Estúpida Europa: se tivesses emitido eurobonds não seriam agora os alemães a pagar as dívidas dos gregos, mas os países emergentes a pagarem-te a reconversão da tua economia. A União teria ganho um lugar no mundo. Em vez disso, a desunião regressou ao continente.
E, décadas depois, a visita da Chanceler da Alemanha a Atenas é de novo a visita de uma Europa a outra, divididas por uma fronteira mental. Os nomes dos lugares mudaram, a linha mudou também. Antes a cortina de ferro dividia a Europa em duas metades pela longitude: Leste de um lado e Oeste do outro. Agora as duas metades estão divididas pela latitude, entre Norte e Sul, por uma cortina da dívida.
Como foi suceder que uma visita de uma chanceler alemã a um país parceiro da União, coisa que ainda há poucos anos seria banal, sonolenta e quase indigna de menção, se tenha agora tornado numa questão de polícia de choque e gás lacrimogéneo, com a chanceler escondendo-se dos gregos e alguns gregos vestindo-se de nazis?
A resposta é que foi necessária uma enorme dose de ignorância histórica, mesquinhez e falta de visão. E a chanceler Merkel desempenhou bem o seu papel. Quando há dois anos e meio se descobriu que um governo grego tinha falsificado as suas contas, usou o povo grego como bode expiatório em plena campanha eleitoral e depois ficou nas mãos dos fantasmas que ajudou a soltar. Os seus eleitores ficaram convencidos de que qualquer solução para o problema grego (e depois irlandês, português, e por aí adiante) significaria “o contribuinte alemão pagar as dívidas dos povos do Sul” e foi assim que um problema de 50 mil milhões de euros conseguiu tornar-se numa crise existencial europeia.
Pior do que isso só a oportunidade perdida.
Barry Eichengreen é talvez o maior especialista mundial na história do dólar, e do “exorbitante privilégio” de que usufrui a moeda norte-americana como divisa de reserva mundial. Num artigo publicado ontem no Financial Times, o professor Eichengreen nota a vulnerabilidade do dólar após a atual crise, em particular a sua crescente dificuldade em dar liquidez e segurança a uma economia mundial em que pesam cada vez mais a China, o Brasil, a Índia, a Rússia e os restantes países emergentes. O título do seu artigo é lapidar: “Os dias do dólar como reserva mundial estão contados”.
O professor Eichengreen puxa pela cabeça para tentar encontrar uma solução de futuro para as insuficiências do dólar, mas nenhuma satisfaz: o yuan chinês não tem a liquidez necessária, os “direitos especiais de saque” usados pelo FMI nunca terão do Congresso Americano luz verde para um uso global, as obrigações de empresas privadas são demasiado fragmentadas.
A única economia mundial cuja divisa tem as características necessárias de dimensão, liquidez e uniformidade é — adivinharam — a da zona euro, cujos indicadores na dívida são muito melhores do que os do dólar ou da libra. Só há um azar: a zona euro não tem títulos da dívida.
Estúpida Europa: se tivesses emitido eurobonds não seriam agora os alemães a pagar as dívidas dos gregos, mas os países emergentes a pagarem-te a reconversão da tua economia. Terias resolvido a tua crise social, ganho o desafio ecológico, invertido a fuga de cérebros. Os biliões que te teriam emprestado a juros baixíssimos aqueles investidores em busca de um porto seguro teriam eclipsado o meio bilião da crise das dívidas soberanas. A União teria ganho um lugar no mundo. Em vez disso, a desunião regressou ao continente.
7 thoughts to “Estúpida europa”
Não tem nada a ver com o assunto mas, se me puder ajudar fico extremamente grato. Tive 4 enfartes o último dos quais em 14 dias de coma sou seguido nas consultas de cardiologia; sou hipertenso; sou diabético sou seguido nas consultas de diabetologia; já tenho os rins afectados e fiz hemodiálise sou seguido nas consultas de nefrologia diabética; tenho a vista afectada e sou seguido nas consultas de retinopatia diabética. Ora bem todos estes médicos não querem que eu trabalhe mais. Estou bem documentado àcerca de tudo o que afirmo. Mas como tenho 4 filhos e a vida não está nada fácil, tentei recomeçar a trabalhar, só que o patrão também não me queria e começou um assédio moral que cheguei à conclusão que mais valia ir para a baixa médica a ter um 5º enfarte. Pedi uma simulação ao CNP sobre a reforma com que ficaria (22 anos de descontos – o último ano com um ordenado líquido de 1.600,00 €) e a resposta é que auferirei uma reforma de 600,00 €. Porque é que sou penalizado desta maneira? Será legal? Uma vez que os médicos não querem que trabalhe mais e o patrão também não me quer ver pela frente. Se me puder ajudar fico-lhe extremamente grato pois até aqui só tenho encontrado dificuldades e o silêncio. Muito obrigado.
Subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos, desejando-lhe os maiores êxitos na sua actividade profissional,
Henrique Hamrol Pereira
B.I. nº 8487640 Arq. Ident. Faro
Morada: Rua Jornal “Correio do Sul”, nº 35 – 4º E, 8005-240 Faro
Rectificação:
Não são os alemães que estão a pagar as dívidas dos gregos, antes pelo contrário, são os gregos, os portugueses e outros que estão a pagar a dívida da Alemanha. Bastar olhar para as diferentes taxas de juro sobre as dívidas dos países da zona euro e para o finaciamento a taxa negativa da Alemanha.
Aliás, esta imposição dos chamados resgates e a política de austeridade que os acompanhou serviu para retirar dos bancos alemães a maior parte da exposição à divida dos países resgatados.
Dito de outro modo: os países agredidos com os planos da troika foram obrigados a resgatar os principais bancos, depois de anos em que estes estimularam as dívidas porque o negócio era bom.
E quem ganha mais que muito com o que os devedores pagam?
– A Europa que se faz de estúpida , como diz Edgar.
Os devedores não são europeus?
A europa credora ganha no curto prazo e terá de se adaptar à perda do mercado sulista que compra BMW Audis e até há pouco NOKias em barda
De resto a maior parte do crédito concedido à europa endividada é extra-comunitário e os juros associados idem…
países com superàvites há poucos e na europa são ainda menos
je ne sais pas quoi du val hier ou demain vale y azevedo c’est tout le monde vous savez…les militaires of course
c’est en bonne route la europe et ses péres et grand-péres….
já ses filles ton fodidas…
Talvez seja chegado o momento de “fazermos diferente” dos nossos governantes, de Sul e de Norte, e começarmos a saber dizer bem da Populaçao Alemã, Holandesa, Austriaca, e ELES, começarem tambem a dizer bem de nós: PORTUGUESES; GREGOS; ESPANHOIS:
Que se lixem os governantes, a Populaçao que assuma nao só mal dizer!
Todos nos colocámos a jeito para ser a Alemanha a mandar!!!!! Claro que a Alemanha tem dinheiro, mas se todos fizermos diferente, talvez todos fiquemos melhor.
Por outro lado é espantoso ver-se a inercia de tantos na UE! E o medo aterrador que têm da Sra. Merkel!!!!!!E ele vende Mercedes, Audi, BMW, e nós, ainda, ainda compramos…sao melhores?? ou….????’