Não odeies. É simples. É para todos. É difícil. Não odeies.
A contragosto mergulhei na leitura das 1500 páginas Anders Breivik publicou antes de sair da sua quinta norueguesa para provocar explosões no centro de Oslo, dirigir-se ao acampamento de Utøya e matar a sangue-frio dezenas de jovens.
A leitura reforçou a minha primeira impressão de que estamos mais perante um fanático do que perante um louco. O que ele escreve é arrepiante, muitas vezes mentiroso, mas ele sabe o que escreve e por que escreve, quando lhe é útil mentir ou não mentir.
Sabe também que palavras usar. Nunca diz que o seu opus é um “manifesto” (palavra que erradamente tem sido usada) mas um “compêndio”, ou seja, um conjunto de textos que pretendem abranger um tema. O compêndio dele tem pelo menos uma meia-dúzia de partes. Numa das primeiras, tenta explicar como o “marxismo cultural” tomou conta do Ocidente a partir dos anos 60. Noutra, tenta provar que demograficamente os muçulmanos dominarão a Europa. Até aqui, nada que não tenhamos lido no conservadorismo mais rebarbativo, com o mesmo manipular de dados e excitar de fobias. Noutra parte ainda, analisa em detalhe a lei canónica para demonstrar que é lícito aos cristãos usar da violência, matarem infiéis e martirizarem-se. Depois passa à explicação de como fabricar bombas ou que alvos atingir (universidades ou eventos literários onde se encontrem muitos “multiculturalistas”, por exemplo). Não entrarei em pormenores.
Aquilo não é uma coisa incongruente, tendo em conta as intenções do autor. Aquilo é um vírus. Depois de preso ou morto, Breivik desejava contaminar o cérebro de outros como ele. Seria uma excelente surpresa que não o conseguisse.
***
Como responder? Escrevo aqui enquanto “traidor de categoria B” (na qual Breivik inclui “políticos multiculturalistas, parlamentares europeus, escritores, conferencistas” a punir com execução e expropriação) e posso apenas dizer: não com prisões secretas, não com tortura, não com “rendições extraordinárias”, não com mais paranóia, não com discurso securitário, não com violação de privacidade a cidadãos não-suspeitos, não com interferências à liberdade de expressão, não com leis feitas à medida, não com estados de exceção, não com invasões de países, não com mentiras para as justificar, não com guerras de civilizações ou do que quer que seja. Não queremos nada disso, e não precisamos de nada disso.
Precisamos só de um mandamento para o século: não odeies. É simples. É para todos. É difícil. Não odeies.
Não me atreveria a propor amar o próximo, amar o teu irmão de outra religião — seria provavelmente considerado multicultural demais, relativista demais, efeminado demais, politicamente correto demais — e essas são as grandes vergonhas da nossa época, segundo parece.
Então fica assim — como mínimo denominador comum, ao menos, poderemos acertar nisso? — não odeies. Não odeies o outro. Não odeies o seu erro se queres amar a tua verdade. Não odeies a sua verdade se queres amar o teu erro. É simples. Não odeies nada. Eu disse que era difícil.
Não odeies sequer o ódio. O ódio quer ser odiado. O ódio deseja fervorosamente mais ódio. Tu, em resposta, não odeies — diz aos outros para não odiarem também — e pode ser que este século corra bem.
17 thoughts to “Um mandamento para o século”
Atrevo-me eu. Ama o teu próximo.
“Então fica assim — como mínimo denominador comum, ao menos, poderemos acertar nisso? — não odeies. Não odeies o outro. Não odeies o seu erro se queres amar a tua verdade. Não odeies a sua verdade se queres amar o teu erro. É simples. Não odeies nada. Eu disse que era difícil.” Brilhante
Um manda chuva para o século XXI também não dá…num mundo multi polar nem Manda Mento’s nem manda-chuvas
só ódios vários
em 1994 um milhão de tutsis e alguns milhares bastos de hutus
foram massacrados pela esperança de terras e gado
obviamente o ódio ajuda a matar os vizinhos
ou a expulsá-los como no Zimbabué…onde havia fazendeiros negros
e mesmo pequenos proprietários que perderam as suas terras
odiar o inimigo doutro clube ou partido ajuda a exterminá-lo e a repartir a sua herança
mesmo que ela seja magra….
jeudi 28 juillet 2011
PINGANDO PALAVRAS QUE SÃO NÚMEROS NO VAZIO DAS IDEIAS
NAVEGANDO NO VAZIO
NUMA EUROPA ESSE TITANIC DE 1ª’S CLASSES FEITO
ESBURACADA E CHEIA DE REMENDOS PROVISÓRIOS
VIVEMOS NUM MUNDO DE EPISÓDIOS INSIGNIFICANTES
o fanatismo também nasce da inveja
pela prosperidade ou fertilidade alheia…
é o mandamento do elevador apinhado
a ti que te piso os calos não me odeies
eu já vi um tipo com pernas artificiais levar com uma cotevelada na cabeça de um miúdo barbudo porque não se levantou do lugar na carreira….uma daquelas que passa em frente á rua Augusta
2007 acho …na dúvida dá-lhe uma bordoada
pode ser que esteja a fingir
pessoal que é capaz de matar por uma apitadela de buzina
ou de um lugar nos transportes púbicos
e dizer não odeies?
pessoal que usa o carrinho de bébé com bébé dentro como arma de arremesso para os coxos e velhos que andam devagar cairem ou acelerarem
e dizer não ó dei és?
se calhar és…
Não Odiar
Yes we can….
e também sabemos matar sem ódio…
eu não odeio os mosquitos
mato-os por necessidades mesquinhas
mas mato-os na mesma
ocupam o mesmo espaço que yo…
Não só por isso, mas também porque me levou a reler o Levinas a a sua “Totalidade e Infinito”, obrigada, Rui.
Os tempos estão de feição a alimentar ódios e rivalidades. O seu texto é de certa forma revolucionário.
Obviamente que compreendo o contexto dexta crónica. Mas acho que o momento em que ela surge serve como prova da insuficiência do “mandamento”.
Não odiar não serve nem chega para resolver os enormes problemas sociais que o mundo enfrenta. Não odiar não chega para uma Europa de cidadãos integrados numa comunidade coesa. Não odiar não resolve os problemas ambientais internacionais. Não odiar não resolve o problema da fome que ameaça milhões em África.
Uma indeferença educada não serve como denominador mínimo comum, não pode ser o caminho para a Europa e para o Mundo.
Ou para um concurso de Miss Universo
Quero a paz universal
Que não haja fome
E quero que todos sejam felizes
dizia há dias um gitano aeternitate commodis frui Iicere inanibus, quibus carere nolumus,silentio suspicioso, ódespois parou o carro pra leixar o outro atravessar, mas o outro fingiu que não biu, atravessou só a timorense-cigana de 2ª geração com 2 filhos desde os 14 e um deles é capaz de ser de qualquer um dos dois
anfim o outro achateia-se puxa da luminosa e afinfa-lhe um carregador
nemo iam Ioquebatur de aranea, suspiciosi ei mihi iterum provincia,
mas a tia de ambos mete-se de permeio e impede a ida ao hospital distrital e o gajado dizer que tinha esburacado a peitola ou us antebraços a limpar a arma
há dois anos um acertou dois tiros no esternocleidomastoideu na inserçõn da clabícula e na dita mastóide a limpar a arma e curiosamente o Garcia da horta morto há anos salbou-o ut commodis vestris prospidalll, hormh studiorull lau cum depossito tranquillitate commotis coeperit fluctibus {mare} frangari.
Quando gitano pessoal da gandaia ou pescador nã odiar burguesinhos
filhos de famelga que dominam estes burgos há séculos
e se dizem de esquerda mas nunca labutaram nada nas suas vidas
ou as galinhas têm dentes
ou estamos todos na mesma classe
mas até os miseráveis têm élites
logo dá nã
goodbye ó iletrado letrado…
fanático como é bom de ver como todas as élites políticas ou outras
Mas a Europa tem que fazer valer os seus valores também: actos de sahira, veus islâmicos, etc..mormons, turcos, indiano tm de ser banidos. Não podem usar.Paciência vistam-nos e façam lá as rezas a Alá nas terras e culturas deles…Na Europa serão europeus e acabaríamos os “ódios”, uma vez que com essar regras e regrazinhas esses povos se guetizam e são alvo fácil de odio e mais ódio.Além disso as cidades devem deixar de seguir arquitecturas adaptadas…complicado, soa a xenófobo? Não, é o realismo. Tb quando vou aos seus países somos obrigados a usar determinados costumes…só que somos turistas e por vezes presos pela polícia dos costumes..ao passo que no inverso eles são os imigrantes.
Eu diria que é uma brilhante solução, simples e apelativa. É curioso que esse mandamento não esteja inscrito nos 10 mandamentos canónicos, mas isso seria esquecer que estes são atribuídos a Moisés, muito anteriores ao “amai o teu próximo”. É preciso dizer que o que se pede a um verdadeira cristão (“amai o teu inimigo”) vai muito para além do que o Rui sugere (“Não odiar”), mas se a cultura Cristã não consegue funcionar como antídoto automático à narrativa de Breivik (curioso como vejo tantos a maldizer Breivik mas depois quando chega às suas ideias, “pois”, “ele até tem ali alguma coisa”), talvez devêssemos encarar a possibilidade desta não estar a ser levada tão a sério como se deveria. E se amar ao teu inimigo é demasiado difícil para se pedir, talvez se devesse começar com algo mais fácil, “Não odeies”! Baby steps!
atão o desta semana….é a crise
ou as férias
Caro Rui Tavares, a primeira reacção que tive ao ler este seu texto, foi a de o achar brilhante.
A segunda foi de desconfiança. Gosto de desconfiar de textos políticos brilhantes. Renunciar ao ódio não será conformismo? Indiferença? «É simples. Não odeies nada. Eu disse que era difícil.» É assim tão difícil? Já tenho cinquenta anos. Com a idade, vai-se tornando cada vez mais difícil odiar. Não por virtude. Porque cansa.
Depois li o primeiro comentário ao seu texto, que reclama o valor de Cristo. «Ama o teu próximo.» Talvez Cristo tenha feito asneira. Bem intencionado, enganou-se. Amar quem não nos ama, incomoda quem é amado. Pode até levar à raiva e ao ódio, e então se tais sentimentos já estiverem presentes, a coisa não é mesmo para melhorar.
Daí, a minha terceira reacção ao seu texto foi de talvez. Talvez. Talvez não odiar, simplesmente, seja o melhor caminho. Talvez seja o mais prudente, sábio, essas coisas. Amar é irrealista, violento e perigoso. Odiar é perigoso, violento e estúpido. Não odiar, simplesmente. Sabe, afinal o seu texto já não me parece tão brilhante como isso: Pode ser que você tenha razão. Não odiar. E até pode ser que este século corra bem.
Cumprimentos.
Caro Joao Soares, se os valores da Europa contemplam liberdade e igualdade, eu quero ter a liberdade de escolher o que visto, o que leio, o que oiço, que religiao tenho e como a professo.
Sim, a Europa tem de fazer valer os seus valores e o problema é esse. Ao interferir na forma como eu professo a minha religiao, o Estado está a quebrar a barreira de separaçao do Estado da Igreja (ou Mesquita, ou Sinagoga, ou, ou,…). Há várias formas de segregaçao e nem todas implicam braçadeiras com cruzes de David.
Deduzo pelo seu comentário que suporta essas braçadeiras. Aliás, com essa bela linha do “na terra deles” até deve apoiar os massacres da Noruega, pois é isso mesmo que defendia o seu perpretador. Claro que se torna perfeitamente irrelevante que a terra deles, é a sua.
Na questao da imigraçao, o senhor vai aos países deles para lavar retretes por menos do que o salário mínimo? Ou trabalhar nas obras por um saláario apalavrado que em alguns meses nem o vê? Se sim pode comparar a sua situaçao de turista com a de imigrante, se nao faria melhor em calar-se com essa demagogia populista e bacoca…
Esqueci-me no meu comentário anterior de referir que a lógica do “faz aos outros o que nao gostas que te façam a ti” também me parece de uma grande elevaçao de espírito, mesmo aquilo que se quer para a Europa…
Sem ódio – impor a lei
Sem ódio – conter quem ameaça as liberdades
Sem ódio – combater quem ofende as liberdades
Sem ódio, mas sem tudo relativizar e sempre vacilar
felizmente a juventude tem muita energia
não odiar é coisa de acomodados
odiar até morto de fome se consegue