É necessário que nos unamos da próxima vez para ter uma candidatura ganhadora à presidência da Comissão Europeia.
Há cem anos e um dia, um título do jornal Vancouver Sun declarava convictamente: “Morte de arquiduque austríaco afasta perigo de conflito europeu”. Um mês depois estalava a primeira guerra mundial, precisamente pela causa que o jornal tinha defendido que a anularia.
É fácil sorrir por conta deste falhanço jornalístico. Mas cem anos (e um dia) depois, ainda é por nossa conta e risco que ignoramos as dinâmicas europeias. Vejamos. Durante anos, jornais e televisões proclamaram que a crise da zona euro estava ultrapassada. A cada cimeira do Conselho Europeia, disseram-nos que a União tinha dado um grande salto em frente e que não havia agora problema. Da mesma forma, muitos observadores, desta feita principalmente nos governos, continuam a desvalorizar o efeito que teve a frase de Mario Draghi (“faremos tudo o que for necessário para salvar o euro e, acreditem, será suficiente”) na superação da fase aguda da crise da moeda comum.
Mas há mais. Durante cinco anos o Parlamento Europeu defendeu que a escolha do presidente do executivo europeu se desse indiretamente através das eleições europeias. Quando essa proposta feita, porém, ela foi continuamente desvalorizada por todos aqueles que supostamente estavam “por dentro” dos temas europeus.
Ainda há poucas semanas jornalistas e comentadores garantiam a pés juntos que nada sucederia. Quando chegasse o momento, aqueles “que de facto mandam” (como disse Herman van Rompuy) escolheriam alguém como sempre tinham feito: numa sala fechada, à hora do jantar.
O que se passou é hoje sabido: afinal, a escolha por via eleitoral era para valer, como pelo menos nesta página foi sendo dito durante anos. O vencedor das eleições, o democrata-cristão Jean-Claude Juncker, não é aquilo de que a Europa precisa. Pelo contrário: enquanto ex-presidente do eurogrupo, é co-responsável pelo trágico estado a que chegaram Portugal e os nossos outros companheiros de infortúnio. Mas a lição que há a tirar, em Portugal como nos restantes países, é que muito mais atenção deveria ter sido dada a este processo eleitoral. E outra lição para todos os progressistas europeus: uma vez que isto é para valer, é necessário que nos unamos da próxima vez para ter uma candidatura ganhadora à presidência da Comissão Europeia.
Amanhã tomam posse os novos deputados ao Parlamento Europeu. Portugal terá no Parlamento Europeu 21 deputados e deputadas: é pouco, quase nada. É essencial garantir que eles e elas nos representem bem — ajudando quando necessário, criticando quando justificado, fiscalizando sempre — durante os cinco anos para que foram mandatados e durante os quais se comprometeram a representar-nos. E nos próximos cinco anos há muitos desafios a enfrentar, desde o tratado transatlântico à questão britânica, e ainda mais coisas por fazer, da união energética à recuperação económica dos países do Sul. Quando se passa de representante a representado, como é o meu caso, sentimos ainda mais como é importante que os novos representantes nos representem bem e saibam lutar por nós. É pois isto que lhes (e nos) desejo: que façam por ser excelentes deputados. A velha Europa ainda mexe.
(Crónica publicada no jornal Público em 30 de Junho de 2014)