Se houver progresso humano — uma questão em aberto — a ascensão do resto do mundo é a melhor notícia para a Europa. E, na verdade, o resto do mundo não quer a desgraça da Europa.
A União Europeia tem uma população de cerca de 500 milhões de cidadãos, num continente densamente povoado que quase pode ser considerado uma mera península da grande massa eurasiática. É menos de metade da população da Índia ou da China, mas é o dobro da do Brasil ou um terço mais do que a população dos Estados Unidos da América. A economia da União Europeia, tomada no seu conjunto, é a maior ou segunda maior do mundo, em comparação com a dos Estados Unidos, embora ambas possam vir a ser ultrapassadas pela China nas próximas décadas.
A Europa tem outra grande vantagem por ser uma península muito recortada: nenhuma cidade está muito longe de um porto marítimo. Estas cidades são grandes nós da economia global. A Europa é um continente urbanizado e nele se concentra a mais impressionante concentração de cidades a nível mundial. Quer falemos em termos económicos ou culturais, no passado ou no potencial futuro, é indubitável que um continente que vai de Istambul a São Petersburgo ou uma União onde há capitais como Roma, Londres, Paris ou Berlim, não pode estar tão mal quanto isso. Mas vamos imaginar que de repente as 27 capitais europeias desapareciam misteriosamente do mapa: estaríamos muito mal servidos com uma formidável rede de cidades “secundárias” que inclui Barcelona e Milão, Munique e Hamburgo, Manchester e Porto, Cracóvia e Salzburgo, Nápoles e Salónica, Marselha e Roterdão, Antuérpia e Sevilha?
Entre as ideias nascidas nestas cidades europeias contam-se algumas que desempenharam um papel determinante, e muito prático, na erradicação da pobreza e na construção de uma democracia de bem-estar feita de cidadãos emancipados. Poderíamos, é claro, começar pelo iluminismo no século XVIII e ir até ao liberalismo e ao socialismo nos séculos XIX e XX. Basta talvez lembrar que a social-democracia, no seu modelo escandinavo, é provavelmente a mais bem sucedida experiência de desenvolvimento humano, igualdade, liberdade em paz, segurança e conforto na história da espécie.
Se houver progresso humano — uma questão em aberto — a ascensão do resto do mundo é a melhor notícia para a Europa. E, na verdade, o resto do mundo não quer a desgraça da Europa.
Já estivemos aqui antes. Há cerca de um século a Europa também contava com ímpares condições económicas, políticas e tecnológicas para construir um sistema de cooperação entre nações fundado sobre a emancipação pessoal. As ideias já estavam todas na mesa, e havia milhões de pessoas que lutavam por elas. Muitas das questões de então, da finança descontrolada à legitimidade política esvaziada, eram as mesmas de hoje. A Europa não as quis resolver pela via da cooperação mas pela do conflito e, em poucos anos ou meses, estalava a Grande Guerra. No século que entretanto passou, muitas das maiores tragédias que a humanidade já viu tiveram origem na Europa ou em ideias europeias. Na Europa nasceu o fascismo, na Europa se deu o holocausto, na Europa firmaram-se totalitarismos de sinal oposto. As consequências da IIª Guerra Mundial, como a partição do continente, perduraram até há poucos anos. Um dos grandes casos de injustiça no mundo, o conflito israelo-palestiniano, tem raízes europeias. A Europa de 1914 está ainda conosco nestas vésperas de 2014.
O Prémio Nobel é pouco importante. O que é importante é se chegamos a 2014 repetindo 1914.
(Crónica publicada no jornal Público em 15 de Outubro de 2012)
8 thoughts to “O prémio de consolação”
Gostei da reflexao, mas na nota da imagem nao ficava mal mencionar que se trata de uma ilustraçao realizada para a obra de ficçao Leviathan, de Scott Westerfeld.
Caro Ricardo,
Agradeço a correção e modificarei assim como sugere.
Muito obrigado.
Um abraço,
Rui Tavares
“Basta talvez lembrar que a social-democracia, no seu modelo escandinavo, é provavelmente a mais bem sucedida experiência de desenvolvimento humano, igualdade, liberdade em paz, segurança e conforto na história da espécie.”
Concordo… mas como radicalmente produto do centro social (procurando o equilíbrio entre dois extremos de nonsense e sectarismo) foi sempre considerada muito à direita por uns (cúmplices do capital) ou demasiado à esquerda por outros (socialismo, o terror!).
Gostamos de pensar ser escandinavo sem darmos os passos culturais e de atitude política para lá chegar….
Ainda estamos a pagar em Portugal o preço deste nó cego, quando depois do 25 de Abril quem era social-democrata era para a esquerda fóssil considerado “revisionista” ou traidor.
Por isso e por Camarate.
Pois mas é uma imagem´típica dos cartoons do século XIX com mais ou menos animalidade se o leviathan copiou um trend de 50 anos de cartoon político e necessita de ser reconhecido pela cópia…
é como a política portuguesa que vive à sombra dos messias e dos ogres europeus e necessita de ser reconhecida pela sua inépcia em copiar as decalcomanias imperiais gastas
resumindo ó ruin dos távoras
Nem Praga tem um porto ao pé
nem a Polónia tem portos prussianos onde navegará a futura liga neohanseática
para bom en tende dor…meia palavra bas….
numa europa endividada e decadente cheia de portos grevistas cheios de con tentores chinocas e de con tem dores do há escuerda bou ber
quem tem um espelho que dá tais visões
ou é a rainha má das matrafonas da gay eurropa
ou tem mais pó en cima ca eurropa toda…
nã snifes tude quiço dá overdose ou overlord uma cousa assis
Um dos casos menores de injustiça colonialista eurropeia no mundo, o con frito israelo-palestiniano tem raízes na intolerância mútua entre colonos e colonizados
é tudo culpa dos gregos pá…zinho
Desde o eixo do mal bem armado e cinzentão à matriarcal Britannia rule the waves que despreza os seus aliados semi-animalescos
e os brutos do sul que são coisas inermes e cornudas hispanicas
esse tal de tomp son ilustra uma visão mais anglo-centrista do que os cartoons do Punch imperial…
é um mundo eurropeu dominado pelo bloqueio britânico
e sempre o foi…
quais mercas ou meias mercas…god y allah save the Queen e o mercury…fred
Sem duvida:
Se houver progresso humano — uma questão em aberto — a ascensão do resto do mundo é a melhor notícia para a Europa. E, na verdade, o resto do mundo não quer a desgraça da Europa.
Mas a Europa não está a ajudar!!!!!Nada!!!!!!
Qual o papel de Durão Barroso e mais uns quantos neste tempo?