Estive a ver o Estado da União pronunciado na madrugada do dia 12 deste mês por Barack Obama, no Congresso dos EUA. Abstraindo das diferenças culturais, formais e políticas, há uma grande diferença entre o que se passa neste momento nos EUA, como no Brasil, a outra grande federação do Ocidente, e o que se passa na Europa. Barack Obama ainda trabalha com base num pressuposto hoje invulgar no nosso continente e no nosso país: o que se deve governar para as pessoas. Governar para as pessoas vem antes de se governar para as abstrações dogmáticas dos mercados, ou para as convenções do “compacto fiscal” e outras. Governar para as pessoas, e não contra elas, parece evidente — mas por que é que não se faz aqui?

Governar para as pessoas pode significar aumentar o salário mínimo para um “salário de vida”. Pode significar criar um plano para as regiões deprimidas, baseado em criar quinze núcleos de altas tecnologias e interligá-los. Pode significar até tentar coisas que, no quadro americano, dificilmente resultam — como baixar propinas, suprimir armas ou diminuir as filas para votar. Mas, ao menos, porra, o presidente no discurso do Estado da União, ainda se lembra que é para as pessoas que governa. Não diz, como Pedro Passos Coelho, que o desemprego está mal e vai ficar pior. Não fica de braços cruzados perante o Congresso como Durão Barroso fica perante o Conselho.

Um dia, e espero que não seja muito tarde, ouviremos um Estado da União assim em Bruxelas, um Estado da República assim em Lisboa. Não precisa de ser tão ensaiado, não precisa de ter os seus momentos pirosos e os seus momentos comoventes, não precisa de ser um espectáculo nem precisa de ser articulado por um tipo tão talentoso nem bem parecido. Basta que um dia os nossos governos acordem e percebam que têm de governar para os cidadãos. Corrijo: que nós cidadãos os façamos acordar, para que não façam mais de desentendidos.

One thought to “Uma ideia invulgar: o governo para as pessoas”

  • Timóteo Martins

    Bolas, sim aumentar o salário mínimo quando o dólar está a desvalorizar e a inflação é aldrabada diariamente, preço dos combustíveis aumentou nos US of A de 2006 a 2012, as propinas escolares idem, o preço das casas baixou assim como as roupas importadas da indonésia e os Ipads chineses, mas é uma economia no vazio, que tal como a brasileira aumenta o salário mínimo para disfarçar o valor encapotado da inflação em produtos de substituição.

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