Mario Monti - Primeiro-Ministro italiano

“Podemos permitir tudo menos que o euro se torne num instrumento de divisão entre europeus — expressões como «países centrais» e «países periféricos» são de recusar inteiramente”, disse Monti, lembrando que “a Alemanha e a França foram os primeiros responsáveis pelo desrespeito do Pacto de Estabilidade e Crescimento”

Há uma semana, a vinda ao Parlamento Europeu em Estrasburgo do Primeiro-Ministro italiano Mario Monti foi um momento inédito na construção de uma esfera democrática europeia e um momento importante no debate público sobre a crise que aflige a União Europeia.

Foi um momento inédito na integração democrática europeia porque, em geral, os chefes de governo que se dirigem ao Parlamento Europeu fazem-no apenas quando o seu país assume a Presidência do Conselho. A vinda de Mario Monti, um chefe de governo tecnocrático, marca a posição do Parlamento Europeu enquanto casa da democracia no  continente e lugar onde se deve fazer a discussão sobre a crise.

“Podemos permitir tudo menos que o euro se torne num instrumento de divisão entre europeus — expressões como «países centrais» e «países periféricos» são de recusar inteiramente”, disse Monti, lembrando que “a Alemanha e a França foram os primeiros responsáveis pelo desrespeito do Pacto de Estabilidade e Crescimento”; eu acrescentaria que, com a irresponsável gestão da crise do euro desde o início de 2010, e a utilização cínica de estereótipos negativos entre os nossos, a Chanceler Merkel e o Presidente Sarkozy têm responsabilidades pessoais claras na pior crise de sempre da União Europeia.

Há três pontos concretos que constituem uma demarcação da estratégia franco-alemã e que merecem ser destacados.

Monti foi claro ao dizer que a zona euro precisa de um instrumento de dívida comum para estabilizar os mercados — eurobonds ou, como ele lhes chamou, “stability bonds”, acrescentando que eles não serão um instrumento de indisciplinadas mas de segurança comum contra a especulação e a instabilidade dos mercados.
Em segundo lugar, Monti disse que a UE precisa de distinguir entre gastos e gastos. Nem todos os gastos são indisciplina orçamental. O investimento público com vista ao crescimento não deve ser demonizado e deve poder ser realizado sob regras de contabilidade que reconheçam a sua importância para a sustentabilidade de uma economia a longo prazo.
Diplomaticamente, Mario Monti notou a enorme desproporção entre o esforço colocado na criação do novo Tratado do “Compacto Fiscal” e a falta de medidas práticas na área do crescimento: “Não valeria a pena ter dado o mesmo esforço à união económica, que é a base da integração?”, perguntou.

Finalmente, Monti afirmou que “a Itália não receberá de modo passivo as instruções da União Europeia, mas um país que contribuirá ativamente para encontrar soluções para a crise”. Passado dois anos de crise, ouviu-se pela primeira vez um chefe de governo recusar o duopólio franco-alemão na gestão desta crise. Se o governo português tivesse estratégia, aproveitaria esta ocasião para que se crie um arco diplomático com uma visão mais realista, sensata e construtiva para a saída desta crise.

Houve, porém, qualquer coisa de chocante neste debate: o contínuo achincalhamento da Grécia. “Deveríamos mandar o Sr. Monti para arrumar a casa na Grécia”, disse Verhofstadt, o líder dos liberais, num momento especialmente infeliz. Já ninguém se preocupa sequer como serão ouvidas as suas palavras em Atenas; fala-se como se estivéssemos no Império Romano e bastasse mandar um Pretor para pacificar uma colónia ingovernável.

E é num debate a este nível que se aprovou ontem para a Grécia um novo programa impossível de cumprir. Enquanto puderem continuar a usar a Grécia como cobaia, os líderes europeus disfarçarão a ingovernabilidade da própria União.

(Publicado no jornal Público em 22 de Fevereiro de 2012)

7 thoughts to “Um debate

  • Augusto Küttner de Magalhães

    Rui Tavares continua em grande forma e com grande actualidade a comentar o momento.

    Por certo o balanço deste momentum tão “quase sem saída” visto de Bruxelas e de Lisboa, dá-nos a visão de que se tudo continuar a ser feito = “mais do mesmo”, vai-nos levar a um mau “fim”!!!!!

    Assim não vamos lá!!!!!!!!

  • o dinamismo das parolas e dos parolos

    Já ninguém se preocupa….errado a preocupação em que as palavras sejam ouvidas como insultos é evidente …pretende-se que a Grécia use as dezenas de milhares de milhões em empresas privatizáveis (que tirarão alguns milhares de milhões de euros anuais do déficit grego e o transferirão para outro lado que o tentará reduzir)
    http://livingingreece.gr/strikes/…é anti-cópia mas dá uma ideia da situação dia-a-dia
    uns 6000 passageiros terão desmarcado viagens para a alemanha…mas 80% dos voos afinal partiram (embora um pouco vazios)
    a linha do Pireu Άνω Λιόσια ano liosa está parada pela 13ª vez este ano
    ora vamos no dia 56 de 2012 creio
    os advogados estão em greve há 16 dias (também já havia pouco trabalho)

    sequer como serão ouvidas as suas palavras em Atenas…em Atenas tal como há 2500 anos atrás (apesar de já não ser o mesmo povo)antes da batalha de salamina…discutiriam se as palavras dos persas eram insultuosas e utilizaram-nas para lutar entre si até os persas chegarem e os saquearem

    num se fala como se estivéssemos no Império Romano pois o império era uma união militar e fiscal….

    e bastasse mandar um Pretor…era um cargo de juiz itenerante dentro da república destinado a aproximar a justiça dos cidadãos romanos, os pretores provinciais eram mistos políticos-militares-judiciais destinados a governar os países conquistados e não para pacificar uma colónia ingovernável….pois as colónias romanas eram feitas de antigos legionários com problemas de marcha…

    logo nada em comum
    e com um calendário de greves até 16 de Abril bastante cerrado
    os russos já estão a vender viagens baratas só de ida…
    felizmente para os gregos que as visitas às ruinas de Palmira também andam más…isto o negócio do turismo tem um ano mau..

    amanhã o sun já deve ter uma meia-página a dizer inglesa brutalizada pelas ondas de desempregados algarvios
    (embora como falassem bem inglês e trouxessem mistelas para beber fossem romenos …o gbh é muy usado quando pensam que há telemóveis extra e nã conhecem a região…

    a união de povos sem um controlo central ou mecanismos de captura dos salteadores…função do pretor rural
    ou da pacificação das hordas de cidadãos sem trabalho…mas com pão de graça e muito tempo livre…função do pretor urbano

    ou seja todos os países europeus têm os mesmos problemas do império romano…os escravos importados fogem e devastam os campos
    (e até trazem mais trácios e dácios com eles via quadriga ultra rápida)os cidadãos dessa plebe sem fundos nem funções brigam entre si e vão ao circo

  • Além disso um pretor ajustava as leis às necessidades

    …. via wikie the wi king…uma vez tentei explicar isto ao gajo que agora tem o blog porhipatia mas ele tava muito conhecedor do papel do pater familiazinhas…e tamém tinha uma visão limitada do pretor” édito, ou seja, anunciava as regras de direito segundo as quais se administraria a justiça durante sua magistratura. Quando se encontravam lacunas na legislação, os pretores redigiam as regras necessárias sobre o caso que se apresentava; ou então julgavam que as regras do direito antigo não mais convinha às novas circunstâncias, sem ab-rogá-las expressamente, diminuindo-lhes o rigor…

    resumindo o papel de um pretor (ou de uns milhares)na união europeia
    teria sido óptimo não ficaríamos cheios de burrocratas que atafulharam de papelada empresas que se queiram fixar no espaço comunitário…foi por isso queouve gajada lusa a desmontá-las (e mais uns milhões de gajos) e a pô-las fora do dito espaço

    o porhipatia ia ser professor de historia e acabou como alto funk cionario unibersitário e doutor em arquivação suponho…

    logo se ele não percebia a importância do papel do pretor
    se amofine não que faz mal cê nã perceber

    olha se houvesse internet nesses tempos ahn…
    faziam-se umas 15 teses de doutoramento por minute…

  • Além disso um pretor ajustava as leis às necessidades

    ‘pretor peregrino”, que cuidava da zona rural e da relação com os peregrini (as comunidades sem cidadania romana)….iste há gente com tanto tempo livre e andaram a gastar-se milhões de contos a comprar enciclopédias para as 2000 bibliotecas existentes e 3000 centros culturais e 1000 e tal bibliotecas escolares?
    vendiam-se dúzias…e tudo em cheque com cabelo
    olhá actualização da luso-brasileira são mais 15 volumes…ponha 30…pois havia ministérios que inté reciclavam os volumes mai velhinhos quando começou a moda

    resumindo: Pretor Europeus ou Peuls já…e mandem-no mas é pra cá que os gregos são muito mais civilizados que os romanos nã precisam de homens de leis da barbárie (barbaria é já aculturação romana)

    os gregos aculturaram os romanos

    obviamente aculturaram a europa é por isso que hoje tamos todos gregos

    pretores bárbaros jámé…mandem-nos para as colónias gregas da austrália para controlarem as hordas bárbaras que ameaçam a emigração grega…(já agora adevíamos bombardear a austrália s’eles nã meterem mais 1000000 vistos de entrada…

    fica mal deixarmos as nossas colónias penais revoltarem-se

    A bem da Eurropa
    Parabéns pela salada russa de con ceitos sem ceitil

  • Além disso um pretor ajustava as leis às necessidades

    até há pouco tempo gente que ganhava 12.000 por ano não pagava impostos (daqueles que são sobre os rendimentos)na Grécia agora baixaram para 5000

    é verdade que quase todos os funcionários públicos os pagavam
    uma vez que auferiam (uns 70%)entre os 14000 e os 21000 anuais…mas havia excepções

    cá até ao Cavaco tamém nã se pagava IRS…aumentou 25% o funcionalismo para dizer que já podiam pagar IRS e eram iguais aos outros
    o nosso pai do estado social…agora faz piadas com a palavra calvinista

    e fala do milionário Obama….

    já agora quizz política…qual o último presidente eleito (americano)
    com bens inferiores ós dez milhão..

  • Nuno Rebelo

    Ora ai está, Rui. Referes-te, e bem porque genericamente, a Mario Monti como tecnocrata ou como líder de um governo tecnocrata, mas trazes-nos aqui uma sua prestação em que ele foi, mais do que outra coisa qualquer, um político. E ter um tecnocrata como Monti a assumir uma postura mais política do que qualquer outro ou mesmo do que todos os outros políticos europeus em conjunto é a prova mais que cabal da miséria de deserto de lideranças europeias que temos à vista.

    Carregando e exagerando no tom, ainda assim o digo, felizmente que Monti, tal como o seu governo, é tecnocrata – afrontou o eixo Merkozy assertivamente e teve uma ministra que chorou lágrimas honestas quando apresentou os cortes.

    E se há fase em que a Europa precisa de políticos e política é esta.

  • Somos todos espartanos? Já?

    Um debate tem sempre de ambos os lados, protagonistas eivados de preconceitos

    uns vêem na Grécia o berço civilizacional

    outros vêem a adopção da civilização grega como a resolução de todos os problemas

    De as alterações demoram tempo…

    o signore soares quer salvar o berço da civilização espartana primeiro para que eles nos venham cá ensinar comé que se reduzem 2 milhões de velhadas e desempregados em alguns meses

    reduzem-se também os famintos os estropiados os de que não gostamos e tudo ao estylo do berço civilizacional

    D.Quixote vê democracias no céu sem pinga de água

    Sancho vê hordas de refugiados a avançarem sobre os caídos…

    Vê democracia é democracia

    vê outra coisa …é um otário um tino de rans…

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