Há duas maneiras de lidar com a pressão cidadã por mais democracia. Uma é fechar os olhos ou menosprezá-la, considerando-a uma mera expressão de experimentalismo ou uma intromissão irritante na esfera dos auto-consagrados políticos experientes. Outra é entendê-la e fazer de forma a que ela se materialize preservando todos os outros valores do estado de direito e do sistema de direitos fundamentais.
Graças a uma espécie de decisão coletiva tomada em Portugal no dia 1 de dezembro de 1640 — que, fiel ao seu estilo, o atual governo aboliu como feriado — nós portugueses não temos de nos preocupar com a encruzilhada em que a abdicação do rei Juan Carlos deixou os espanhóis: sucessão ou referendo? monarquia ou república?
Não é isso que impede, porém, de compartilhar o entusiasmo com que os nossos vizinhos vivem estes dias. Há uns vinte anos, isto seria impensável: qualquer espanhol nos diria que a monarquia fazia parte do compromisso histórico que permitira o estabelecimento da democracia em Espanha e que era, por isso, intocável.
O que sucedeu?
Muito simplesmente, nasceu gente depois disso. Nos anos 90, a democracia espanhol tinha só 20 anos — ou até apenas dez, se contarmos a sua consolidação a partir do golpe falhado de 23 de fevereiro de 1981. A maior parte dos espanhóis sentia o compromisso histórico, e acreditava nele, como parte das suas biografias. Ainda que não tivesse sido protagonista, cada espanhol individual entendia o compromisso como se tivesse tido que ser ele ou ela a fazê-lo.
Agora a democracia espanhola tem o dobro da idade. Toda a gente que nasceu depois não se sente coberta pelo compromisso histórico. Muitos dos outros sentem-se mais distantes. Nem uns nem outros entendem por que razão não poderiam participar de uma decisão essencial sobre como escolher o chefe do seu estado.
Não sei se o movimento pró-referendo, e o movimento republicano, conseguirá vencer ou não em Espanha. Mas o quadro espanhol está tão mudado desde há uma geração que o pior que pode acontecer é o estado espanhol continuar a tomar certas discussões por impensáveis. A consequência de impedir um referendo sobre a república agora iria certamente fazer-se sentir sobre outras questões espanholas, a começar pela dos separatismos.
A sociedade espanhola é moderna e vibrante. Vive-se nela um paixão revigorada pela democracia. Os partidos de esquerda são muito mais ousados na sua abertura aos cidadãos do que os seus equivalentes portugueses. E ainda assim, o movimento dos indignados, e partidos novos que se têm criado, prometem levar a exigência de democracia mais além.
Há duas maneiras de lidar com a pressão cidadã por mais democracia. Uma é fechar os olhos ou menosprezá-la, considerando-a uma mera expressão de experimentalismo ou uma intromissão irritante na esfera dos auto-consagrados políticos experientes. Outra é entendê-la e fazer de forma a que ela se materialize preservando todos os outros valores do estado de direito e do sistema de direitos fundamentais. A primeira reação só criará mais pressão, e pressão de um tipo mais demagógico e populista. Só a segunda permitirá não só melhorar a democracia como encontrar saída para a crise múltipla em que nos encontramos.
Aqueles milhares de pessoas nas praças espanholas indicam-nos que a história não cessa, nem sequer nesta Europa que julgávamos adormecida no seu conforto. Nas próximas semanas veremos outra versão do mesmo dilema na escolha do presidente para a Comissão Europeia. Esse será o tema de uma próxima crónica.
(Crónica publicada no jornal Público em 04 de Junho de 2014)
2 thoughts to “A história não cessa”
A História n acaba, mesmo qd a encravamos, desprezamemos e com ela brincamos, fodendo-a!!!
E agora …?
Agora té transformar o LIVRE no PODEMOS português:
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Sim, Podemos !… ( Yes, We can ! )
A intervenção é de um Professor de Ciência Política e alerta-nos para as redes corporativas que sustentam os mecanismos partidários, inquinando a democracia! O problema não são os partidos e menos ainda a Democracia… o problema são os seres humanos, feitos de pequenos interesses, muitos defeitos, muitas ambições, pouco escrúpulos e pouca ética, muita capacidade racional de relativização e demasiado sentimento recalcado “a pedra e cal”, de hierarquia e submissão que lhes não permite viver, afirmando ou assumindo o melhor da natureza Humanidade!… mas… mesmo assim:
Podemos !… apesar do ar ditatorial sob o qual se oculta a opressão e a injustiça. dissimulados de um pretenso rigor que conhecemos sob o rosto e as máscaras dos governos e das impotências cobardes e medíocres das oposições!… Podemos!… apesar do medo… do medo do desemprego, da fome, da doença e do futuro sem esperança… Podemos! … apesar dos cortes, das contas e da hipocrisia palaciana em que a política se transformou!… Acreditem!… e Façam!… porque SIM… porque… PODEMOS !
(-por Ana Paula Fitas, 14e15/2/2014)
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+ vota PODEMOS português e internacional
PODEMOS. pt ; PODEMOS.es e PODEMOS. ue
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Vamos criar o PODEMOS Português, partido democrático eco-social (Ambientalista e defensor do Estado Social), …
. Candidatos a deputados ou membros do secretariado sujeitos a votação nominal interna (tendo cada membro efectivo do PODEMOS direito a 10 votos: 4 para a 1ª preferência, 3 na 2ª, 2 na 3ª e 1 na 4ª), com mini-CV e link disponível na página do PODEMOS … sendo depois, ordenados pelo nºde votos obtidos, apresentados na lista a sufrágio nacional…
. PODEMOS organiza-se em :
+ Coordenação Portuguesa (secretariado nacional) ,
+ circulos locais e/ou circulos temáticos,
todos ligados em rede internet (página, forum e e-mails),
todos colaboram e decidem (propostas, forum/discussão, referendos/votação, …).
+ Com ligação e colaboração estreita (no PE, partilha de “bandeiras”/propostas e campanhas comuns) a outros partidos PODEMOS ou próximos (: verdes, esquerda, sociais-democratas, … )
+ Com ligação/links a outros Movimentos de Cidadania activa (: Collectif Roosevelt2012.fr ; ATTAC ; M12O ; IAC ; MIC ; occupy wallstreet, … … )
e a confederações sindicais.
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