As actas das contrapartidas desapareceram da comissão das contrapartidas, presidida por um senhor que é hoje deputado do CDS. O deputado diz que as actas ainda lá estão. “Fonte conhecedora do processo” diz que elas “nunca apareceram”. Se pedirem a Paulo Portas, com jeitinho, talvez ele tenha a fotocópia.
A direita tem uma teoria nova: a “fadiga dos escândalos”. O que explica esta teoria? É simples. Internacionalmente, houve um escândalo com a Igreja. Nacionalmente, renasceu um escândalo com Paulo Portas. Logo, a direita acha que “as pessoas estão fartas de escândalos”.
Como é que eles sabem isto? É simples: a direita tem um aparelho, misto de detetor de metais e contador geiger, que se chama o escandalómetro. Quando utilizado em temperatura ambiente, dá sempre uma consequência clara e evidente. O escândalo vem do lado de lá: é um ultraje, o fim do regime! O escândalo vem do lado de cá: já cansa, pá, passemos a outro assunto.
Além disso, o escândalo nacional está relacionado com submarinos. Ora, em primeiro lugar, as pessoas não conseguem escandalizar-se com algo que raramente vêem. Em segundo lugar, os submarinos são essenciais para nós porque temos mar. Em terceiro lugar, os submarinos são muito mais seguros do que os aviões: a prova é que caem aviões na água e nunca ninguém viu um submarino cair no ar.
Outra razão, diz-me uma pessoa de bem, é que os escândalos anteriores tinham a ver com o caráter, e o caráter não tem preço. O escândalo dos submarinos tem a ver com dinheiro, que é um assunto de que não falam as pessoas de bem.
O contrato dos submarinos custa mil e duzentos milhões de euros, talvez um por cento do PIB vagueando pelas profundezas abissais. É quase aquilo que temos de poupar no défice este ano ou, como diria um certo boy do PS, “muito salário mínimo”. Segundo parece, vale o mesmo do que dois terços da linha de TGV Lisboa-Madrid. Só é pena a capital espanhola não ser à beira-mar. Matavam-se dois coelhos com uma cajadada.
Ainda mais extravagante é o processo de negociação dos submarinos.
Em primeiro lugar, há que perceber que precisamos de submarinos porque temos mar. Pense no mar, visualize o mar. Ouça as ondas a rebentar na beira da praia lusitana. Precisamos absolutamente de ter submarinos.
Depois, há que falar com alemães construtores de submarinos. Eles dizem-nos o preço. Nós dizemos “é caro”. Eles dizem: “temos outro preço”. Nós dizemos “mas este é vinte por cento mais caro!”. Eles dizem: “mas este tem contrapartidas”. E nós: “quais contrapartidas?”. E eles: “contrapartidas muito boas, que vão estimular a indústria nacional”. E nós: “então quero dois, com opção de três”.
Quando chega a altura das contrapartidas, descobrimos que os alemães não estão propriamente obrigados a dá-las. Como as pessoas de bem não falam destas coisas, nós não insistimos. Se insistirmos muito, talvez eles tenham de pagar dez por cento do valor das contrapartidas prometidas.
Mas isso não quer dizer que os portugueses não tenham ficado a ganhar. Segundo a prestigiada revista alemã Der Spiegel, houve pagamento de luvas e comissões a portugueses. Ou seja: as verdadeiras contrapartidas vieram antes, sob a forma de numerário entrado no país. O pior é se os nossos compatriotas compraram Mercedes com o dinheiro, desequilibrando a nossa balança comercial com a Alemanha.
Entretanto, segundo o Correio da Manhã – talvez não tão prestigiado quanto a Der Spiegel -, as actas das contrapartidas desapareceram da comissão das contrapartidas, presidida por um senhor que é hoje deputado do CDS. O deputado diz que as actas ainda lá estão. “Fonte conhecedora do processo” diz que elas “nunca apareceram”.
Se pedirem a Paulo Portas, com jeitinho, talvez ele tenha a fotocópia.
3 thoughts to “O escandalómetro”
De facto nunca ninguem vai conseguir ver cair um submarino no ar e aviôes vão continuar a ter que cair na água!
Mas para além das trapalhadas, agora das contrapartidas!! Nós como membros da Nato e a da U.E. e com uma abundante costa maritima, podemos e devemos vigiá-la, mas nunca com submarinos, temos que o fazer com barcos(navios..) de muito mais baixo custa e que andem – naveguem – à tona, para melhor ver, mais ver e até serem bem vistos e não custarem uma fortuna, que não temos….
Mas…..e …agora!!!!!
A.Küttner de Magalhães
Tenho uma barrinha de ouro e quero vender, mas não tenho nenhum tipo de certificado, nada, só a barrinha. Para quem posso vender? Banco? Caixa?Ourives?Joalheria? Alguém pode me dar dicas?
Caro A.Küttner de Magalhães,
O submarino é o mais barato dos vasos de guerra.
Por qualquer razão os Estados Unidos, super potência rica tinham porta aviões e a União Soviética, super potência pobre, tinha submarinos…