O nosso grande problema é o problema político. É na política que está a nossa grande falta de alternativas.
Este governo vive numa realidade inviável, na qual propõe caminhos inviáveis, que darão resultados inviáveis. Em tempos pedia-se alternativas a esta austeridade que reforça as desigualdades. A questão agora já é outra: de que é isto alternativa? Isto não serve para nada. Nada justifica insistir-se num caminho errado em que ninguém no país acredita.
Este governo, na verdade, acabou em setembro, quando ficou exposta a sua pelo empobrecimento competitivo. Falhada a via da TSU para baixar os salários, o governo optou pelo assalto fiscal para pagar o défice. Entre uma coisa e outra, “tudo se desmancha e o centro não aguenta”, como diz um poema — não aguenta o centro ideológico do governo, nem o seu centro político, nem o Centro Democrático e Social.
O governo acabou, pois, e a única questão é como removê-lo.
E aí Portugal regressa ao seu grande problema. Não o problema económico, nem o problema financeiro. O nosso grande problema é o problema político. É na política que está a nossa grande falta de alternativas.
Se Portugal tivesse uma alternativa política, seria possível construir um roteiro de saída da crise. Esse roteiro começaria por medidas de combate à fuga de capitais, que é o nosso grande problema de solvência: Portugal perdeu 70 mil milhões de euros entre abril de 2010 e abril de 2014; só em depósitos bancários perdemos 22 mil milhões de euros no ano passado. O dinheiro da troika era dinheiro que estava cá e que saiu pelos buracos da eurozona. Depois vem o nosso problema de sustentabilidade: se Portugal tivesse uma alternativa política, abriria imediatamente uma renegociação da dívida, para a qual a Europa está pronta. Depois vem o problema do crescimento, ou melhor, a solução do crescimento: através da criação de um Banco de Operações Mutualista (um banco “bom”) para apoio à qualificação e diferenciação da nossa economia, uma alternativa política iniciaria uma estratégia paciente que dará frutos no médio prazo, inverterá a fuga de cérebros, atrairá consumidores estrangeiros.
Portugal não é um caso perdido. Portugal não é sequer um caso difícil. Um país de dez milhões de habitantes, aberto ao mundo, com uma força de trabalho hoje mais educada, com uma população singularmente cívica e que pede apenas para lhe apresentarem um plano com sentido — Portugal pode ser bem governado. Se houvesse uma alternativa política, Portugal poderia, com seriedade, realismo e coragem, substituir o memorando de entendimento por um memorando de desenvolvimento.
E no entanto aqui estamos. Quando este governo cair, haverá quem peça ao Presidente da República para tirar um tecnocrata da cartola, e envolver os partidos do regime num consenso que será mais do mesmo. Se formos para eleições, veremos ainda mais do mesmíssimo: partidos empenhados na gestão da frustração eleitoral alheia, incapazes de um ato de coragem ou de mudança, apostados em segurar o seu nicho de mercado e atirar os vizinhos do lado para um governo impopular. A esquerda portuguesa é aflitiva: o Bloco e o PCP desejosos por empurrar o PS para um governo com a direita — e o PS, é claro, disposto a ir.
É altura de fazer a pergunta: por que desejam os partidos, — e por que lhes aproveita —, que Portugal seja um país sem alternativa política?
(Crónica publicada no jornal Público em 17 de Outubro de 2012)
4 thoughts to “E depois do adeus?”
Caro Rui, para além de tudo isso ainda temos um indice de falta de participação da sociedade civil, uma falta de vontade de mudar as coisas em vez de ficarmos pelos cafés , e pelos blogs , a dizer mal do que de facto está mal.
Tendo em conta o clima da imprensa, dos blogs, dos posts do facebook, da rua em toda a sua magnificiência, de que estão á espera os lúcidos? de um dom sebastião ? então porque não se faz um partido com desiludidos de todos os cantos para salvar o jardim ?
a alternativa é um grupo de loucos ou revolucinoários entrar em regime de guerilha ou mesmo terrorismo com todas as implicações. se a primeira opção não aparecer a segunda adivinha-se.
“Falhada a via da TSU para baixar os salários, o governo optou pelo assalto fiscal para pagar o défice.” Uma não decorre da outra, e só o governo lucra com a confusão.
Sabemos que o Rui contacta de perto as Pessoas Normais, ou seja quem anda pelas ruas, quem sofre na pele de facto o dificil momento.
Mas tambem sabemos que a grande maioria dos nossos politicos de serviço – todos – funcionam em circulos fechados da partidarite instalada, e nao sentem as Pessoas Normais.
Aqui, já, há muito a mudar!!!!!!!
E o Rui sabe isso!!!!!!
Como mudar? Quando?