Por isso perguntamos: que trará 2012 para nós? E essa pergunta está errada: 2012 não nos traz nada, nós é que trouxemos até 2012 as coisas de que ele há-de ser feito.
No início do último livro de Haruki Murakami, 1Q84, há uma personagem com pressa para chegar a um compromisso com horário certo, mas que está dentro de um táxi num engarrafamento de uma autoestrada perto de Tóquio, e que decide seguir a indicação do taxista para sair do carro, escapar por uma escada de incêndio, e apanhar um comboio da linha suburbana que passa debaixo daquele viaduto. Antes de dar início ao seu plano de emergência, porém, o taxista avisa-a de que ela está prestes a fazer “uma coisa fora do comum” — “É verdade ou não? As pessoas normalmente não descem pelas saídas de emergência das autoestradas, especialmente as mulheres”. “E depois de se fazer uma coisa assim, o aspecto ordinário das coisas muda um pouco. As coisas vão parecer diferentes do que pareciam antes”.
A protagonista não liga, faz o que tem a fazer, segue a sua vida. Mas depois as coisas começam de facto a parecer diferentes. Primeiro nos pormenores: as fardas dos polícias não são como ela se lembrava. Depois em coisas mais importantes: como se explica que ela não tenha qualquer ideia de acontecimentos recentes de que toda a gente fala? E finalmente, nas coisas mais elementares: “o ar mudou, a paisagem mudou”.
Mais tarde, numa biblioteca, ela consulta um arquivo de jornais e chega à conclusão de que entrou num tempo diferente, que se tinha bifurcado do anterior no momento em que ela escolheu descer as escadas de incêndio. O ano em que ela está já não é 1984, em que ela vivia, mas um ano diferente numa escala diferente, um presente que tem outro passado, do qual ela entende pouco e para o qual precisa de um nome novo. Escolhe 1Q84, substituindo o “9” pelo “Q” que em japonês é o símbolo equivalente ao ponto de interrogação. E diz para si mesma: “é um mundo com uma pergunta”.
Se existissem mundos paralelos, e eles se bifurcassem a cada decisão tomada, ainda andariam algures pelo universo os nossos duplos (na verdade, múltiplos) que tomaram as decisões que não tomámos, que vivem as vidas que recusámos ou as que não tivemos coragem de escolher, que têm outras profissões, ou que casaram com a namorada do tempo da escola que nunca mais vimos, ou que emigraram quando nós ficámos. Vivem lá nesse mundo paralelo como nós neste, uns ignorando os outros, exceto por alguns momentos de imaginação ociosa, em que nós pensamos neles ou eles em nós, logo interrompida por coisas mais sérias do nosso mundo real que temos por único.
Mas mesmo que não exista esse universo dos mundos que se bifurcam, a ideia dele permite-nos contrariar uma outra ideia do tempo que está tão arreigada na nossa cultura e segundo a qual os anos são pacotes preparados e enviados do futuro para nós, meros destinatários passivos. Por isso perguntamos: que trará 2012 para nós? E essa pergunta está errada: 2012 não nos traz nada, nós é que trouxemos até 2012 as coisas de que ele há-de ser feito.
Escreveu Leibnitz que “o tempo presente está prenhe do que há para vir”. O nosso presente será o passado de 2012, que o condicionará. E é porque deixámos que o nosso presente fosse como é que 2012 será um mundo com um enorme ponto de interrogação.
14 thoughts to “20?2”
Este mundo caótico está cheio de “efeitos borboleta” e “sensibilidade nas condições iniciais”. Só que, na vida real, não temos como voltar atrás e perturbar um pouco a escolha inicial. E, infelizmente, neste momento, nesta Europa, há escolhas muito mal feitas que nos condicionarão, de forma dramática, os passos seguintes. Necessitamos urgentemente de uma grande perturbação!
Ao ler o seu artigo recordo-me de uma tribo indígena (da América do Norte, salvo o erro) que percepciona o tempo de forma oposta à nossa: o futuro encontra-se atrás de nós porque não o vemos, enquanto que o passado está à nossa frente porque já o vimos, o passado mais recente mais nítido e o distante cada vez mais difuso.
Sigo-o no Público, com a devida atenção. Tenho saudades do tempo em que perdia algum do seu tempo a escrever textos críticos no Mil Folhas (podia ser no Ípsilon, agora) sobre os livros do Murakami. mjl
2012 traz a era do novo cruzado
tal como 1969 trouxe a suruba e a era do aquario
é um annum mercurial de mu dança….
EU SAM MERCURIO SENHOR
DE MUITAS SABEDORIAS
E DAS MOEDAS REITOR
E DEOS DAS MERCADORIAS
TODOS TRATOS E CONTRATOS
VALIAS PREÇOS AVENÇAS
CARESTIAS E BARATOS
MINISTRO SUAS PERTENÇAS
E PORQUANTO NUNCA VI
NA CÔRTE DE PORTUGAL
FEIRA EM DIA DE NATAL
ORDENO HUA FEIRA AQUI
FEIRA NOVA NAS HOLLANDAS
E ASSIS O HEI POR BEM
ANDÃO OS TEMPOS DE BOLANDAS
PORQUE O TEMPO TUDO TEM
E TODO O MUNDO E NINGUÉM
MUDA DE LOGARES DESERTOS
QUANDO A MOLÉSTIA AI VEM
E CRIA LUGARES SECRETOS
PRA TODO O MUNDO E NINGUÉM
mais bale dois mil e doce
do que mil e novecentos e amargo
o tempo é supremo e o homem nada
o tempo apaga os homens
e os homens apagam-se no tempo
o homem nada t´raiz ó tempo
o tempo é que trai os homens e as suas falsas civilizações
Tem pouco a ver com este artigo este meu comentário.
Tem mais a ver com a sua coluna no público e com as suas intervenções no PE.
E também com os Encontros de Baucau, que tive o prazer de acompanhar de muito perto.
É um privilégio podermos ter pessoas do seu calibre a representar Portugal, seja onde for.
olha acho que o 112 já levou um de 2012….pelo menos para 100 mil 2012 deve ser fatal
é pra miúdas de 16
e putos de 30 e tal….
isto do sado masochismo literário é demais
e encontrar citações em 600 páginas é obra
é como encontrar um rumo ou um porto de apoio no Zé Rodrigues dos Santos o Haruki Harakiri (Seppuku) putoguês
como dizia santo agostinho
o tempo sei o que é
mas se me perguntam o que é o tempo deixo de o saber…
não queu tenha algo contra miúdas de 16…sempre é melhor que lerem a Patrícia ou o Dirty Harry (das Portas)
2012 traz no bico 2 meses de desemprego e 10 de sub-emprego
uns 13 meses de biscates e 6 a 12 de subsídios
e daí talvez nem isso….
logo isso do que 2012 traz…é de truz
é que acusar uma europa que transferiu biliões de eurros
De bilião e trilião dependem da escala a 10 de Janeiro de 2012 às 01:30
se é a longa é milhão de milhões 10elevado 6n
se é curta é milhar de milhar de milhões …de eurros para o 3º mundo em cada lustre (período de 5 anus)
acusá-la de narcisismo é demais..
eu até twittava ou facebookava quelque chose….ma dá muito travalho talvez em 2013..quando os eurrodeputés deixarem de valsar de brux para estragaduburgo
asquecia-me
para newton (o inglês com maçã na tola)o narcisismo europeu só acaba em 2060
decididamente são as férias de bruxelas como as couves devem vir todas juntinhas
20?2 o próximo é em 2022 ou 2092 é que acho que encravou em 2011
penso eu de que
se é 2002 isso já sei o que traiz…