E assim lá vão já dois jornalistas — Pedro Rosa Mendes e Maria José Oliveira — ejetados pela carga de ombro do ministro Miguel Relvas, que entretanto passa sem um arranhão.
Então é assim. A gente sabe que o mundo do futebol não é coisa muito frequentável. A gente sente que o dinheiro há muito tomou conta dos clubes e dos campeonatos. A gente desconfia de que em certos campeonatos a arbitragem pode ser comprada e os resultados combinados — e há casos documentados de tudo isso. A gente vê o campeonato da Europa e há aquela bola que entrou no Inglaterra-Ucrânia, mas que não foi golo, e aquele pénalti por marcar no Dinamarca-Alemanha. Sabemos isso tudo.
Mas caramba. Apesar de tudo, durante aqueles noventa minutos, há espaço para alguma surpresa. Ainda há uma equipa que vende cara a derrota e, às vezes, até ganha. Ainda há um jogador que muda tudo com um toque, um passe, uma finta. Ainda há a curiosidade de ver quem conseguirá contrariar o tiki taka dos espanhóis. De saber se o Balotelli vai inventar um remate novo ou perder a cabeça antes disso. E, enfim, a possibilidade de não morrer sem ver Portugal ganhar uma campeonato europeu ou mundial (e se fosse deste?). Só aqueles noventa minutos, mais se for a prolongamento. De resto, basta desligar o som da TV durante os anúncios parvos, os comentários intermináveis, os boletins noticiosos sobre os pormenores que não interessam nada.
Desculpem, apercebo-me que esta crónica é se calhar a mesma coisa: comentário sobre o comentário. Mas a intenção não era essa. Passo então ao próximo assunto.
Do que eu queria falar mesmo era da decisão da Entidade Reguladora para a Comunicação Social que, tendo considerado reprovável, em termos éticos e morais, a pressão que o ministro Miguel Relvas fez sobre este jornal, se escusou a tomar uma decisão sobre ela. Que, tendo tido diversos testemunhos que confirmaram que as pressões que esse ministro exerceu envolveram ameaças de divulgação de rumores sobre a vida privada de uma jornalista, achou que para confirmar essas ameaças precisaria de uma qualquer prova indesmentível que não aparecerá antes do bosão de Higgs assomar no CERN. Finalmente, que votou de acordo com linhas partidárias: os conselheiros nomeados pelo PSD de uma maneira, os nomeados pelo PS de outra.
E assim lá vão já dois jornalistas — Pedro Rosa Mendes e Maria José Oliveira — ejetados pela carga de ombro do ministro Miguel Relvas, que entretanto passa sem um arranhão, protegido que está pelo seu aparelho no governo, no partido, e no estado.
E por isso dei por mim a pensar que mais vale a lei da relva, no campo de futebol, do que a Lei do Relvas. Em tempos havia quem achasse que gostar demasiado de futebol era “alienação”. Quando vemos coisas destas começamos a pensar se não é um escape perfeitamente racional da pura previsibilidade da política.
Porque a verdade é que na Lei do Relvas não há nada que nos supreenda. Não há talento nem mérito. Quando foi a última vez que um discurso eloquente, nas bancadas do parlamento, mudou o sentido de voto? Quando foi que uma comissão de inquérito, ao ser iniciada, não tinha já o resultado decidido pela maioria? Por que razão os reguladores independentes servem, afinal, para ilibar os políticos dos partidos que os nomearam?
Veremos algum dia um caso ser decidido pelos factos, pelos argumentos, pela persuasão, pelo sentido do dever público? Ou vamos conformar-nos com a Lei do Relvas?
(Crónica publicada no jornal Público em 25 de Junho de 2012)
11 thoughts to “A Lei do Relvas”
As relvas não têm leis, têm necessidade de luz ou por vezes de sombras em climas mais tropicais, onde o excesso de lux as queima precocemente, numa civilização feita de páginas virtuais, celuloses internéticas de egoísmos e megalomanias de olha eu que sou tão grande, aqui em cima destas palavras vazias, é perfeitamente ver nos outros os defeitos que todos compartilhamos.
Uma civilização de filhos únicos que vivem das glórias de antepassados e futreboleiros de pró curação ou curaçau…
Portugal perdeu e é nossa toda a derrota desse país que ganha glórias mercenárias em minutos e as perde em lustres d’annus
Se Putocale houvera ganhado grande seria a retoma económica nas relvas que pavimentam o país
a lei das relvas é a lei do povo que ascende na escala social pisando outras relvas mais rasteyras
Em Portugal vi eu já
em cada casa pandeiro
e gaita sem haver dinheiro
e de trinta anos a cá
não há i gaita nem gaiteiro
que nos junte a cantar cá
as relvas nã são aves nã cantam
simplesmente vegetam
ou lançam sementes para o passado
é a lei das relvas mê senhor y amo
tentar crescer em cima das mais pequeninas
para surgir ao deus sol
mercoledì, 27 giugno 2012O IMPÉRIO DAS RELVAS COMEÇOU NO CIRCO ROMANO E NÃO ACABARÁ NO EURRO 2012, ENTERRADAS EM TONELADAS DE CIMENTO ARMADO AS RELVAS RENASCEM SEMPRE SOBRE AS RUÍNAS DO BETÃO IMPERIAL
por vezes não esperam muito
é que não há lei nas selvas
mas todas as relvas da savana fazem as suas leis
mesmo as relvas mais baixinhas
ó digníssimo pastor que cortais as relvas com vossos rebanhos
28 Haziran 2012 Perşembe
TIVEMOS MAIS UM DIA BESTIAL-SOMOS O ÚNICO DESERTO ÁRABE EM QUE SE FICA CON TENTE POR NÃO NOS CHOVER EM CIMA
A PRIMAVERA ÁRABE POR CÁ FOI A BANHOS DE PRAIA
O DESERTO ARDE A BOM ARDER MAS É A FOGO LENTO
E A GENTE NÃ TEM PRESSA QU’ELE CHEGUE LOGO TÁ TUDE FINE
TIVEMOS UNS AZARES NA GUERRA COM A VIZINHANÇA CASTELLANA
MAS TUDO NA BOA QUE SOMOS UNS ÁRABES A DAR PRÓ GREGO
COMENTAMOS TUDO COM RAPIDEZ E SOMOS BOATEIROS
e vemos num deserto oásis cheios de relvas…
e inda por cima regamos as miragens das relvas
com gasoil….
TANTA PALHA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O RUI TAVARES CONTINUA EM GRANDE! A SÉRIO!
Somos inocentes como os restantes 500 milhões que nos empurraram para o abysmo….
empurre-nos mais uns centímetrozitos ó GRANDE TITÃ das grandes causas
as 60 camareiras dos aldeamentos all garvios que vão dia 30 para o olho da rua agradecem-lhe os empurrõezinhos para a fome
taVAM gordas e GRANDes quando deviam ser magras e pequenas para serem modelos ou hospedeiras na TAP
tap tape antes que saia vapor na palha cheia de estrume
estrume com nome grego ou alemão sempre é mais fino
ou belga…
Será que a ERc, não deveria deixar , já, de existir, tal como os Governadores Civis, acabaram????????
Continua a ser impossivel ler estes comentarios!!!!!
impossivel deixou de levar acento no í?
Con ti nua con ti nu é berdade mas a gente faz um esforço para ler além dos governadores civis assinalados
impossivel deixou de levar acento no í?
Con ti nua con ti nu é berdade mas a gente faz um esforço para ler além dos governadores civis assinalados…
Nua????