Depois de ter decidido acabar com o TGV, o governo de Pedro Passos Coelho anunciou que iria ser construída uma linha de alta velocidade para mercadorias, ligando Sines a Badajoz. Poucos dias bastaram para se descobrir que não haveria nada do outro lado da fronteira para levar os produtos portugueses até aos mercados europeus.

Depois de ter decidido que o Partido Socialista iria votar a favor do novo tratado do “bloco orçamental” (a razão: porque sim), António José Seguro anunciou a invenção de um “tratado complementar” sobre crescimento e emprego, a ser adotado pressurosamente pelos chefes de 25 países europeus para que sossegar no Largo do Rato as consciências dos socialistas portugueses.

Que hipóteses tem isto de acontecer? Mais ou menos as mesmas que teriam as mercadorias portuguesas, assim que chegadas à raia, de serem levitadas pela força da mente até para lá dos Pirenéus.

Sejamos sérios. António José Seguro não chegou ainda a debater o novo tratado, nem lhe ouvi ainda nada que permita supor que tenha uma ideia das consequências dele, isto para lá da conversa costumeira sobre não querer romper o “consenso europeu”. O erro começa aliás por se considerar que este é um tratado da União Europeia. Não é, e o nome de não engana: trata-se de um tratado internacional, em que por acaso todos os signatários pertencem à União, mas feito fora — e a meu ver, contra — a União Europeia. O europeísmo aconselha a rejeitá-lo.

Se as circunstâncias nacionais são mais pesadas — se Portugal não aprovar o tratado fica sem dinheiro; mesmo rejeitando-o, doze outros países bastam para o fazer entrar em vigor — isso deve-se à pura chantagem que é feita pelos poderosos contra os países em estado de necessidade.

E para que serve este tratado tó-zé que não vai acontecer? Para esconder a inexistência de um debate no PS? Para marcar uns pontinhos, pretendendo obrigar o governo a ter de se definir sobre uma coisa que não leva a lado nenhum?

Serve para o mesmo que um TGV de mercadorias inexistente: para entreter durante alguns dias, e para chegar a lugar nenhum.

O TGV cheio de nada e o tratado cheio de coisa nenhuma são exemplos da natureza vil e miserável que tem agora a nossa política. Incapazes de encarar a realidade, muito menos de a mudar, os políticos inventam uma espécie de prémios de consolação. Até aí, nada de novo, a não ser no seguinte: os prémios de consolação não existem, não vão existir, e é transparente que ninguém acredita neles. Em vez de prémios de consolação, tornam-se insultos reforçados.

Incapazes de dizer quando voltam os subsídios de férias e Natal, ainda um dia destes nos anunciarão que em 2015 eles hão de ser pagos sob a forma de fichas de bingo.

Quando extinguirem a Maternidade Alfredo da Costa, talvez nos tentem convencer que uma linha telefónica e um call-center com parteiras é uma solução mais moderna.

E isto não é só o governo; do lado da oposição, tampouco há oposição. Como consolação, repetem-se os mesmos rituais e frases feitas, tão duras na forma quanto mais ineficazes no efeito, como se nada fosse preciso mudar.

Há aquele verso de Alexandre O’Neill em que se pede a Portugal para ser só três sílabas “de plástico, que era mais barato”. Agora, nem de plástico se arranjam; para prémio de desconsolo, ficaram só três sílabas: men-ti-ra.

10 thoughts to “Três sílabas apenas

  • Men Tira? Sei não....

    men tira tira qu’ainda há ….é dezere às gentes que alguém bai investir em infra-estruturas num país que oferece menos retorno do que uma colômbia ou até no investimento da indústria da fome no hai de ti ou na soma ó lia…

    men tira é dezere que um país que viveu a crédito para sustentar um estado associal vai dar a mão a uma costureira de 83 anos que vive num buraco (com àgua canalizada) há 70 anos e que quando cai na rua nã há ninguém que a leve ao tal estado associal porque cheira mal né…ela e o estado

    men tira tira que ainda há…é dizer à gaja que foi operada de urgência algures nas suas férias egípcias que o estado nã bai mais pagar as suas custas de transporte, tal como o bangla que desce também se teve lixando pelo milhão de migrantes na Líbia e norte africano resto

    men tira tira é pensar que o norte da eurropa bai sustentar o sul e terna mente ou que o sul vai desenvolver uma estrutura mágica de transportes por carpetes…

  • Augusto Küttner de Magalhães

    E isto não é só o governo; do lado da oposição, tampouco há oposição. Como consolação, repetem-se os mesmos rituais e frases feitas, tão duras na forma quanto mais ineficazes no efeito, como se nada fosse preciso mudar.

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Com este Governo, estes Partidos, todos, nunca mais lá vamos, é indispensavel mudar, mudar, mudar.

    O que tem sido feito é mais do mesmo, sempre com e pelos mesmos, e já se constatou, analisou, compreendeu= NÃO RESULTA!!!!!

    TEM QUE SE FAZER DIFERENTE! Com outros, não instalados, não formatados, não iguais!!!!

    Assim, não vamoos lá!!!!!!

  • Seja mohs sé rios....

    3 pontos ressaltam do discurso (escrito) do alienado político:

    1º Que a política deve ser feita de verdades ao estylo de Pôncius pilates e não de intenções

    2º Que aparentemente um primeiro-ministro português devia perceber de qualquer cousa (cousa que tirando nossa cavaqueira ) nenhum em 38 anos tinha uma vaga ideia de como governar uma estrebaria quanto mais ter conhecimentos da estrebaria do bizinho (que diga-se de passage nunca teve interesse em nos dar acesso directo além Pirinéus)

    3ºQuem lê poetas de importação (nados na terreola por acidentes da fortuna de quem colonizou esta nação desde aquele conde franciu que até parece que nem francês técnico tinha no diploma de conde
    e assinava de crux tal como carlos e pepino o breve…) é um traidor à mátria à natália correia e ao nó dórdio de Guimarães
    e devia ser defenestrado ou ao menos posto na roda e salgado

  • António Nunes

    Caramba, o que é que se passa com as pessoas? Que máquina temível é essa que causa, em cada um de nós, um sentimento de culpa por cada direito conquistado? Porque raio estamos nós a andar para trás, a sentir fascínio pela miséria, pela ignorância e pelo medo de viver dos anos 50 ou 60?
    Às vezes penso que se a Revolução de Abril fosse referendada, preferiríamos a ditadura à liberdade.

  • Seja mohs sé rios....

    direito conquistado não foi por todos

    e chamar direito a uma expropriação sobre os restantes

    um cipaio timorense chegou a esta cidade em 1973 para dois anos de praça em 1975 nem pátria tinha para regressar nem pertencia a esta

    andou como centos de outros a viver do lixo e a morar em barracas

    os miúdos educados pela nova pedagogia chamavam-lhe monhé tinhoso ou ranhoso quando tinha vinte e poucos e os seus descendentes fizeram-lhe o mesmo e atiraram-lhe pedras 35 anos depois
    se os putos brasileiros ou romenos foram mais cruéis para o dito velho que mal orçaria os 57 quando desapareceu da circulação

    uns pensavam que era guineense

    mas foi um dos milhares de restos dum império carcomido e desprezados pelo novo regime

    direitos : têm zero

    tal como milhares de pescadores e operárias que descontaram para a casa do povo há 50 anos atrás

    e têm direitos zero

    neste estado que continua corporativo

    quem tem ADSE tem saúde quem não tem …a maioria tem listas de espera
    tem burocracias

    eu cá nã tenho nada contra os direitos conquistados
    que me deram uma vida razoável à custa das vidas de outros

    que não têm interneta ou mesmo 2 anos de férias pagas plo estado…
    há o escol e há a ralé…
    a ralé tem direito adquirido de quinar no SNS

    o escol tem direito a sessões de radioterapia extra se se chama Jorge e também é Coelho

  • Seja mohs sé rios....

    António Nunes
    13 de Abril de 2012 at 21:35

    Caramba, o que é que se passa com as pessoas?
    as pessoas são máquinas de sentimentos a ralé apenas tem emoções básicas e pulsões primárias

    Que máquina temível é essa que causa, em cada um de nós, um sentimento de culpa por cada direito conquistado?

    é que penso que há direitos conquistados a mais (por enquanto)
    e deveres a menos por aqueles que nã conquistaram nada nestes 40 anos…

    porque é que uma operária de 88 anos ganha 200 eurros

    e um reitor de 95 que pouco contribuiu para a sua reforma
    antecipada por saneamento em 1975
    teve direito a uma reforma supina durante a maior parte de 35 anos

    pelo menos desde a reforma das pensões cavaquista de 1986? ou 87?

    e se finou com uma pensão actualizada anualmente (durante 20 e tal anos a taxa nunca inferior a 2,5%)
    com 2500 brutos ao mês
    ou seja o mesmo que num ano ganha muita gente que trabalhou até aos 70 e muitos ainda trabalham para ter acesso a um estado associal

    que não lhes chegou

    azar dos 3/4 dos meus abuelitos que nã eram funcionários
    e do 1/4 que se finou no regime Soarista todos via SNS…
    é que não é maçon quem quer…
    há quem morra no quarto ao lado do pai de cavaco silva
    porque há falta de camas e tem de ir para casa…
    é um regime de direitos adquiridos diferenciais

    o direito a ser enterrado com subsídio se alguém o requerer
    e a uma salva de 12 tiros por obra e graça dum amigo dum amigo
    porque fica bem…no funeral

    sorte da sua descendência que acumulou 2 e 3 pensões
    ou pelo menos uma superior a 2 salários mínimos e meio

    azar da descendência destes que tiveram menos sorte

    mais azar dos que não nascerão porque a sorte não sai a todos

    felizmente saiu um eurromilhões
    pró resto do pessoal com escassez de direitos adquiridos

    restam as terminações
    infelizmente nem todos compraram bilhetes…é a veda…védica

  • Seja mohs sé rios....

    well

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Não há um sentimento de culpa por direito conquistado, apesar de os politicos da Governaçao estarem a passar essa ideia, por não quererem ou saberem passar outra.

    E como é evidente nunca deveremos ir pela via de por em causa o 25 de abril. Nunca.

    Mas podemos e devemos assumir que muito do que foi feito não foi bem assente e está a esvair-se, e isso é necessario alterar.

  • Augusto Küttner de Magalhães

    E a Europa vai acabar????? E o euro? e a Alemnha?

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