Já basta uma tragédia

Há umas décadas havia o grito revolucionário por “um, dois, três, muitos vietnames”. O mero bom senso nos diz que devemos evitar agora uma, duas ou três novas Sírias. Para a nossa galeria de analogias históricas assustadoras só faltava agora um cheirinho a Guerra da Crimeia — um dos piores conflitos da história europeia, no sentido lato, e que terminou com um período de relativa estabilidade após Napoleão e até ao meio do século XIX. A Crimeia, hoje em território ucraniano mas habitada principalmente por russos, que aí têm umabase militar, está de novo nas notícias porque os seus habitantes se recusam a reconhecer o fim do governo ucraniano pró-russo de Yanukovitch. Seguem-se as habituais reservas: as comparações históricas não podem ser levadas a sério, as épocas são diferentes (e as potências também: a Guerra da Crimeia envolveu os otomanos, os franceses, e mais ainda) e cada caso é um caso. Mas o facto é que qualquer coisa se quebrou na razoabilidade, mesmo que uma razoabilidade desconfiada, com que as potências da nossa parte do mundo encaravam as suas relações. Passámos de uma fase de alguma acomodação entre ambições, envolvendo sempre alguma flexibilidade, para outra de rigidez. E quando os grande poderes entram numa fase de antes quebrar do que torcer, bem, enfim, as coisas quebram. Um primeiro sinal foi dado na Síria.

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