Portugal tem até agora escapado a essa degenerescência do regime, mas não há nada na nossa história nem na nossa sociologia que o impeça. Há até muito fator coadjuvante. Um desses fatores é, precisamente, a ação de Cavaco Silva.
Por vezes descreve-se a função do Presidente da República Portuguesa como a de um árbitro, e há de facto ocasiões em que isso é apropriado. Na quarta-feira passada, Cavaco Silva tinha uma tarefa simples: marcar, ou não, um penálti. Se fosse penálti, Cavaco dissolvia a Assembleia da República e convocava eleições antecipadas. Se não fosse penálti, Cavaco reconduzia o governo e seguia o jogo.
Se bem entendi, Cavaco optou por marcar um livre indireto dentro da pequena área, antecedido de negociações entre os treinadores dos “três grandes”, excluindo os outros clubes que jogam no mesmo campeonato (tal como no futebol português, a designação de “três grandes” não tem a ver com tamanho nem antiguidade nem bom futebol mas apenas com proximidade e habituação ao poder). Só a formação da barreira é de uma confusão inaudita, e o Presidente já mostrou vários cartões amarelos. Nas bancadas especula-se que a intenção é mesmo essa, expulsar os treinadores ou os capitães de equipa e passar ele a mandar no jogo. Aconteça o que acontecer, vai haver sururu em campo, e fora dele, nos “mercados”. E ainda há quem diga que este é um árbitro muito sabedor. Como é evidente, teria sido mais fácil, mais simples, mais justo e acima de tudo mais compreensível marcar, ou não, penálti.
Ah, Portugal, se fosses só um jogo de futebol.
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O regime político saído do 25 de abril permitiu a Cavaco Silva ser primeiro-ministro dez anos, em tempo de vacas gordas, e ser agora presidente para dez anos também. Isso, na cabeça de Cavaco, não é razão para especial amor, e pode ser até que o seja antes para um jamais resolvido complexo de despeito e desprezo. O que talvez explique a negligência com que trata a nossa cada vez mais frágil democracia.
As experiências da Itália e da Grécia deveriam prevenir-nos para o que se passa quando há pactos de regime, governos de largo espectro ou primeiros-ministros tecnocráticos — que são três das múltiplas hipóteses a que Cavaco nos pode querer conduzir. Na Itália, o sistema político foi varrido pelo vendaval de um partido populista e ademocrático, centrado na figura de um líder que não participa do “jogo”. Na Grécia, temos um partido nazi que faz a saudação hitleriana no parlamento.
Portugal tem até agora escapado a essa degenerescência do regime, mas não há nada na nossa história nem na nossa sociologia que o impeça. Há até muito fator coadjuvante.
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Um desses fatores é, precisamente, a ação de Cavaco Silva. As deslealdades reais ou sentidas por Cavaco foram já instrumentais na queda do anterior governo, e agora no estrangulamento deste. Mais sério é Cavaco ter, por agora, fechado com a única razão para esperança — eleições para um governo relegitimado para negociar com a troika — em troca do novo conceito de eleições antecipadas retardadas, que não serão mais do que a agonia de um governo durante um ano para irmos a eleições em cima do suposto “regresso aos mercados”. A atuação de Cavaco é má no curto prazo, má no médio prazo, e má no longo prazo.
Tudo junto, Cavaco pega nos ingredientes de uma situação crítica e faz deles a receita para uma potencial catástrofe. Daqui não virá nada de bom.
(Crónica publicada no jornal Público em 15 de Julho de 2013)
5 thoughts to “Aníbal Catástrofe Silva”
O que se passou nos ultimos dias parece um teatro de fantoches.
Entretanto fora da pequenina “vidinha” da UE:
“”DUBAI
Norueguesa violada e condenada regressa a casa
por Paula Mourato com agênciasHoje41 comentários
A mulher norueguesa que foi condenada depois de ter sido violada por um colega no Dubai já pode sair do país, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Noruega. Foi perdoada pelas autoridades do país e autorizada a regressar à Noruega.
Marte Dalelv confirmou aos jornalistas que tinha recuperado o passaporte e recebido autorização para sair do Dubai. “Fui informada que tinha sido perdoada”, disse Marte Dalelv, de 24 anos, aos jornalistas à saída de um tribunal no Dubai. “Vou regressar ao meu país o mais depressa possível”, garantiu.
Em Oslo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Espen Barth Eide, tinha anunciado na rede social twitter a libertação da jovem.
“Marte (Dalelv) foi libertada! Obrigada a todos que ajudaram”, escreveu Espen Barth Eide.
A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros acrescentou que Dalelv foi perdoada pelo primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Rashid al-Maktoum.
“Ela não foi deportada, foi perdoada. Pode ficar no Dubai se quiser. O passaporte foi-lhe devolvido”, disse Ragnhild Imerslund, acrescentando, no entanto, que a jovem deverá viajar para a Noruega em breve.””
Alexandre
Não entendo nada de futebol. lgo não entendi esta Cronica.
Mas gostei muito da de hoje, sobre o elixir do amor, e a trapalhada entre Cavaco, Seguro e Pasos.
E anda tudo a arrastar os pés!!!!!!!!!!!!!!!!
A Europa está em desnorte, mas isto aqui abusa……….
“E ainda há quem diga que este é um árbitro muito sabedor.” E nao é? Mostrou com uma só acçao que percebe mais d’”o jogo” no seu estado de pré-demência do que Passos Coelho vivinho da silva…