Os países que venceram a Grande Depressão fizeram-no assim, mobilizando a população desempregada, não desperdiçando as suas forças, dando às pessoas uma oportunidade para resolverem em simultâneo os seus problemas.
Sábado estive na manifestação da CGTP — e perguntava-me como pode um país desaproveitar tanta gente.
O individualista mais empedernido não deixará de reconhecer que uma multidão com objetivos comuns consegue coisas incomuns. Se as escolhas são claras e as opções em cima da mesa são colocadas de forma honesta, tornam-se superáveis as mais difíceis crises. Os países que venceram a Grande Depressão fizeram-no assim, mobilizando a população desempregada, não desperdiçando as suas forças, dando às pessoas uma oportunidade para resolverem em simultâneo os seus problemas e os da conjuntura. Não teriam vencido a crise contra as pessoas; vencê-la com as pessoas parece mais fácil — e não parece que haja outra maneira.
Ser democrata é, hoje, talvez a atitude mais inconformada que há. O conformismo é que está hoje — se não o foi sempre — antidemocrata por natureza. O inconformismo e um plano podem ganhar as próximas eleições presidenciais (espero que Alegre não se esqueça disso, agora que tem o apoio do PS) mas, acima de tudo, podem ganhar um país.
Mas a democracia como inconformismo vai mais longe. Já repararam que não há ninguém, no governo da Europa, que tenha sido eleito por todos os europeus? Durão Barroso foi escolhido por 27 chefes de governo (e confirmado pelo Parlamento), Van Rompuy também (e confirmado por ninguém). Angela Merkel pelos alemães apenas, Sarkozy pelos franceses e por aí afora.
Considere-se uma ideia radical: a eleição direta do governo da Europa — ou, pelo menos, do chefe da Comissão. Só isso permitiria que alguém dissesse aos chefes de governo dos estados-membro: “sim, eu sei que as vossas preocupações de alemães ou gregos são legítimas — mas eu tenho de pensar nas preocupações de todos”. (Recentemente o estado do Rio de Janeiro organizou manifestações porque quer que o petróleo que foi encontrado ao largo das suas costas seja considerado principalmente seu. Porém, Lula pode dizer que não foi eleito apenas pelos cariocas, mas também pelos índios da Amazónia, os caboclos do Nordeste ou os alemães do Sul. Ninguém desempenha esse papel na União — e por isso não há agora ideia mais radical em Bruxelas do que a simples democracia.)
A democracia como inconformismo vai não só mais longe, como mais fundo. O mercado de trabalho tem gerado uma multidão de desmotivados, segmentada em duas gerações: uma de precários e outra de postos de lado. Para uns e outros, o mercado de trabalho é uma realidade basicamente antidemocrática. Para os que estão empregados, o local de trabalho também o é — e com isso se torna incompetente, desperdiçador e cego à sua função social.
Vivemos assim num limbo político. Sim, porque podemos perder a democracia sem cair em ditadura, e não é preciso ir buscar exemplos históricos para esta. Isto é o que se tem estado a criar à frente dos nossos olhos. Aqui perto, nos governos que ainda agora foram eleitos e quebram todas as suas promessas. Um pouco mais longe, na criação de uma “censura prévia” europeia aos orçamentos dos estados-membro. Já fora da vista, na sujeição às arbitrariedades de atores não eleitos (como as agências de notação, e não só). Junto a cada um de nós, na sensação de que já não contamos para nada.
Porque a verdade é esta. A democracia pode acabar com a crise, mas a crise está mais perto de acabar com a democracia.
3 thoughts to “Como a democracia pode acabar com a crise (e vice-versa)”
Uma boa maneira de “desaproveitar tanta gente” é, nesta altura do campeonato, vir equacionar a “eleição direta do governo da Europa … “. Aliás as pessoas não estão interessadas em soluções radicais, basta-lhes as soluções. Com franqueza … o nosso mais original fazedor de opiniões também tem os seus momentos menos inspirados.
A última intervenção do Rui Tavares no programa Prós e Contras foi patética. Especialmente patética quando abordou a questão dos submarinos. Um historiador que não sabe a importância do mar, e dentro desta, da arma submarina, ao longo da história de Portugal, é um historiador que deixa TUDO a desejar.
Espero que seja tudo ignorância, e não má fé ou subserviência a interesses estrangeiros.
Nesta ordem de ideias, e para esclarecer os ignorantes (espero que seja este o problema) aqui vai um pouco de cultura:
Para que é que Portugal precisa de submarinos?
As ultimas declarações do almirante Vieira Matias, ao Diário de Noticias, referindo a oposição do antigo primeiro-ministro António Guterres, durante o seu governo ao plano de modernização da marinha, faz-me pensar um pouco sobre quais serão os pontos de vista dos nossos políticos, relativamente à arma submarina, e sobre que conceitos de estratégia em geral terão os nossos insignes representantes.
Quando se analisam as ideias de Mário Soares, (vide entrevista ao canal SIC-Noticias ainda este ano de 2004) que foi Presidente da República, até António Guterres, que foi primeiro-ministro, nota-se como fio director uma linha de pensamento relativamente ás questões de defesa. Tal linha de pensamento, que não é (longe disso) exclusiva de lideres de esquerda, pode-se resumir aos seguintes princípios, nunca abertamente declarados, porque politicamente incorrectos.
-1- Portugal é um país muito pequeno para valer alguma coisa militarmente
-2- Não é possível defender o país, porque as nossas forças armadas não seriam capazes de o fazer
-3- Como não somos capazes de defender o país, então, é melhor ou acabar com as forças armadas ou transforma-las numa espécie de polícia, que poderemos “arrendar” aos países “importantes”.
– 4- Só a União Europeia nos conseguirá defender de algum tipo de ameaça.
– 5- Portugal deve diluir-se nessa Europa, porque não sendo capaz de se defender sozinho, deve aceitar o que quer que seja que o eixo Paris-Berlim, e, muito mais grave Berlim-Paris-Madrid decidir e nos impuser.
Estamos portanto conversados, sobre o Europeísmo convicto de alguns dos nossos ex-governantes, (independentemente dos seus partidos) que explica em grande medida a situação de caquéctica penúria a que deixaram chegar as nossas forças armadas.
Primeiro deixa-se de investir, continuando no entanto a manter um numero de militares exagerado, com oficiais a mais, para o tamanho do país, que têm que continuar a ser pagos. Assim, o dinheiro disponível, que é pouco, vai-se, para pagar a oficiais excedentários e a estruturas caducas, muitas delas baseadas nas estruturas criadas durante o período da guerra colonial, e quando não – o que é mais grave – nas estruturas e ideias anteriores, a 1961.
A conclusão, é apenas uma. Com conceitos ultrapassados, no que respeita à defesa nacional, realmente não há nada a fazer. Portugal nunca poderá ter um exército, Força Aérea ou Marinha suficientemente grandes e armados, como outros países europeus, muito maiores e muito mais ricos.
Mas será que necessitamos de ter um grande Exercito, uma grande Marinha ou uma enorme Força Aérea?
A resposta é mais que obvia, e olhando para a evolução das principais forças armadas mundiais, é evidente: A resposta é:
Não!
Não precisamos de umas grandes Forças Armadas, armadas até aos dentes, para termos umas forças armadas minimamente operacionais. Considerando aqui, que “operacionais” implica serem capazes de desenvolver acção ou acções que consigam deter ou – acima de tudo – desencorajar, qualquer iniciativa, de qualquer potência estrangeira, que ponha em causa o nosso direito a existir como país, independente, em qualquer domínio.
A questão naval.
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A existência e a continuação de Portugal, como nação independente, deve-se bastante ao mar, e ás politicas ultramarinas dos governantes portugueses, desde D. João I. O país sempre teve uma dimensão muito maior que aquela que lhe corresponderia pelo seu tamanho, em termos geográficos, ou pela sua dimensão demográfica. É o mar que permite a tomada de posições importante no oceano indico, o domínio marítimo daquele oceano e do atlântico sul. Depois de 1640, com o fim da dinastia dos Habsburgos (Filipina) foi o mar, e as alianças então estabelecidas com a Grã Bretanha, que permitiram a Portugal voltar a reconstruir um império no Brasil, e é o mar que, depois do Brasil, torna possível a comunicação entre as colónias de Africa, Timor, Macau e a Índia.
Em 1961, a União Indiana, invade o então Estado da Índia Portuguesa, utilizando para o efeito uma parte considerável das suas melhore forças. A Marinha Indiana, equipada com porta-aviões, fragatas modernas e cruzadores, não encontra praticamente oposição, que não a da canhoneira “Afonso de Albuquerque” que é destruída no próprio porto, não sem antes ter resistido e respondido ao fogo inimigo, ainda que, estando em tremenda inferioridade numérica e de capacidade de fogo.
Salazar, pouco ou nada fez. Uma das razões apontadas tem a ver com a sua interpretação do pacifismo de Nehru, o líder indiano. No entanto, teria sido possível evitar o sucedido? A resposta é negativa. A diferença entre as capacidades da Índia e as de Portugal eram de tal forma, que nunca teris sido possível resistir. No entanto, se tivesse existido uma determinação em proceder á defesa, o resultado teria sido muito diferente.
Se, naquele tempo, tivesse sido possível a Portugal colocar um ou dois usbmarinos nas aguas do oceano indico, (independentemente dos problemas logísticos que tal poderia implicar), todo o desenvolvimento da operação teria sido diferente.
A simples existência de um ou dois submarinos no mar, altera o comportamento de qualquer marinha, quando esta faz o planeamento de uma acção.
Desde 1961, não houve nenhuma ocorrência de relevância, onde possa ser demonstrada a utilidade táctica da utilização de submarinos por parte de Portugal, mas isso não implica que por essa razão, os submarinos tenham deixado de ter um enorme efeito dissuasor.
O domínio do Oceano Atlântico, e o problema espanhol
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A visão norte-americana do mundo, normalmente distorcida por um sistema educativo tão eficiente quanto redutor, implica que, apenas as grandes nações, ou os grandes países têm direito a algum tipo de projecção e importância internacional.
Já durante o período de 1961-1974, os norte-americanos criticavam asperamente a politica portuguesa relativamente a África, mas o seu principal problema, não era que Portugal tivesse colónias, o principal problema dos norte-americanos, era que Portugal, sendo um país tão pequeno, tivesse tanto território.
Considerando esta visão norte-americana, a questão do domínio do atlântico, (que é vital para os Estados Unidos) aparece como um tema de grande importância.
Essa importância está expressa no apoio dado pelos norte-americanos a Espanha, desde que o ditador Francisco Franco, logrou romper o isolamento internacional a que estava votado desde o fim da segunda guerra mundial.
Esse apoio, a Espanha, é também o apoio a uma Espanha, que tenha capacidade para controlar a zona marítima que inclui os mares dos Açores, Madeira, Canárias, a costa portuguesa, a costa Africana até Cabo-Verde e naturalmente a costa de Marrocos, além, naturalmente, da costa atlântica espanhola.
O apoio dos norte-americanos vê-se a partir dos anos 60 e estes são alguns exemplos:
1- Fornecimento do porta-aviões “Dédalo”, (arrendado em 1967 e comprado em 1973).
2 -Fornecimento à marinha espanhola dos planos para a construção em Espanha das cinco fragatas da classe “Baleares” (1967 – 1975).
3 – Fornecimento dos cinco contra-torpedeiros da classe “Churruca” (1972 – 1978).
4 -Fabrico em Espanha das seis fragatas da classe americana “Oliver Hazard Perry” (1977 – 1984).
5 – Fornecimento completo dos planos do projecto SCS de navio de controlo marítimo, que resultou no porta-aviões “Príncipe de Astúrias” (1988).
6 – Enormes facilidades concedidas a Espanha, para a construção da versão espanhola do projecto NFR-90 adaptado para as fragatas/contra-torpedeiros da classe “Álvaro de Bazán”, completados com radares e sistemas electrónicos de fabrico e concepção 100% americanos.
É importante realçar, que enquanto o exercito e a força aérea espanholas, evoluíam, com a aquisição de equipamentos europeus (tanques franceses AMX, alemães Leopard-II, aviões franceses Mirage e europeus Eurofighter), a marinha espanhola, foi “carregada ao colo” pelos norte americanos, durante as ultimas quatro décadas.
A conclusão que de aqui se pode retirar, é apenas uma: Para os norte-americanos o tamanho do país, conta mais que o que quer que seja que defendam os seus dirigentes. Logo, de aqui se pode deduzir, que em qualquer circunstância futura, em que os interesses de Portugal estejam em oposição aos interesses de Espanha, os norte-americanos acabarão sempre por favorecer a entidade que mais vantagens lhes dará, ou seja Espanha.
Portanto, toda e qualquer capacidade que Portugal tenha para defender as suas aguas territoriais e a zona económica exclusiva, entrará em conflito com a visão compartilhada entre norte-americanos e espanhois de que é a Espanha que deve ser responsável pela vigilância e controlo das aguas portuguesas.
Portanto, a aquisição por parte de Portugal de dois submarinos do tipo U-214, cuja versão para Portugal se chamará U209PN, pode parecer de pouca importância, mas de facto não o é. Os submarinos adquiridos, em primeiro lugar, colocam Portugal á frente de Espanha na corrida para a modernização das suas frotas de submarinos. A Espanha que conta com quatro submarinos da classe Agosta, só estará equipada com submarinos com as capacidades dos submarinos portugueses, alguns anos depois de Portugal ter os seus U-214 operacionais. OS U-214, pelas suas características, nomeadamente por serem equipamentos extremamente silenciosos, podem “pairar” debaixo de agua, durante semanas, sem serem detectados. Pode, com os seus mísseis, atingir alvos a mais de 100Km de distancia, disparando mísseis sem ter necessidade de vir à superfície.
Os U-214, perante o conceito Espanhol, segundo o qual as aguas portuguesas são de facto suas para controlar, são uma ameaça a esse domínio.
Ao apresentarmos aos nossos aliados a compra dos submarinos como um facto consumado (que não deixou, curiosamente de ser criticado em alguns círculos da NATO, alegadamente – e segundo alguma imprensa portuguesa – com ligações ao governo de Madrid) estamos a dizer que esse domínio do nosso mar, não está garantido a ninguém.
Além disso, esta presença no atlântico, dá a Portugal uma importância estratégica maior, que tenderá a dar ao país, uma importância que decorre do seu mar territorial e da Zona Económica Exclusiva. Este importância permite a Portugal, ter um peso em termos internacionais, maior que aquele que teria pelo seu poder económico, dimensão territorial ou peso demográfico. Ontem como hoje, é o Atlântico que dá razão de ser a Portugal.
Outros cenários
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Para além dos equilíbrios estratégicos entre os países ibéricos, e da posição “atlantista” de Portugal face aos Estados Unidos, há outros cenários, onde a utilização de submarinos faz sentido. Os submarinos, podem ser utilizados em operações mais ou menos secretas, levadas a cabo por Portugal, na defesa dos interesses nacionais e dos interesses dos cidadãos nacionais. A cooperação com os países de expressão portuguesa, em Africa, e o eventual apoio a Timor-Leste, país cuja independência anda passa por um período de consolidação, são outras áreas onde este tipo de equipamento pode ser de uma importância determinante.
Podemos sempre dizer que, são apenas dois barcos caríssimos, mas a verdade é que, embora sejam apenas dois, a sua manutenção será mais rápida que a dos anteriores submarinos, pelo que a sua disponibilidade será em principio maior. Mas mesmo assim, a importância de possuir este meio com enorme capacidade de dissuasão, é para Portugal de uma importância transcendental.
Só se levantam contra este tipo de equipamento, aqueles que nunca estudaram a história de Portugal, não entendendo que em muitas alturas em que a nossa capacidade no mar falhou, esteve em causa a continuidade da nação. E, naturalmente, aqueles, que também por desconhecimento ou incapacidade de interpretar a história não entendem que sempre que nos apresentámos como militarmente mais fracos, sempre fomos objectos de cobiças alheias, nomeadamente daqueles que continuam a rejeitar a história e o nosso direito a existir como nação livre e soberana.
Não quero de forma alguma andar descentrado aqui destes textos.
Mas por vezes tenho-o feito. E vou-me permitir, uma vez mais fazê-lo.
Ao ler hoje no Público, o que o Rui Tavares escreve, estou totalmente em acordo.
E poder-se-ia dizer que o Rui Tavares escreveu o que se esperava que nestas circunstancias o Rui Tavares escrevesse. Logo também escreveu o politicamente correcto.
Caso viesse a prentender, podia facilmente adquirir a nacionalidade autriaca ou a israelita,(via judaismos ) (não sou crente….mas tenho ascenddencias directa.) pelo que também me sinto à-vontade para falar….
E tendo a noção, que Israel foi empurrado para “ali” dado no fim da guerra, ninguem pretender que ficasse por “aqui”.
E “ali” tem muitos inimigos à sua volta.Mas. Tudo tem limites. E neste caso entrou -Israel- num disparate desnecesario.
Claro que houve uma pequena provocação pacifica da Turquia – estou também à vontade, dado que acho que a Turquia há muito devia estar na U.E.) e Israel, caiu da maneira mais estupida e desastrada possivel.
Tudo tem limites, e aqui foram ultrapassados.
um abraço
Augusto Küttner de Magalhães