Ainda os comentadores ocidentais se entretinham com a eventualidade de o exemplo tunisino ser seguido e já havia levantamentos na Jordânia, no Iémen, e no Egito. E agora eis-nos seguindo pela Al-Jazira um vasto movimento de desobediência civil neste último país. E já o líder da oposição, Mohamed el Baradei, fala aos cairotas: não vamos voltar para trás.

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Solilóquio do perdedor

Afinal, as eleições presidenciais provam que é um disparate a esquerda tentar entender-se? Para António Vitorino, sim. Como disse logo na noite eleitoral, “às vezes, há plataformas que subtraem”, disse ele, referindo-se ao duplo apoio partidário — BE e PS — que Manuel Alegre teve. Esta opinião fez logo escola, mas António Vitorino não está tão certo assim.

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‘Não resolvemos nada’

Terminou um ciclo. Estamos tão bloqueados quanto antes. É como se o país estivesse tomado de pânico. Vê o abismo mas não tem vigor para mudar de caminho nem imaginação para inventar um. Sendo eu de esquerda, e agora político, e apoiante de Alegre, sou hoje triplamente derrotado. Entregaremos agora o país à recessão, ao FMI e (talvez em breve) a um prolongado governo de direita, com a esquerda dividida e deprimida. Espero que Alegre use a sua autoridade moral para continuar a acrescentar tolerância à esquerda. Em 2006: que vai fazer Alegre com os seus votos? Em 2011: que vai fazer Nobre? Um palpite arriscado: deve estar neste momento a pensar fundar um partido. Coelho teve 40% na Madeira! Merece exclamação, porque prova que os madeirenses estão fartos de Jardim e descrentes de uma oposição sem vigor contra Jardim. Cavaco. O mito acabou. As notícias sobre a sua casa são graves e demonstram uma desonestidade estrutural que nem eu lhe imaginava. Passou a ser um Sócrates, mas em sonso. Como vai o país aguentar dois assim? Publicado no Jornal Público no dia 24 de Janeiro de 2011

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‘Pequenos milagres democráticos’

O meu pai nasceu em 1929, já em ditadura. Cresceu numa aldeia do Ribatejo, ditadura. Veio a Guerra Civil de Espanha, havia refugiados do país vizinho pelos campos, “comiam até o musgo das paredes, com a fome que tinham” dizia-me ele de vez em quando. Depois a IIª Guerra Mundial, o racionamento, e as irmãs dele — minhas tias — adoeceram gravemente — “entuberculisaram”, como se diz na Arrifana. O pai do meu pai morreu, e era ainda ditadura. O meu pai namorou e desfez-se o namoro, casou e teve filhos e enviuvou, e casou de novo com a primeira namorada e teve mais filhos e, em todo este tempo, era sempre, sempre, sempre a mesma ditadura. (Talvez eu já tenha contado aqui esta história; honestamente não estou certo se o fiz ou não. Para mim é como uma oração familiar.) Só quando o meu pai tinha já cinco filhos e quarenta e cinco anos que viu a democracia pela primeira vez. Poucos depois do 25 de abril viu em Lisboa, numa manifestação, um velhinho que chorava copiosamente num dos passeios da Almirante Reis, enquanto via a multidão subir a avenida. “Achei que já não chegava a ver este dia”, disse-lhe o homem. Um ano depois o meu pai, e espero que aquele homem também, votaram pela primeira vez numas eleições livres e justas.

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Esclarecedor para quem observar

As campanhas presidenciais portuguesas são sempre estranhas. Não se votando para um executivo, ou seja, para decisões, programas, medidas, a coisa toma um de dois caminhos: ou se fala do entendimento dos poderes presidenciais em termos vagos; ou se fala da história pessoal dos candidatos. Ou seja: ou é metafísica ou é não-gosto-deste-gajo. Isto, curiosamente, faz sentido. Para presidente escolhemos quem saiba duas coisas: interpretar e representar. Escolhemos uma interpretação da separação dos poderes e da república, ou seja, uma interpretação da constituição. E escolhemos uma pessoa que nos represente a todos, e faz sentido avaliar o seu caráter e a sua história, coisas altamente subjetivas. Foi a campanha esclarecedora? Sempre — para quem observar; para quem se informar. Para mim foi esclarecedor rever Cavaco. Para mim, Cavaco é um mau interprete da democracia e da República com as suas desvalorizações da palavra e da diferença. E acho-o um símbolo da hipocrisia nacional, da sisudez travestida, do autoritarismo que eu não gostaria que nos representassem. Mas que se calhar representam, e eu democraticamente aceitarei. Mas até lá é isto: não gosto da metafísica de Cavaco, se é que a tem. E não sou fã do homem. Direitos de um eleitor como qualquer outro. Publicado no Jornal Público no dia 20 de Janeiro de 2011

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O candidato Cavaco tem de nascer outra vez

Dizer que Cavaco é menos sério do que ele pensa parecer é falhar o alvo por baixo. Cavaco é, como revelado pelas últimas semanas, ainda menos sério do que aquilo que eu pensava que ele era — e Cavaco nunca me enganou. Os casos do BPN e da casa na Urbanização da Coelha já são suficientemente graves. Em qualquer país do mundo estes casos seriam escrutinados até ao fim. O BPN, em particular, arrisca-se a custar ao país aquilo que cada cidadãos tem de sacrificar através de dolorosos cortes nos salários e aumentos de impostos. Não me parece que se possa dispensar de explicações qualquer pessoa que tenha tido com este banco, sem pestanejar, lucros que estão para lá dos mais deliciosos sonhos dos clientes de Madoff.

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‘Wikileaks 1 – NATO 0’

A “sabedoria convencional” — noção tão útil quanto saborosa concebida pelo economista John Kenneth Galbraith — necessita daquele adjetivo por esta razão: é principalmente convencional e não sabedoria. Se fosse sabedoria diríamos dela apenas que é sábia. Ao qualificá-la de convencional explicamos que ela parece sabedoria pelo seu aspecto formal, admitido e, em certa medida insincero ou até mesmo fajuto: pseudo-sabedoria.

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