Um país só sabe o que quer fazer no mundo se souber primeiro aquilo que quer ser.

Portugal tem diplomacia mas não tem política externa, dizia José Medeiros Ferreira. Infelizmente, isso nunca foi tão verdade como nos últimos anos. No plano europeu, a nossa estratégia tem sido mais seguidista do que alguma vez foi. Na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, os mandatos do atual governo e Presidente da República saldaram-se pela humilhante adesão da Guiné Equatorial. No plano internacional, nada. Não se vê um fio à meada.

Tendo em conta isto, é difícil entender a iniciativa do Presidente da República ao escrever um prefácio aos seus discursos sobre “Diplomacia Presidencial”. Este deveria ser um dos últimos assuntos para o qual Cavaco Silva desejaria chamar a atenção no fim do seu mandato. “Chamar a atenção” é uma maneira de dizer: a leitura do dito prefácio, para lá de uma introdução teórico-constitucional, mostra uma progressão metódica de reunião em reunião tão imaginativa ou interessante como um livro de ponto.

Pode haver quem pergunte se pode ser de outra maneira. A política externa é, segundo alguns, um luxo apenas para países grandes e poderosos. Nada mais errado. Qualquer destes quatro países nórdicos — Noruega, Suécia, Dinamarca e Finlândia — tem menos população do que Portugal, e cada um deles com uma política europeia distinta (o primeiro não está na UE, o segundo não cumpre com as condições para entrar no euro, o terceiro nunca estará no euro e o quarto está definitivamente no euro) mas todos com uma política externa reconhecível.

Mesmo sobre diplomacias presidenciais, lamento ter de fazer a seguinte comparação. No parlamento europeu, assisti a dois discursos de presidentes de países sob programa da troika. Anos depois, muita gente se lembra do discurso do presidente da Irlanda (outro país que, em política externa, tem uma personalidade reconhecida). Minutos depois, ou mesmo durante, já ninguém se lembrava do que dizia Cavaco Silva.

Isto não tem de ser assim. Portugal já provou, durante o processo pela independência de Timor-Leste, do que é capaz quando põe a sua diplomacia a trabalhar junta por uma causa apoiada pelos cidadãos. Esta é uma coroa de glória que qualquer serviço diplomático gostaria de ter.

Mas, depois dessa exceção, Portugal não encontrou foco para a sua política externa. E a razão talvez seja simples: um país só sabe o que quer fazer no mundo se souber primeiro aquilo que quer ser.

Esta é uma intuição de Almeida Garrett, quando deu ao seu livro “Portugal na Balança da Europa” o subtítulo “do que tem sido [Portugal] e do que ora lhe convém ser na nova ordem de coisas do mundo civilizado”. O livro é uma coleção de textos escritos no exílio (só muito mais tarde ele viria a ser Ministro dos Estrangeiros) dedicados ao que deveria ser Portugal. Garrett fala de imprensa livre, de educação, de direitos cívicos; ou seja, de tudo o que permitiria a um país encontrar em primeiro lugar, dentro de si, os recursos para definir o seu destino.

Um país perdido no mundo é, em primeiro lugar, um país perdido de si mesmo. Foi a esse país que Cavaco Silva presidiu. Esperemos que o próximo (ou próxima) presidente se dê por missão principal procurar o caminho para que Portugal saiba o que quer para si e para a Europa, e o que quer fazer no mundo.

(Crónica publicada no jornal Público em 11 de Março de 2015)

3 thoughts to “Ir para fora cá dentro

  • IN SIMPLEX MUY SIMPLES DE PRESO POLÍTICO

    The Gross Domestic Product (GDP) in Singapore expanded 4.90 percent in the fourth quarter of 2014 over the previous quarter. GDP Growth Rate in Singapore averaged 5.18 percent from 2007 until 2014, reaching an all time high of 36.40 percent in the first quarter of 2010 and a record low of -13 percent in the third quarter of 2010. GDP Growth Rate in Singapore is reported by the Statistics Singapore.

  • IN SIMPLEX MUY SIMPLES DE PRESO POLÍTICO

    a irlanda tem presidente? bolas nã savia

  • timur lang ou louro sai nã foi cousa de pitroil prá australia?

    ah foi fructo da diplomo azia é romano ,,,,

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