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Esta madrugada Trump fez o seu grande discurso, e o resultado foi ainda mais assustador do que eu esperava. Fiquei acordado até às cinco da manhã e pensava: isto parece uma experiência para obrigar até o historiador mais renitente a dizer “sim, é fascismo”. Sim, é nacionalismo autoritário, racista e xenófobo. Todo o discurso foi sobre medo, vitimização e ódio, com Trump repetindo que ele era a única solução (nunca explicando como) e o público à beira do delírio violento. Se o mundo quer ter um bocadinho mais de paz e sanidade, tudo deve ser feito para ajudar os EUA a derrotarem este homem. Meço as palavras: não há pessoa de bem, de direita esquerda ou centro, para quem a democracia e o estado de direito sejam importantes, e que não possa estar chocada com o que Trump está a fazer, se for sincera consigo mesma.

Já se ouvem, é claro, as desculpabilizações do costume. Que Trump faz isto só para ganhar, mas que se moderará depois. Que é “evidente” que ao chegar à Casa Branca não poderá fazer o que quer. Enfim, escuso de dar mais exemplos: são as justificativas que sempre se ouviram em relação a todos os ditadores e demagogos antes de chegarem ao poder. E não me digam que a democracia americana é suficientemente forte para resistir a isto: a democracia americana está debilitada há muitos anos, é confusa e corrompida, e não resistirá a uma avalanche de votos em Trump. Se ele ganhar, claro que terá mandato para fazer o que quiser, a começar por nomear juízes do Supremo que interpretem a Constituição à sua maneira.

Já era de madrugada quando me perguntei porque, exatamente, estava a ver aquilo. Duas respostas possíveis: para ficar aliviado se Trump perder. Ou para dizer aos miúdos, no futuro, entre as ruínas, que sim, eu estava lá quando Trump subiu ao poder e o ouvi na TV, como há pais e avós que nos dizem ter ouvido Mussolini e Hitler na rádio, e isso nos dá um frio na espinha. Ontem tive esse frio na espinha. Quem acha que é exagero anda distraído.

One thought to “O frio na espinha”

  • Jose Monteiro

    Só hoje li, só hoje comento. Vivi experiência paralela, o mesmo (ainda) espanto, a mesma percepção, o mesmo receio. Não tenho idade para ter memória directa de Hitler ou Mussolini, mas tenho a memória de milhões que chegou até mim. E tenho os olhos abertos e a mente aguçada, não só para Trump, mas para muitos outros como e piores do que ele: Marine Le Pen, Norbert Hofer, Jaroslaw Kaczynski, Viktor Orban e Jobbik, Jimmie Akesson, Nikos Michaloliakos, Frauke Petry, Marian Kotleba, Geert Wilders, Nick Griffin, Umberto Bossi, e or aqui me fico, que a lista é longa.

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