Helena Matos tem um historial de, em citações e interpretações de textos de outros, nunca conseguir ser fidedigna. Mesmo assim, como é que mesmo ela consegue ler a seguinte passagem de uma entrevista minha e nela descortinar “cumplicidade” com alguns dos piores facínoras da esquerda. A passagem, nesta entrevista à Pública, é esta:
«A família é a esquerda, o que quer dizer que quem é de esquerda é meu primo de uma maneira ou de outra. Isto foi muito mal entendido quando disse que é a mesma família do Sócrates. Eu sou de esquerda e ele é de centro-esquerda. Não tenho de gostar dos meus primos todos, há primos que fazem coisas muito erradas, há primos que defendem a Coreia do Norte. Não pago dívidas pelas dívidas dos meus primos, os erros dos meus primos são erros dos meus primos. Mas são pessoas que se reclamam da esquerda. Não posso dizer que só é da esquerda quem é como eu sou. As espécies: sociais-democratas, republicanos clássicos, mutualistas, libertários de esquerda, marxistas, não marxistas. E podem coexistir muitos bichos.»
E a conclusão de Helena Matos neste post do Blasfémias — e que eu saiba, em tanta gente que me comentou aquela entrevista, mais ninguém chegou a tão peregrina interpretação é a de que “Esta cumplicidade [àquele circo de excentricidades temíveis que a esquerda protege mesmo que esses protegidos tenham práticas assustadoras como aconteceu como Mugabe, Arafat, Chávez, a ETA…] está estampada numa entrevista de Rui Tavares à PÚBLICA”
Ao ler tal coisa deixei um comentário ao post de Helena Matos, que repoduzo aqui abaixo. Espero que Helena Matos corrija o que disse. À primeira pode ser um problema de literacia. À segunda já só poderia ser má-fé.
cara Helena:
acho que na citação que fazes dessa entrevista, tal como noutras partes da mesma entrevista (quando eu digo em relação ao leste/roménia até 89: “não se pode defender aquilo, é indefensável”), deixa absolutamente claro que não sinto “cumplicidade” nenhuma com criminosos de esquerda, pelo contrário. o facto de eles serem ou terem sido de esquerda não me faz cúmplice, mas obriga-me a denunciá-los com tanta clareza como faria em relação à direita, e ainda com mais consequências para mim e para as outras pessoas de esquerda. Eu não “protejo” Mugabes ou Castros, só o pensamento me daria náusea — denuncio-os, e combato-os à minha medida. O termo “cumplicidade” está assim incorretamente usado no teu texto, espero que tenhas consciência disso e que o corrijas.
Eu não sou cúmplice do meu primo se ele cometer um crime. Não posso é negar que ele seja meu primo — tentar alegar que “o Sócrates não é de esquerda” ou “a URSS não era de esquerda”, como muitas vezes se diz para tentar fazer passar a ideia de que a esquerda nunca erra. A esquerda erra sim, e já tem errado de forma trágica.
E sim, acho que as pessoas de direita deveriam fazer o mesmo.
Bom ano para ti,
Rui Tavares
One thought to “O original pecado de Helena Matos”
Bem…
Já dizia Cipião, o Africano que “Luna tuta a lupis” e só por “solidariedade de género”, – que a Helena certamente rejeita – vou manter o adágio em Latim e evitar o equivalente em Português que é, no mínimo, bem menos poético…