O South Side de Chicago é a zona pobre — e negra — da cidade. Foi para aqui que Barack Obama veio trabalhar em meados dos anos oitenta como um misto de animador cultural e assistente social. Era um bicho estranho: ao contrário da maioria dos habitantes destes bairros, Obama não é descendente de escravos, foi criado pelos seus avôs brancos, era um intelectual que passados três anos saiu para fazer o seu doutoramento em Harvard. Aos olhos dos seus compatriotas, contudo, ele era “mais um negro” — e é o próprio a contar nos seus livros que veio para aqui entender o que isso queria dizer.
Mas para compreender a carreira política de Barack Obama temos de vir para outro bairro — Hyde Park — para onde ele se mudou quando regressou a Chicago, e onde ainda vive hoje. Embora tecnicamente parte do South Side, é um bairro onde vive a classe média negra da cidade e alguma classe média branca. É o bairro onde moram muitos dos seus ex-colegas da Universidade de Chicago. E é o bairro onde ele começou a encontrar aliados para uma carreira política, — não só gente que votasse nele, mas que financiasse as campanhas sem as quais a política americana não existe.
O atractivo eleitoral de Obama era este: o candidato em quem os negros confiavam e de que os brancos não desconfiavam — ou será ao contrário? O candidato que tinha trabalhado no bairro pobre e na universidade. O Partido Democrático adorou esta história de dupla personalidade.
Para os republicanos isto é sinal de duplicidade. Para eles, Obama é como a história de Dr. Jekyll ou Mr. Hide. Em nenhum dos casos é de confiança: afinal trata-se de um Mr. South Side, populista e casado com uma negra radical — ou de um Dr. Hyde Park, intelectual de esquerda e elitista?