Esta coluna ficará suspensa até à realização das próximas eleições europeias, pelo que a crónica de hoje e a de quarta serão as últimas até lá. Pensei então que deveria fazer um resumo do que está em jogo na Europa, hoje, e em Portugal, depois de amanhã, enquanto me despeço temporariamente.
Quando digo “o que está em jogo” não é nas eleições; é no nosso tempo histórico. Independentemente da evolução económica e financeira, estamos a aproximar-nos da rutura política. Os últimos anos foram muito angustiantes, e continuam a sê-lo, porque raras vezes o debate público foi tão inadequado perante os desafios de um tempo histórico. Os termos dos argumentos estão mal postos: a questão não é “mais Europa” contra “menos Europa”, não é federalismo contra soberanismo, não é sequer sair do euro contra ficar nele.
A grande questão do nosso tempo é: democratas contra tecnocratas.
Os nossos governantes, ganhando medo à democracia, refugiaram-se nos tecnocratas. Os eleitores europeus, retaliando, refugiaram-se nos populistas. Nos atuais ciclos noticiosos, só quem disser o maior disparate tem sempre o maior destaque. O resultado está à vista. Nos palácios do poder estão políticos impotentes e inoperantes; fora das muralhas estão populistas vociferantes e irresponsáveis. Se os primeiros falharem, os segundos não perderão a oportunidade de abocanhar o poder.
A notícia é que os primeiros já falharam. Olhem para França. Hollande, não tendo política própria, limita-se a seguir Merkel. Um belo dia, sem debate no parlamento nem na sociedade, anuncia uma guinada à direita com cortes de cinquenta mil milhões de euros. Os eleitores punem-no com uma derrota eleitoral nas municipais e dando vitórias-surpresa à extrema-direita. Em resposta, nova guinada à direita. Bingo: as sondagens dão já a vitória à extrema-direita, com a direita em segundo lugar. Nem sequer é certo que os socialistas fiquem em terceiro. Qualquer política presidencial ficará muito comprometida depois disto.
Vejam o Reino Unido: está em primeiro lugar nas sondagens um partido anti-União Europeia dirigido por um aldrabão encartado, demagogo e incendiário. Vejam a Itália: os políticos do costume jogaram a sua última cartada com Renzi e vai ser Beppe Grillo a apanhar as vazas. A subida da demagogia anti-política já não é um fenómeno esporádico nem de pequena escala: ela chegou ao coração da Europa. O primeiro país a tombar no abismo levará consigo a complacência europeia. Sofreremos um brutal despertar.
Acredito na boa-fé de muitos dos que dizem que a União Europeia é irreformável. Mas acredito também que não consideram a enormidade do que estão a dizer. A União pode ser reformulada, precisa de ser reformulada, e somos nós que teremos de o fazer. Caso contrário, quem ganhará com o colapso da União não serão os pobres nem os pequenos, mas os novos fascistas.
No século passado, o primeiro país a tornar-se fascista foi a Itália, em 1922. Pouco mais de uma década depois, metade da Europa já era fascista. O que antes parecia impossível pareceu irresistível depois. Também então houve quem não quisesse lutar pela democracia europeia, que julgavam irreformável. Acabaram a ter de lutar pela civilização.
O que está em jogo hoje é o mesmo: lutar pela democracia europeia agora, para não ter de lutar pela civilização daqui a pouco.
(Crónica publicada no jornal Público em 28 de Abril de 2014)
2 thoughts to “O que está em jogo”
já CIVILIZAÇÃO SEM DEMOCRACIA
OU MESMO DEMOCRACIA POUCO CIVILIZADA
AO ESTILO DO HITLER NACHALOS – SIEG HEIL SIEG HEIL FOR THE HINDU NATIONALIST PARTY
resumindo o jogo presentemente é assustar os partidos do poder e meter nas urnas boto no marinho diminuitivo de Mário o avô de todos os demagogos sem ideias próprias e que mudam conforme a nódoa no sans payo ou no sampayo da nódoa
logo o jogo é votar Livre livremente na cabovisão
ou abster-se do jogo da eurovisão
a ucrânia e a índia e o massacre sírio são a falta de desnorte que existe nesta europa que se afunda em teias burocráticas e numa maré de burocratas de institutos de risco ao meio e a três quartos
as clientelas partidárias não se discutem
o clientelismo partidário português e europeu não se discute
o desemprego e o sub-emprego a longo prazo nunca se discute
enfim discutem-se trivialidades do trivial pursuit eurropeu
e isso num jogo a muitas mãos
e com os espectadores distraídos
é um erro ou um eurro no fundo destes fundos sem fundos
tanto faz
voto livre ? voto rape in vez de sex seguro
voto piratas de tortuga? voto pastéis de belém?
voto fadistas thalassas?
há tanta opção no fado do mação que nos amassa e fica com a massa
erro o seguro morreu de velho e os nazis a 18.05.2014 às 02:06
morreram todos na meia-idade
bom só ares de hister chegou perto dos 90 montado numa tartaruga
e só ares de pastel de bethlem já tem edade pra se queixar dos 10 mil da reforma
a questão é união ou desagregação
ser sérvio e bósnio no dilúvio universal
ou estar com noé abrigado na económica arca da festung europa?
ir ao fundo com o escudo deslizante
ou flutuar semi-morto no euro subsidiado
são op ações
e nã são boas
Uncertainty is against survival8:59 PM
Animals in constant stress, die more often than animals stress free,
You want freedom fries with the Burger King of uncertainty?
è cá voto em afogamento do saco de gatos em bulha
neste portucale mação de interesses feito
resumindo discutir mais a europa
e meter menos o ênfase numa Psiquiatria Livre em psicólogas do ISPA ou noutro instituto de desemprego e de bons empregos neste alberto jardim à beira mar prantado