Em nenhum momento se parou para pensar no que são estes feriados, e o que eles significam. E nisto deu a aberração de estar para acabar o 1º de dezembro, que significa simplesmente a auto-determinação, mas não acabar o 8 de dezembro, que significa a Nossa Senhora da Conceição.

Influenciado pelos meus professores da faculdade (não estudei diretamente, nem sozinho, a época em questão) faço quase sempre questão de precisar que entre 1580-1640 o nosso país viveu sob uma “união dinástica” e que, formalmente, não perdeu a sua independência. Seguindo esta raciocínio, o 1º de dezembro de 1640 não teria restaurado a independência nacional, o que não quer dizer que a restauração de uma dinastia nacional não tenha sido crucial para a nossa história até hoje; na verdade, todas as coroas que estão estavam unidas na Península Ibérica acabaram por ser incorporadas no Estado Espanhol, e sem o Dia da Restauração é bem possível que isso tivesse também acontecido a Portugal.

Um país independente é, de todas as formas, uma coisa muito bonita — e só não o entende quem não pára um momento para pensar no que é não ter direito de auto-determinação por via do referendo ou ter tido a língua nacional proibida e perseguida, coisas que de uma forma ou outra ocorreram às nacionalidades históricas de Espanha em décadas recentes — e não é de estranhar que seja dado a algumas simplificações inevitáveis na comemoração do seu passado. Oficialmente, o 1º de Dezembro é o dia da Restauração da Independência.

Não deixa de ser uma pequena tragédia que talvez o tenhamos comemorado pela última vez na semana passada. Que raio, a auto-determinação já não é importante para um país pequeno com uma história grande e sem fronteiras naturais? Nesse caso, talvez esta pequena tragédia seja apenas o sinal de uma grande tragédia: a de que para muita gente, a começar pelos representantes do povo e pelo governo eleito, não lhes diga nada a auto-determinação sem a qual eles não estariam onde estão.

O debate sobre os feriados é, aliás, revelador de uma forma cada vez mais profana com que se lida com as coisas de que se constituem um país como uma comunidade politicamente organizada. A partir do momento em que se instituiu o lugar-comum de que “Portugal tinha feriados a mais” que custavam “x milhões” cada um, passou-se à sofreguidão de ver quem queria cortar mais e com menos critério, todos desejando provar que eram mulheres e homens sem sentimentalismos. A isso chama-se falta de cultura, no sentido mais profundo.

Depois, seguiu-se o inevitável momento em que se discutiram feriados “da igreja” e “do estado”, como se todos os feriados não fossem os que determina a lei da República, e claro que tivemos direito à barganha da igreja que “dá” dois feriados se o estado “der” outros dois.

Em nenhum momento se parou para pensar no que são estes feriados, e o que eles significam. E nisto deu a aberração de estar para acabar o 1º de dezembro, que significa simplesmente a auto-determinação, mas não acabar o 8 de dezembro, que significa a Nossa Senhora da Conceição.

Portugal não tem assim tantos feriados, embora provavelmente tenha alguns feriados dispensáveis. Enquanto país, precisará de comemorar a sua auto-determinação, sem a qual não teria continuado a existir independentemente (1º de dezembro); enquanto regime republicano tem o 5 de outubro, que não devemos extinguir após termos comemorado o seu centenário proclamando a sua grande importância; enquanto democracia temos o 25 de abril, onde celebramos a liberdade. O 10 de junho, Dia de Camões, celebra o próprio povo português e faz sentido que seja o dia da Língua Portuguesa.

Entre os dispensáveis estão o 8 de dezembro, o Corpo de Deus, o 15 de agosto, e o Dia de Todos os Santos. Se querem cortar quatro, são estes.

12 thoughts to “Uma pequena tragédia

  • A itália não era uma cornucópia de estados?

    A reunificação de uma coisa que só esteve unida no império romano, também não destruiu a identidade de napolitanos, sicilianos, sardos e doutros linguajares menos próprios

    Os regionalismos e a independência económica das províncias também não foram destruidos pelo estado central lisboeta?

    ou ter tido a língua nacional proibida e perseguida, coisas que de uma forma ou outra ocorreram às nacionalidades históricas de Espanha em décadas recentes….muito recentes

    e nem a curta harmonização franquista as conseguiu extinguir

    já a democrática grã-bretanha extinguiu de facto línguas vivas e regionalismos que hoje só aparecem no papel e nuns quantos sinais topográficos

    e independência de espanha nunca tivemos (alimentámo-nos das suas sobras (ou comprámos mais caro o trigo australiano e argentino)

    a lã veio de contrabando pAra as fiações da covilhã
    a água cada vez veio menos ou mais consoante suas vontades

    entre os dispensáveis estão todos
    (um dia nacional como o fascista 10 de Juin ou termos

    6 dias nacionais 8 de Dezembro incluido pois é o dia em que Deus nos deu o arraial de fátima

    sem Nossa Senhora não tinhamos a Lurdes de 2ªclasse que contribuiu para a nossa independência das peregrinações de santiago a lourdes e à terra santa
    que tanto milhão nos custaram desde camillo a eça passando pelos exemplares que vão por via aérea

    cá por mim o dia do zé do telhado e do remexido deviam ser feriados populares

    porque contrariamente aos de Santo António e de S.joão foram os únicos dias em que o povo teve independência dos seus donos

    (que fossem Mários ou Silas Zapateros tanto nos faz)

    e se em vez dum fidalgote a soldo de Espanha tivessem atirado todos os que tinham lambido as sobras de Castela

    nem 40 conjurados arranjavam

    se o Manelinho de Évora tivesse sido rei..ou um repubicano maçon e laico

    atão é quera um dia pra comemorar….

  • Manuel Maria Augusto de Kuttner Magalhães

    O 1ºde Dezembro é um dia sagrado por muitas e boas razões.

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Muito oportuno, texto, uma vez mais.

  • Gustavo

    Eu não poderia estar mais de acordo mas, ainda assim, pergunto: para quê acabar com feriados? Provavelmente pela mesma razão que não se dá tolerância de ponto à administração pública ao fim de semana. Ou seja: nenhuma.

  • Rosa

    Porque considera esses quatro feriados dispensáveis?

  • joaozinho

    Caro Rui,
    Como historiador que é, podia esclarecer porque motivo no 5 de Outubro celebramos apenas a instauração da República e nunca se fala na celebração do Tratado de Zamora, que de facto formalizou a independência de Portugal. Não seria também lógico comemorar esse evento?

  • Paulo

    Os portugueses comemoram o Natal, alguns como festividade religiosa, quase todos como festa da família. Batem panelas e bailaricam na noite de Ano Novo. Alguns rezam na Páscoa e curtem o Carnaval. Festejam os feriados das suas cidades: seja o São João, seja o Santo António, seja outro santo a propósito. Alguns – já poucos, mas ainda os há – gostam de sair à rua no 25 de Abril e no 1º de Maio.

    Creio que é tudo. Os demais feriados são para ir para a praia, fazer uns arranjos lá em casa, e coisa e tal. O 5 de Outubro só é comemorado oficialmente, a Restauração, idem, idem, e o dia de Camões só é cantado quando calha em dia em que joga a selecção e o Ronaldo marca um golo. «Feriados da igreja», esses, então, nem vale a pena falar: o dia das Bruxas calha na data de um deles e já é muito mais popular.

    E quanto a termos preferido a Nossa Senhora da Conceição à Restauração, tem a sua lógica: afinal, usámos a democracia para escolhermos um governo estrangeiro, cujos comissários têm como estratégia de crescimento económico o fiarem-se na Virgem.

    Cumprimentos.

  • Maquiavel

    O historiador que é poderia deixar claro que o “Tratado de Zamora” é uma invençäo (tipo “Cortes de Lamego”), propagada pelo Estado Novo. Até convinha retirar alguma carga ao Dia da República, com quem o fascismo sempre teve engulhos. E por isso o governo salazarento actual o suprimiu.

  • O Biriato soromenho é o Keiser Raporta putogoes

    o 24 de Julho a feriado nacional

    já ahora o 28 de Fevereiro deu o quê?
    écaqui há duas ruas 28 de Fevereiro…deve ser daquando o Gregório inventou os anos bissextos

    fredag 23. desember 2011
    OLIVEIRA MARTINS – NÃO HÁ HISTÓRIA DE PUTOGAL MAS MERAS MANTAS DE RETALHOS FALSAMENTE UNIDAS POR FALSOS FIOS DE OPOSTAS IDEOLOGIAS
    OS SESSENTA ANOS DE CAPITAL EM MADRID

    NÃO SÃO O VÁCUO QUE OS FALSOS PATRIOTAS CRIARAM

    NEM A FEITORIA CHINOCA NA EDP É A PERSONIFICAÇÃO DO PERIGO AMARELO

    O PROBLEMA DA DEPENDÊNCIA NACIONAL OU DA SUA INDEPENDÊNCIA

    NÃO TINHA ATINGIDO O GRAU DE HISTERISMO DOS NOSSOS DIAS

    O NACIONALISMO DE CADA UM ERA SER BEIRÃO DE GOUVEIA OU CÃO DE ALCAINS

    SER MOURINHO DE ALCÁCER OU NEGRO DE OEIRAS

    AS GLÓRIAS LUSITANAS SÃO ESCRITAS E IMPRESSAS EM CASTELHANO E ÓDESPOIS

    É NAS CLASSES MAIS BAIXAS QUE A AUSÊNCIA DE REI EM LISBOA PARECE PIORAR SUA SORTE

    MAS COMO QUALQUER MÃE DE BRAGANÇA PODE DIZER

    PASSAR DE PUTA ESPANHOLA A PUTA BRASILEIRA NÃO DEU GRANDE VANTAGEM

    A QUEM POUCO PHODE

    MAI BALE SER PERRO DE CASTILLA QUE CADELA DE BRAGANÇAS

  • O Biriato soromenho é o Keiser Raporta putogoes

    e o dia em que D.Afonso disse não pagamos a castilla y leioa….

    e se leioa é basca puqué catinham um rey que nem euskadi charlava?

    é quisto das identidades nacionais culturais

    nem dá mau pão nem bom vinagre

  • Batik num é batoque

    é só agente dizer que nõ paga queles põem-se finos

    disse o Egas Moniz

    eu ódespois levo lá os meus servos com uns baraços e digo-lhes enforquem ai a minha famelga queu não pago

    era um bom dia pra comemorar a dependência do trigo ibérico…

  • Batik num é batoque

    28 de fevereiro de 1904 é o benfica só cas ruelas têm já uns 150 anos

    e comemorar os 100 anos do benfica em 1904 ou em 1930 é duvidoso

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