As derivas verdadeiramente graves começam sempre por coisas pequeninas, daquelas que se pergunta: “mas que importância tem isso”?
E assim com esta questão dos feriados. Que importância tem isso? Pergunta-se. Afinal, é só o 1º de dezembro e o cinco de outubro. Afinal, o 1º de dezembro significa apenas a auto-determinação e o cinco de outubro significa apenas a república. São apenas ideias.
E depois paramos para pensar que ideias são essas. Como pode um governo ignorar a auto-determinação sem a qual não seria governo e nem haveria país para governar? E como poderá algum presidente da república promulgar a supressão do dia da república sem a qual ele não existiria?
Quem não respeita essas coisas pequeninas que são as ideias — as ideias que nos unem, as ideias que lhes dão existência, mesmo que eles não saibam — não é certo que respeite o resto. Auto-determinação e república não são umas ideias quaisquer. São as ideias que permitem que se diga que existe uma “República Portuguesa”. São assim, perdoem a comparação tão chã, como as dobradiças de uma porta — a que também se chama “gonzos”, ou “engonços”. Sem dobradiças, uma porta é apenas um pedaço de madeira.
Ora, tudo na nossa forma constitucional de governo, na nossa democracia, e até na nossa existência independente, gira em torno das duas ideias tão simples que estão por detrás da expressão “República Portuguesa”. Que um governo consiga menosprezar ambas ao mesmo tempo só parecerá uma coisa pequena até ao momento em que entendermos que o resto — a descrença dos cidadãos, o sofrimento dos mais fracos, a liberdade de expressão independentemente das conveniências, uma noção daquilo que significa o interesse público, a manutenção de uma espinha dorsal neste país que vai para nove séculos, por mais lixado e endividado que esteja, mas com opinião e dignidade, raios — são também coisas que eles não entendem. E aí tudo fará sentido, e não será ainda tarde.
Tal como muito se pode tirar das duas palavras “república portuguesa”, também a interpretação destas duas simples palavras “união europeia” nos dirá tudo o que precisamos acerca de tudo que está mal. Neste momento não há união nem europeia.
Quanto à “união”, a senhora Merkel e o senhor Sarkozy não querem apenas uma coisa obtusa. Querem uma coisa impossível. Nunca na história da humanidade houve uma união monetária sustentável sem um instrumento de dívida comum (os eurobonds, neste caso). Nunca quer dizer nunca, desde que as cidades italianas o tentaram no século XIII até ao momento em que os EUA descobriram que a independência deles não duraria mais de quinze anos sem emissão de dívida que salvasse o dólar e os estados federados.
Quanto à “europeia”, a sua base histórica contemporânea está naquilo a que um autor dileto do nosso Presidente da República — Thomas Mann — chamava a necessidade de haver uma “Alemanha europeia” que não abusasse do seu poder ao contrário de uma “Europa alemã”, que acabaria fatalmente por destruir ambas.
Ao ver um diretório governando a Europa, retirando-nos quaisquer condições de crescimento económico, e a insistência alemã em destruir a soberania dos endividados, talvez cheguemos à conclusão de que teremos de regressar aos três “D” do 25 de Abril. Democracia, desenvolvimento e descolonização. Só que, desta vez, os descolonizados seremos nós.
6 thoughts to “Desengonçado”
Rui, excelente nota.
Quanto aos feriados, a decisão é muito apropriada para quem nunca estudou história mas que, nas posições que ocupam, tinham obrigação de preservar a memória histórica de um dos Estados mais antigos do mundo com as mesmas fronteiras e de uma das repúblicas mais antigas também.
Especificamente quanto ao 5 de outubro, sempre o celebrei duplamente (coisa esquecida por quase todas e raramente mencionada): celebrando o Tratado de Zamaora de 5 de outubro de 1143, e a implantaçao da república em 1910. É, por isso, para mim, o mais importante feriado que se celebra em Portugal.
Um abraço
Até que enfim que regressou!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Estava a fazer falta!!!!!!!!!
Quanto aos feriados, independentemente do “conteudo” de cada um, ou melhor, para além, do conteudo de cada um , é um disparate, uma aberração, achar-se que estar mais tempo “no local de trabalho” equivale a aumentar a produtividade.
Nem Salazar no seu – dele – melhor tal imaginaria…é horrendo…..
Só se melhora a produtividade com produtividade, com uma melhor organizaçao, que vai do topo à base. Do topo….temos maus patroes e claro maus empregados…daí a nossa menos boa produtividade…
Mas ir pela reduçao de feriados, aumento de meias horas,etc…não, não!!!!
Mas vamos docemente ao fundo….sem feriados…..
A culpa é de todos…todos, até nossa!!!!!!!!!!
augusto Küttner de Magalhães
o 1º de Dezembro significa o sacrifício dos Braganças
que nos deram livre a nação….
já em 1637 os que nos deram livre a nação…parte 1 foram esquartejados e coiso e tal
estranhamente os milhares que nos dersm livre a nação em Montes Claros nunca tiveram um dia
só os que a república maçon fez cair em la Lys tiveram o 6 de Abril
feriados que o tempo tece
feridas que o tempo esquece
olha faltou um aaaaaaah….
assinado : tataraneto de um cego maneta de montes claros
que não tinha senha para o 1º de Dezembro
o 5 de Outubro..permitiu a um dos bisavôs da gente meuda deixar de ser um dos muitos juizes de paz analfabetos que serviam el-rey e porem um meio-irmão no lugar…
outro bisavô da gente meúda arranjou lugares de guarda nacional republicana para uns filhos uns de caceteiro político para outros e as terras dos morgadios e da igreja para os seus (mas eles eram tantos que as terras não chegaram para trouxas tantos…ou tontos…
foi assis um tempo de esperança para os pequeninos e para os filhos incógnitos da gente que de pequena se fez grande…
mas durou pouco…a revolução para acabar com toda a corrupção..
já vinha desde o mestre…
de avis em aviso
passou o 26 de Maio o 25 de Avril o 5 de junho…de 2011…
felizmente a corrupção acaba a 21 de Dezembro
é claro que tamém para os que vai acabar
começa a corrupção das carnes
é fatal
ou fatela
ou
Continua, Caro Rui, em grande forma no Público.