Comecemos pelo que sabemos relativamente bem. É muito difícil sair uma maioria absoluta das próximas eleições, e igualmente difícil formar-se uma coligação maioritária após a contagem dos votos.

Há gente, em todos os partidos principais, que garante já saber exactamente o que fazer daqui a dois anos — quando o governo cair — ou o líder mudar — ou o partido fizer uma coligação — ou o presidente mandar — ou após as eleições antecipadas — e por aí fora.

Espanta-me o vigor destas profecias. Não porque seja impossível qualquer destas coisas acontecer, mas porque necessitaria, cada uma delas, da conjugação perfeita de três ou quatro variáveis com a não-ocorrência de três ou quatro imprevistos.

Ora uma boa profecia política não pode depender de muitas variáveis, mas de uma, ou no máximo duas, contra as quais aposte a maioria das pessoas. Com cinco partidos, vários actores secundários, uma dezena de combinações de resultados possíveis, possíveis alterações de liderança, mais conjuntura económica e alianças políticas, só será possível acertar se se apostar em tudo e mais alguma coisa.

Resta então uma previsão com recuo, flexível o suficiente para se adaptar às circunstâncias, concreta o bastante para se poder apostar.

Comecemos pelo que sabemos relativamente bem. É muito difícil sair uma maioria absoluta das próximas eleições, e igualmente difícil formar-se uma coligação maioritária após a contagem dos votos. Podemos celebrar ou deplorar qualquer dos factos, mas é o que temos. Todas as direcções partidárias garantem não querer fazer coligação com ninguém (excepção: PSD-CDS) e é nessas circunstâncias que se apresentam ao eleitorado. Teremos então de os tomar à letra.

***

A hipótese que resta é a de um governo minoritário, e aqui temos uma bifurcação interessante. Um governo mais forte é o que temos tido nos últimos anos; é o que nos foi pedido (quase exigido) sempre, e é o que muitas vezes tem sucedido. À governamentalização do país sucederá um outro ciclo, curto ou longo, mas qual será?

Primeira hipótese, em que muitos apostam: um novo presidencialismo. Mesmo algumas soluções governativas, como o Bloco Central PS+PSD, seriam consequência de mais poder presidencial no futuro, e provavelmente sua causa também; em qualquer momento de hesitação, seria necessário voltar a Cavaco Silva.

O novo presidencialismo seria, no fundo, apenas mais uma forma do conservadorismo larvar da nossa política. Já repararam como as maiorias absolutas são sempre essenciais, ano após ano, para “fazer as reformas” e “salvar o país da ingovernabilidade”? Pois o novo presidencialismo, dir-nos-ão, será essencial pelas mesmas razões, que não desaparecerão nas eleições seguintes — nem nunca.

A outra hipótese é a de um novo parlamentarismo. E esta, mais do que uma simples previsão, é algo por que valeria a pena lutar — não só à esquerda, mas também ao centro e à direita, onde se achar que uma democracia deve assentar no parlamento. Um novo parlamentarismo permitiria encarar de uma vez por todas que o país não é ingovernável: o país tem, simplesmente, opiniões diferentes — e mais do que uma ou duas. Não podendo valer todas o mesmo, terão de encontrar maiorias e equilíbrios entre si.

Dir-me-ão que é difícil. Eu direi que é a vida. Caso contrário, podemos continuar a fingir que o sebastianismo funciona. Ambas as coisas — fingir e o próprio sebastianismo — têm dado um resultadão.

[do Público]

2 thoughts to “Novo presidencialismo e novo parlamentarismo

  • paletadesonhos

    No país há duas realidades , duas velocidades, a dos dirigentes políticos e económicos ( porque tal como em Angola, também por este cantinho da Europa, a economia não é isenta dos bastidores politicos e vice-versa ), e a do povo . Esses sim deveriam ser os decisores, mas tenho pena de reconhecer , que ainda não perceberam o seu papel, e façam uma participação política pacifica , e aceitem as demagogias , que lhes são vendidas .

  • Francisco Castelo Branco

    É natural que se façam tais previsões , pois das eleições legislativas de 27 Setembro provavelmente vai sair um governo Minoritário.

    E nós sabemos que isso vai criar instabilidade

    Não foi isso que aconteceu com o governo Guterres?

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