Em janeiro de 1732, um decreto mandou encerrar aquele cemitério onde a fé no empobrecimento como via para a salvação tinha chegado longe demais. Era empobrecimento com redistribuição, o que talvez tenha assustado o poder.
Não duvido de que, ao ouvirem ontem Pedro Passos Coelho discursando no Pontal, uma maioria de portugueses se tenha lembrado de um momento crucial nas relações entre a razão de estado e a religião, ocorrido há 280 anos, e seis meses, em 1732. Para os restantes, segue-se esta sucinta narrativa.
Havia em Paris um padre chamado Pâris, François de Pâris, que vivia uma vida ascética entre os pobres de um dos bairros mais pobres da cidade e já por duas vezes tinha dado a esses pobres todo o seu dinheiro (quando entrou na vida religiosa e quando recebeu por herança as propriedades dos seus pais, que vendeu e cujo lucro distribuiu). Tinha inúmeros seguidores e quando morreu aos 39 anos, em 1727, rapidamente foi tomado por santo. No seu enterro no cemitério de St. Médard juntou-se uma enorme multidão de veneradores do padre Pâris que como relíquias recolheu terra da campa, lascas de madeira do caixão, e até fios de cabelo e unhas do cadáver de Pâris.
Não passou muito tempo, nos meses e anos seguintes, até que começassem a chegar notícias de que havia milagres no cemitério de St. Médard. As multidões não mais abandonaram o túmulo do padre Pâris; algumas pessoas diziam-se curadas por ele, outras visitavam o lugar por curiosidade. Alguns religiosos começaram por ver o fenómeno com simpatia e chegaram a tentar iniciar o processo para a canonização do padre Pâris — mas o poder político desconfiava daqueles ajuntamentos. Cavaram-se as barricadas habituais; a imprensa dedicou atenção e apoio ao fenómeno; a autoridade dedicou-lhe atenção e polícia.
Foi com espanto geral que, no ano de 1731, em vez dos relatos de milagres começaram a surgir notícias de que os devotos do padre Pâris estavam a sofrer convulsões no seu lugar de reunião. O primeiro a ter essas convulsões foi um abade de Montpellier chamado Bescherand que visitava o túmulo de Pâris duas vezes por dia. Em breve muitas outras pessoas — na maioria mulheres jovens — começaram a ter também convulsões, acompanhadas de grunhidos, guinchos e espumar da boca. Houve uma grande perturbação nas opiniões. Toda a Paris queria ver com os seus olhos o que se passava e gente de todas as classes, incluindo nobres, foram a St. Médard. Muitos juntaram-se ao movimento e experimentaram pessoalmente as convulsões. Voltaire escarneceu do fenómeno, apesar de um dos seus irmãos ser “convulsionário” ativo, ou talvez por isso mesmo. O principal jornal jansenista, clandestino, via o que se passava com fascínio e sugeria que o Espírito Santo se manifestava através daquelas convulsões, embora uma minoria crescente de jansenistas temesse que a coisa tivesse já ido longe de mais. O Rei agiu reprimindo o fenómeno e proibindo os ajuntamentos no local.
E foi assim que, em janeiro de 1732, um decreto mandou encerrar aquele cemitério onde a fé no empobrecimento como via para a salvação tinha chegado longe demais. Era empobrecimento com redistribuição, o que talvez tenha assustado o poder.
Passado uns dias alguém afixou no local uma tabuleta com a seguinte interpretação do acontecimento, tão válida para a França de 1732 como para o Portugal de 2012:
“EM NOME DO REI, PROÍBE-SE A DEUS DE REALIZAR MILAGRES NESTE LOCAL”.
(Crónica publicada no jornal Público em 15 de Agosto de 2012)
9 thoughts to “Não há milagres”
Bossa senhoria tem a certeza que o ano V da crise de nosso senhor o Kaos Ink nó mico não há milagres?
nem um pequenino?
bamos todos quinar de fome como os asiáticos e os africanders e afrikinder’s?
a Fé no empobrecimento com salários médios na púbica função de 1780 eurros?
o camarada adesculpe mas 1780-1732 = 48 eurros
viver com 48 eurros é qué pobreza
dá para 10 dúzias de ovos e uns quilos de farinha e batatas por ano
é o que comia um antigo soldado timorense perdido há 38 anos na metrópole
o resto vinha do lixo
acho que foi reciclado com o lixo de que se alimentava
ou isso ou foi lapidado pelos putos brasucas e indígenas
que gostavam de o usar para tiro ao alvo
nã há milagres?
atão comé cu gajo se manteve vivo durante anos com 48 eurros de esmoler por ano…
claro que foi milagre…
a via para o empobrecimento é rápida
e é multivias…acho que tem mais de 12 pistas…todas muito bem pavimentadas
Curioso é termos um país assente em milagres
Espera-se ganhar o euromilhões e este foge prós bifes…
espera-se que o pão caia do céu
e quando alguém o atira nã era desse pão que queríamos
Somos um país de milagreiros fazemos milagres todos os dias
Há greve da transtejo?
Vamos a nado mas chegamos ao outro lado
O metro do deserto desertou-nos?
Vamos a butes até apanharmos o quimbboy catravessa o deserto
e chega à terra do leite e mel…e outros açúcares
chegamos à terra do leite e mel e cadê o metro das alfaces?
não há? paciência estica-se o dedo e reza-se pelo milagre
e o milagre trava e mete duas boas zonas estacionadas mais à frente
e agente diz milagre senhor
olhai os lírios e alfaces do campo eles não fiam
mas levam estas pobrezinhas de graça até à santa da io apolónia
agente faz o milagre de chegar até à ditta santa de butes
algumas velhotas mais pias já vão de joelhos há um ror de tempo
por milagre mais umas gaijas de bikini e fio dental
conseguem amaciar a alma dura dos pecadores auto mobilizados
enfim às 18 horas e picos chegamos a santa io apolónia
e milagre um ror de gaijas em biquini e umas da estranja
estão escarrapachadas por todo o lado para gáudio da maralha
não há comboio?
e quem quer comboio com gaijas a dar trela até a velhos de 80 anos
ajoelhamos junto das gaijas (devagarinho por causa das juntasfracas
e agradecemos a deus pelos milagres diários
agente ia pra onde num dia feriado?
trabalhar em turnos tardios?
e não chegou lá?
merda e inda dizem que nã há milagres
obviamente estes são milagres do século XX
o século XXI já não produz prodígios destes
acho que os chineses açambarcaram os milagres todos
amarelinhos fascistas né….a empobrecerem alegremente
só por milagre é cainda não são gregos…
daqui a uns tempos logo chiam
ficam a ganhar só 600 dólares por mês que se lixam…
Voltamos ao discurso da tanga e do empobrecimento inevitável? A quem serve este empobrecimento? se muitos empobrecem alguns poucos enriquecem. Este discurso do miserabilismo serve sempre alguém. Já enjôa. O mais curioso é que são os instalados que desenvolvem estas teorias. São os “Nogueira Leite”, vejam como ele tem um ar próspero, os “Ângelos Correia”, como ele debita conhecimento sobre tudo e mais alguma coisa, os especialistas que comentam tudo e nada…
Desafiem esses senhores a viver 6 meses seguidos, não mais, com 480€, sem poderem mexer em mais nada. Rapidamente terminaria o discurso de que estamos a gastar demais…..
há milagres?
milagre….choveu coca aqui no pedaço…
agente é simplex ou é isto ou chumbar a bófia…
e o armamento foi ao ar este mês…é a crise…
o milagre da multiplicação dos cartuchos não deu..
Quando empresas europeias sediadas em outros países da união desde os tempos da EFTA, vão diminuindo os postos de trabalho à sorrelfa e embolsando vastos subsídios para postos de trabalho que nunca vai criar e até pelo contrário vai extinguir, em proveito de países terceiros.
Os fundos europeus nesse caso deveriam ao menos ser reclamados, na sede própria da união, afim de desencorajar 20 anos de práticas similares, que eu saiba não estavam lá há 20 anos, mas já estão há demasiado tempo.
Há protestos que devem ser feitos, o da Finex é um deles, é uma mancha nas políticas europeias de emprego e devia ser denunciada como tal.
E ainda há quem duvide do milagre feito país (ou malpais dá na mesma
desde viriato que vibramos com os messias portadores de milagres
dos curandeiros com curas milagrosas para todos os males
o estado putogoês é o maior fazedor destes prodígios
temos os médicos mais desumanos do Haiti, mas curam mais k os outros
a prova desse milagre são os milhões de velhadas que sobrevivem
com anti-depressivos milagrosos durante décadas
magros até ao osso, mas com comprimidinhos milagrosos
para o colesterol acumulado nos ossos e nas artérias calcificadas
nos anti-ácidos que nos salvam milagrosamente das jantaradas
gargantuescas no número e na forma mesmo nos mais miseráveis
é um milagre termos aguentando chachadas monumentaes
Cunhal Cunhal
Salvador final
dá-nos socialismo
Cunhal Cunhal
Arroz com baratas
Cunhal Cunhal
E filas pró abismo
Cunhal Cunhal
E filas prás batatas
Marocas sem botas
Devolve-nos as baratas
a gasolina às gotas
e as filas prás batatas
Logo Camarada do Log-B, no Bloco A não há milagres?
Temos desde os grafitteiros de foz côa dezenas de milenares deles
aqui no deserto temos muita fé e fá neles
amanhã vai chover de certezinha…e se não fore amanhã
será noutro dia milagreiro
Nã há Loução abateu-se os filhos de Saturno devoram o Pae
As linhas para a Refundação Ou Reafundação do Kratos estão com os semáforos verdes
Mais que isto só se os sucssores fossem abatidos pelo Odysseus…
só Ares faz milagres maiores…