Eu preferiria, para bem do meu país e continente, que a Europa conseguisse encontrar repostas a estas perguntas. Mas se forem outros continentes e países, o que interessa é que se entenda uma coisa: que as respostas que procuramos não as encontraremos sozinhos.
O mundo atual está confrontado com grandes perguntas.
A primeira delas tem a ver com a democracia, ou seja, com o melhor mecanismo que criámos até agora para encontrar respostas. A democracia não é a solução para tudo, mas é a melhor forma que temos para encontrar soluções. A pergunta é: será a democracia capaz de encontrar respostas para as outras grandes perguntas que a atualidade nos faz? Se a resposta fosse não, seria escusado continuar.
Outra das perguntas tem a ver com o próprio planeta. Os suportes do crescimento económico nas últimas décadas têm posto o planeta sob pressão, e essa pressão materializou-se nas alterações climáticas, que podem perturbar suficientemente as populações humanas para causar grande sofrimentos, ou até serem irreversíveis. Quem poderá dar a resposta a esta pergunta?
Outra das perguntas tem a ver com os efeitos sociais de uma cultura da competição permanente entre todos, que está a fazer de nós uma espécie de escravos desestruturados. Ao passo que os níveis educacionais e de formação aumentaram, parece estúpido que a humanidade não consiga encontrar o nível correto de distribuição do trabalho entre indivíduos e gerações que permita a todos assegurar uma vida com planos, com autonomia e com possibilidades de futuro.
Finalmente, uma grande pergunta em aberto é saber como se vão encerrar as grandes tendências iniciadas por esta crise, que nos levou da desigualdade à desagregação através da dívida. A ter em conta os exemplos históricos de outras crises do capitalismo ferozmente desregulado, o fim pode não ser bonito: à globalização do século XIX e princípio do século XX seguiram-se duas guerras mundiais, um holocausto, uma guerra fria.
Quem vai encontrar resposta a estas perguntas? Será que é a China que vai responder à pergunta sobre qual será a democracia do século XXI? Esperemos que não. Será que os EUA conseguirão responder à pergunta sobre como resolver o problema das alterações climáticas? Parece difícil, tal é o seu grau de dependência das energias sujas. Será que é a Rússia quem vai responder à pergunta dos efeitos de uma economia de competição de todos contra todos? Não brinquem comigo.
Eu preferiria, para bem do meu país e continente, que a Europa conseguisse encontrar repostas a estas perguntas. Mas se forem outros continentes e países, do Brasil à Índia, o que interessa é que se entenda uma coisa: que as respostas que procuramos não as encontraremos sozinhos.
É importante dizer isto numa altura em que muitos sofrem da tentação isolacionista: por muito compreensíveis que sejam as frustrações, quem procura as soluções nas fronteiras estreitas do seu estado, da sua empresa ou do seu partido acabará fazendo um jogo reacionário mesmo que as suas intenções sejam progressistas.
Pela simples razão de que nós não estamos sozinhos contra o mundo, e não podemos desistir de todos os outros que estão como nós.
(Crónica publicada no jornal Público em 10 de Dezembro de 2012)