O julgamento da posteridade não atrapalha Pedro Passos Coelho porque ele não tem consciência da gravidade do que faz e, se o tem, não parece importar-se com isso.
A troika, já se percebeu, é um mero pretexto. Pedro Passos Coelho não se sente preso pelo memorando nem limitado pela Constituição, perante a qual desenvolveu uma estranha técnica: ele diz, propõe ou avança e, se for contrário à Constituição, alguém lho há-de dizer. Ler a lei fundamental propriamente dita, ou pedir a alguém que lha leia antes de abrir a boca, dá demasiado trabalho. E não faz parte do seu modus operandi. A ignorância não é um problema para Pedro Passos Coelho. Ele não sabe, logo não existe.
E assim nos encontramos à beira de um novo ano para que os portugueses olham já como se fosse um precipício. Janeiro vai ser o início da rampa; a partir daí, é sempre a cair. Os primeiros recibos dos vencimentos com os respetivos cortes. O brutal aumento de impostos. A amputação de serviços públicos. As privatizações ao desbarato. E os números da execução orçamental, periodicamente, a não baterem certo.
Também isto não deterá Pedro Passos Coelho porque, no meio dos escombros, ele tem um plano.
Mais ninguém acredita no plano de Passos Coelho. Alguns, cada vez menos, dão o benefício da dúvida por causa da dívida, cada vez mais desconfortáveis por ver que ela não diminui. Todos os outros, na esquerda, no centro e na direita, assistem atónitos a esta progressão de desastres: a TAP e a RTP vendidas ao pior preço e aos piores compradores, os despedimentos a saldo, a escola e a saúde prontas a serem ejetadas das funções do estado. Dentro em pouco, isto será irreversível. Nada disto detém Passos Coelho.
O julgamento da posteridade não atrapalha Pedro Passos Coelho porque ele não tem consciência da gravidade do que faz e, se o tem, não parece importar-se com isso. Mas a posteridade não julgará apenas Pedro Passos Coelho. Julgará todos os que, tendo consciência do que se está a passar, não fizeram tudo o que estava ao seu alcance para deter esta catástrofe.
A responsabilidade dos partidos de oposição, em particular, é muito séria. Sabemos que eles não governam, sabemos que eles nem sequer concordam. Mas não precisam de governar nem concordar para fazerem três coisas simples que, por si só, seriam uma formidável barreira à progressão desta catástrofe.
Primeira: falarem, sem precondições. Basta de pretextos tolos. Façam reuniões, mesmo discordando, e digam-nos em que concordam. Por pouco que seja, pode ser essencial.
Segunda: ponham limites a este governo. Enunciem claramente as linhas vermelhas que vos levarão a abrir uma crise política, e ir ao Presidente da República exigir-lhe ação.
Terceira: abram-se aos cidadãos e aos vossos eleitores, em particular ao nível local, e deem-lhes liberdade para discutir alternativas concretas a esta governação.
Precisaríamos de muito mais do que isto. Mas isto é o mínimo que se pode exigir. O governo perceberá que a oposição sai do seu marasmo e começa a impor limites e regras, e a preparar-se para o substituir. Só isso pode deter esta catástrofe. Façam-no, já.
(Crónica publicada no jornal Público em 17 de Dezembro de 2012)
11 thoughts to “Detenham esta catástrofe”
Numa representatividade consciente seria assim como diz, se o que estivesse em causa fosse realmente a dignidade das pessoas, a humanidade da sociedade, mas como cada facção tem o seu próprio povo, o seu próprio conceito de povo e o povo é na realidade um só, ninguém muda nada porque ninguém quer que o povo seja só e simplesmente povo.
Pois, nos meus ainda e bons 70 anos, racionalizo: Pedro P.Coelho apareceu na jota muito tempo depois de Sá Carneiro. Foi “liderado” então pelos remanescentes políticos que, o agarraram. Estes, que derivaram…outros interesses, derivados de um protagonismo que ganharam.. A escola que PPC recebeu está muito fora da nacionalidade, a que se pretende. Penso então que ele não entende o caminho que foi interrompido, um Portugal moderno. Pois, Sá Carneiro foi morto ou “matado”?? Pois… Já perdemos tudo nestes 38 anos. Perdemos o esforço que foi feito… Boas Festas, tranquílas. Continuaremos…
ò escasso de civilidade,
isso que dizeis não é povo não
é direcção tomada
por toda eleição
Por muito que pareça bem, dizer que o governo faz o que quer é uma absoluta falsidade.
Dizer que cumprir a Constituição é obrigatório, vale nada se não houver dinheiro para realizar o que manda essa lei.
Se uma parte da nossa economia era baseada em actividades de consumo de importações para as quais não temos dinheiro, é dever do Governo destruir essa economia.
Como de costume, ser de esquerda é afirmar o irrealizável como se se toda realidade se transforme por actos de vontade e anúncios definidores do que é justo.
Um excelente artigo hoje no Público. Mas ninguem faz nada!!!!!!!!!
já dizia o velho Karl…
Que nada meu caro, o problema do sec. XXI é a agonia do capitalismo.
O esgotamento do capitalismo industrial, o subsequente capitalismo financeiro que obrigatóriamente caminha de bolha em bolha até a desvalorização total.
Que nada meu caro, o capitalismo transferiu-se para outro hospedeiro mas à velocidade com que o devora, em tempo recorde estará em identica Americana ou Japonesa fase terminal.
É o crescimento exponencial meu caro, o crescimento exponencial, e o mundo não è finito, os recursos são infinitos a questão reside em não os consumir mais depressa do que são criados pela natureza e nisso o capitalismo é voraz.
Mais uma vez, que nada meu caro, os recursos chegam para todos, é o capitalismo que não sobrevive com um automóvel que dure 15 anos ou um frigorifico que dure 20.
além disso 2/3 da população mundial vive com menos de 2 dolares dia, o que deve corresponder a um máximo de 1000 calorias dia.
portanto essa divisão por 7100 milhoes de macacos não dá um bidon de gasoil a cada um, o que dá é alguns com ferraris e outros com tuberculose.
ya! só nos unidos são 46 milhones a senhas, que de outra forma népia!