Primeiro, as más notícias. A extrema-direita cresceu em França porque durante os últimos quinze anos a liderança política em França deixou tudo na mesma entre 2002 e 2017, entre o pai Le Pen e a sua filha. Depois, aquilo que alguns não querem encarar: não se chega à presidência de França como Macron chegou sem ter acertado em qualquer coisa. Sobre esses dois temas escrevi a crónica de ontem no Público.
“A vitória de Macron, sem frente republicana, face ao taticismo e sectarismo de alguns — que aliás só se aperceberão do seu erro moral quando ele se transformar em erro tático nas legislativas — e com números avassaladores tendo em conta as circunstâncias, tem dois momentos reveladores. O primeiro é a sua assunção das bandeiras da União Europeia — em sentido literal. Quando Macron pede aos seus apoiantes para trazerem bandeiras da UE para os comícios, ele não está só a apelar a uma demonstração de europeísmo: está, acima de tudo, a apelar a uma rejeição do assédio cultural com que a extrema-direita francesa tinha conseguido fazer a política francesa envergonhar-se mesmo do mais tímido dos europeísmos. O segundo momento foi quando, ao contrário de Chirac, Macron decidiu debater com Marine Le Pen, acabando a hipocrisia que fazia com que a extrema-direita dominasse a vida política francesa sem que a política francesa a confrontasse olhos nos olhos. Macron aceitou colocar-se projeto-contra-projeto face a Le Pen. Foi feio, foi agressivo, foi brutal, mas foi eficaz: finalmente alguém disse umas verdades à extrema-direita eurofóbica.”