As dívidas, a troika, os credores — nada disso pode tirar dignidade a um país. Só nós o poderíamos fazer, e não o faremos.
Já ouvimos as opiniões todas: vem aí a chanceler ou vem aí a imperatriz. Devemos dar toda a importância a esta visita ou não devemos dar-lhe importância nenhuma. Devemos recebê-la de braços abertos ou declará-la persona non grata.
Faremos tudo isso, porque somos dez milhões e diz um provérbio português que cada cabeça, cada sentença.
A sentença da minha cabeça é a seguinte: Angela Merkel é mais e menos do que a chanceler da Alemanha. É uma concidadã da Europa da qual eu discordo desde o início desta crise. Quis o destino que a União Europeia chegasse a esta crise com a sua arquitetura inacabada. Teríamos precisado que a União fosse já uma democracia, na qual as decisões políticas fossem legitimadas por 500 milhões de cidadãos. Mas a União comportou-se como apenas um cartel de estados. Nessa situação a primeira e última palavra coube sempre à Alemanha, e no caso à sua chanceler; o diagnóstico da crise que ela fez recusou sempre o reconhecimento do seu caráter sistémico e, como tal, a gestão da crise foi uma desgraça, e a continuar assim será uma tragédia.
Ora, nesta crise, nós temos responsabilidades como portugueses e como europeus. Eu diria que as responsabilidades como europeus são ainda maiores: quando a Europa dá errado há sempre coisas demasiado feias que acontecem. Enquanto europeus, a nossa responsabilidade é dizer aquilo que achamos da crise e da União sem nos sentirmos tolhidos pela situação de Portugal. Defendendo como sempre a liberdade de circulação e a liberdade de opinião, achar natural que qualquer concidadão europeu venha a Portugal, e no caso concreto explicar à nossa concidadã europeia Angela Merkel que ela está errada e que o seu erro poderá destruir a União.
Como portugueses, a responsabilidade é outra. Portugal está aqui há quase 900 anos. Sobreviverá a esta crise. E enquanto esta crise dura nós portugueses seremos dignos. Só isso. Neste momento discordamos em quase tudo. Não podemos discordar nisso.
As dívidas, a troika, os credores — nada disso pode tirar dignidade a um país. Só nós o poderíamos fazer, e não o faremos.
Infelizmente, Merkel só virá cá falar com quem já concorda com ela, e fugirá ao contraditório. Não lhe fica bem, mas o problema é dela. O nosso problema é que quem concorda com ela se porte com dignidade; não com pose, mas com verdadeira dignidade. Não deixando de dizer nada só porque acha que do outro lado está a mão que assina o cheque. Não deixando de agir na Europa com uma estratégia própria. Temos o direito e o dever de exigir ao nosso governo que se comporte assim.
E cá fora, cada protesto, cada editorial, cada carta aberta, cada graffitti, cada panfleto deveria ser norteado pela mesma ideia. A mesma magnífica sensação que tivemos no dia 15 de setembro: estamos indignados, cada qual à sua maneira, mas não perdemos a dignidade.
Não nos esqueçamos disto e tudo o resto se recupera.
(Crónica publicada no jornal Público em 12 de Novembro de 2012)
One thought to “Dignos”
as dúvidas as afundações de amassões os traidores dum povo distraído com os fogachos e os paes da pátria sem filhos fazem dum país arruinado um país en ruines de conimbrigue dans un pair d’années ou de asnos ainées
nu funde nu funde tante me fez …ou arzile