Um conjunto de cientistas sociais – o número já vai em 150, e é de destacar destacar a diversidade disciplinar, de instituições, de origem e de política, a par do reconhecimento de qualidade científica que geralmente granjearam (e, talvez não totalmente irrelevante, todos os vencedores do Prémio Sedas Nunes são signatários) – subscreveram o texto “Em defesa da dignidade, do trabalho e dos estado social, apoiamos a greve geral”, e eu também.

Deixo-vos aqui em baixo o documento, bem como a lista dos nomes já incluídos.

EM DEFESA DA DIGNIDADE, DO TRABALHO E DO ESTADO SOCIAL,
APOIAMOS A GREVE GERAL

O último ano tem sido marcado por uma catadupa de decisões políticas
atentatórias das condições de vida dos cidadãos e dos serviços e apoios
sociais arduamente conquistados ao longo da história, criando uma situação
que é tão mais gravosa quanto ocorre num quadro de progressivo desemprego
e recessão económica.

É o caso dos cortes unilaterais nos salários dos trabalhadores do Estado, da
apropriação fiscal de grande parte do subsídio de Natal dos trabalhadores e
pensionistas, do corte dos subsídios de Natal e de férias dos trabalhadores
do sector público e dos pensionistas que, tal como o aumento do horário
laboral no sector privado, estão previstos para o próximo ano, da substancial
diminuição do financiamento ao Serviço Nacional de Saúde e à educação
pública, ou da restrição do acesso ao subsídio de desemprego e a outras
prestações sociais.

No entanto, estas opções políticas não se limitam a agravar as condições de
vida dos trabalhadores, pensionistas e suas famílias, fazendo até perigar a
própria subsistência de muitos deles em condições minimamente dignas.

Essas decisões são tomadas em nome do reequilíbrio das contas públicas e da
necessidade de servir a dívida. No entanto, devido à recessão que já provocam
e irão aprofundar, não permitirão sequer atingir esses objectivos. Dessa forma,
ao sofrimento imposto a milhões de pessoas e à injustiça na repartição dos
custos, vem somar-se a consciência da inutilidade de tais sacrifícios.

Mais ainda, as medidas tomadas no âmbito das políticas de “ajustamento”
constituem uma brutal subversão do contrato social que permitiu à Europa
libertar-se, após a II Guerra Mundial, da endémica incerteza e insegurança de
vida dos seus cidadãos e, com base nisso, assegurar vivências mais dignas,
uma maior equidade e níveis de paz social e segurança colectiva sem paralelo
na sua história.

Ao subverterem a credibilidade e a segurança jurídica da contratação
laboral e sua negociação, ao esvaziarem e restringirem os elementos de
Estado Social implementados no país (pondo com isso em causa o acesso
dos cidadãos à saúde, à educação e a um grau razoável e expectável de
segurança no emprego, na doença, no desemprego e na velhice), essas
opções políticas, apresentadas como se de inevitabilidades se tratasse,
reforçam as desigualdades e injustiças sociais, abandonam os cidadãos mais
directamente atingidos pela crise, e criam as condições para que a dignidade
humana, os direitos de cidadania e a segurança colectiva sejam ameaçados
pela generalização da incerteza, do desespero e da ausência de alternativas.

Por essas razões, os cientistas sociais signatários reafirmam que os princípios
e garantias do Estado Social e da negociação consequente dos termos
de trabalho não são luxos apenas viáveis em conjunturas de crescimento
económico, mas sim condições básicas da dignidade e da existência colectiva,
que se torna ainda mais imprescindível salvaguardar em tempos de crise. São,
para além disso, elementos essenciais de qualquer estratégia credível para
ultrapassar a crise e relançar o crescimento económico.

Num quadro de fortes limitações orçamentais, esse imperativo societal requer
a reversão das crescentes assimetrias na distribuição de riqueza entre capital
e trabalho, designadamente através da utilização de uma substancial e
mais equitativa tributação dos lucros e mais-valias como fonte do reforço de
financiamento dos serviços e prestações sociais.

Sendo as opções governativas em curso (e em particular a proposta de OGE
2012) contrárias a estas necessidades e atentatórias da dignidade humana
e da segurança colectiva, os cientistas sociais signatários apoiam a Greve
Geral convocada pela CGTP-IN e a UGT para o próximo dia 24 de Novembro,
apelando aos seus concidadãos para que a ela adiram.

Tratando-se embora de uma acção a nível nacional, os signatários saúdam
também esta Greve Geral como um momento do combate europeu contra as
políticas de austeridade e de regressão social, a favor de mudanças na política
europeia que coloquem no centro os cidadãos, o crescimento económico, o
desenvolvimento e a defesa da Europa Social e da democracia.

Os cientistas sociais:

Alan Stoleroff (ISCTE-IUL), Alexandre Abreu (CEG-UL), Amanda Guapo (IELT-UNL), Ambra Formenti
(ICS-UL), Ana Benard da Costa (ISCTE-IUL), Ana Benavente (ULHT), Ana Cordeiro Santos (CES-UC),
Ana Costa (ISCTE-IUL), Ana Cristina Ferreira (ISCTE-IUL), Ana Cristina Santos (CES-UC), Ana Delicado
(ICS-UL), Ana Horta (ICS-UL), Ana Margarida Esteves (Tulane Un.), Ana Paula Guimarães (FCSH-UNL),
Anne Cova (ICS-UL), António Brandão Moniz (FCT-UNL), António Carlos Santos (UAL), António Galamba
(antr.), António Monteiro Cardoso (CEHCP-IUL), Britta Baumgarten (CIES-IUL), Carlos Augusto Ribeiro
(FCSH-UNL), Carlos Pedro (antr.), Carlos Rodrigues (UA), Catarina Casanova (ISCSP-UTL), Cícero
Pereira (ICS-UL), Clara Saraiva (FCSH-UNL), Cristina Santinho (CRIA), Dulce Simões (INET-UNL),
Elisabete Figueiredo (UA), Elísio Estanque (CES-UC), Elsa Peralta (ICS-UL), Emília Margarida Marques
(CRIA), Francisca Alves-Cardoso (FCSH-UNL), Frédéric Vidal (CRIA), Giovanni Alves (CES-UC), Gonçalo
Santinha (UA), Graça Videira Lopes (FCSH-UNL), Guilherme Fonseca-Statter (CEA-IUL), Guya Accornero
(CIES-IUL), Helena Lopes (ISCTE-IUL), Henrique Sousa (FCSH-UNL), Hermes Costa (CES-UC), Hugo
Dias (CES-UC), Inês Godinho (antr.), Inês Sachetti (UCLA), Irene Flunser Pimentel (hist.), Isabel Cardigos
(FCSH-UA), João Areosa (soc.), João Edral (IELT-UNL), João Estevão (ISEG-UTL), João Ferrão (ICS-
UL), João Leal (FCSH-UNL), João Luís Lisboa (FCSH-UNL), João Paulo Dias (CES-UC), João Pedroso
(FE-UC), João Pina Cabral (ICS-UL), João Rodrigues (CES-UC), João Seixas (ICS-UL), João Teixeira
Lopes (FL-UP), João Vasconcelos (ICS-UL), Jorge Carvalho (UA), Jorge Malheiros (IGOT-UL), José
António Fernandes Dias (FBA – UL), José Carlos Mota (UA), José Castro Caldas (CES-UC), José Gabriel
Pereira Bastos (CRIA), José Manuel Cordeiro (ICS-UM), José Manuel Pureza (CES-UC), José Manuel
Rolo (ICS-UL), José Manuel Sobral (ICS-UL), José Mapril (CRIA), José Neves (FCSH-UNL), Lourenzo
Bordonaro (CRIA), Luís Silva (CRIA), Luís de Sousa (ICS-UL), Luís Souta (ESSE-IPS), Luísa Lima
(ISCTE-IUL), Luísa Oliveira (ISCTE-IUL), Luísa Schmidt (ICS-UL), Luísa Tiago de Oliveira (ISCTE-IUL),
Manuel Carlos Silva (ICS-UM), Manuel Couret Branco (UE), Manuel Loff (hist.), Manuela Ivone Cunha
(UM), Margarida Paredes (CRIA), Margarida Pereira (FCSH-UNL), Margarida Perestrelo (ISCTE-IUL),
Maria Cardeira da Silva (FCSH-UNL), Maria Clara Murteira (FE-UC), Maria Eduarda Gonçalves (ISCTE-
IUL), Maria Fátima Ferreiro (ISCTE-IUL), Maria Inácia Rezola (IHC-UNL), Maria Inês Amaro (FCH-UCP),
Maria João Freitas (LNEC), Maria José Casa-Nova (UM), Maria Luís Pinto (UA), Maria da Paz Campos
Lima (ISCTE-IUL), Mário Vale (IGOT-UL), Marlene Rodrigues (CPES-ULHT), Marta Prista (FCSH-UNL),
Marzia Grassi (ICS-UL), Mauro Serapioni (CES-UC), Michel Binet (CL-UNL), Micol Brazzabeni (CRIA),
Miguel Cardina (CES-UC), Miguel Vale de Almeida (ISCTE-IUL), Mónica Truningen (ICS-UL), Nuno
Domingos (ICS-UL), Nuno Martins (UCP), Oriana Alves (IELT-UNL), Patrícia Alves Matos (CRIA), Paulo
Castro (ISCTE-IUL), Paula Godinho (FCSH-UNL), Paulo Alves (ISCTE-IUL), Paulo Castro Seixas (ISCSP-
UTL), Paulo Granjo (ICS-UL), Paulo Mendes (UTAD), Paulo Peixoto (FE-UC), Paulo Raposo (ISCTE-IUL),
Pedro Aires Oliveira (FCSH-UNL), Pedro Hespanha (CES-UC), Raquel Rego (ISEG-UTL), Raúl Lopes
(ISCTE-IUL), Renato Carmo (ISCTE-IUL), Ricardo Sequeiros Coelho (CES-UC), Ricardo Paes Mamede,
Rita Poloni (ICS-UL), Rosa Maria Perez (ISCTE-IUL), Rui Bebiano (CES-UC), Rui Tavares (hist.), Ruy
Blanes (ICS-UL), Sanda Samitca (ICS-UL), Sara Falcão Casaca (ISEG-UTL), Sílvia Portugal (CES-UC),
Sofia Aboim (ICS-UL), Sofia Sampaio (CRIA), Sónia Bernardes (ISCTE-IUL), Sónia Ferreira (FCSH-UNL),
Sónia Vespeira Almeida (CRIA), Susana Boletas (ICS-UL), Susana Durão (ICS-UL), Teresa Albino (IICT),
Teresa Carvalho (UA), Teresa Santos (ICS-UL), Tiago Correia (CIES-IUL), Tiago Saraiva (ICS-UL), Vera
Borges (ICS-UL), Virgílio Amaral (CES-UC), Vitor Ferreira (ICS-UL), Vitor Neves (FE-UC)

5 thoughts to “Saudando a greve geral – o apoio dos cientistas sociais

  • Exilado no Mundo

    Infelizmente, este mundo está ser “pensado” por tecnocratas desalmados e políticos por eles manipulados. Só uma força popular em grande escala poderá mudar o rumo dos acontecimentos!

  • Para con versos de treta

    Se Pedro Santana Lopes é a Fénix renascida profissional

    o pessoal das ciências sociais são os pais da greve geral?

    DESLIZAM LENTAS E VERMELHAS

    ESSAS MURALHAS DE POVO

    QUE SÃO COMPOSTAS DE VELHAS

    COM UNS PINGOS DE SANGUE NOVO

    ಪೋಸ್ಟ್ ಮಾಡಿದವರು

    é que as mães da greve geral tão velhotas

    hoje foi o ensaio das grevistas profissionais subirem para os autocarros (agora da Barraqueiro e já não da Rodoviária Nacional)

    amanhã para chegarem à greve

    vão ter de furar a greve de outros

    (ou será que o pessoal da barraqueiro que as leva à greve em Lisboa
    está a fazer greve ao não fazer greve?

  • Para con versos de treta

    só por curiosidade não há aí um da Independente (nessa listagem de Benavente’s Bredorede’s e Baumgartën’s?

    (já não digo da católica) é que os cientistas sociais da independente estão em greve há anos

    tenho um bizinho aqui que ia de comboio com os da FCSH e do Técnico
    e agora fica em casa o dia todo a fazer greve….

    Há Joões Rodrigues ou Seixas com cientismus sociais

    e há aquelas dezenas de milhares que não ficaram em institutos
    e andam a socializar nas caixas de supermercados
    há também aqueles cientistas sociais que se suicidaram

    porque o instituto os pôs na rua (só conhecia um mas enfim..)
    e os outros que foram para a suiça trabalhas nos bistro’s locais
    e aplicar cimento nos túneis

    eram maralha pouco científica…supongo

  • Cientifismo sucia all

    Pois é interessante que o cientifismo social, defenda o estado social.

    Em 1997 um cientista social assistente ganhava 250 ou 260 contos
    em 2011 ganharia 3000 e tal eurros brutos

    aumentos médios superiores à inflação em 14anos

    (1+0,04)elevado a 14

    é só multiplicar por 260 ou 300
    e ver quanto dá

    o cientifiquismo social tal como a dianética
    tem a sua vertente económica bem marcada
    (assinado: grevistas sociais em greve permanente até à derrota final
    coisa de 3 milhões e tal de gentalha na mó de baixo

  • Pronto Pronto é Geral

    Aqui no centro de emprego, amanhã todos os desempregados vão fazer greve e se precisarem do carimbo na papelada dos 15 dias

    Ora se estão desempregados que venham amanhã
    Os que receberam hoje aqueles avisos do fisco com 2 meses de atraso a dizer que ou pagam até 31 de Outubro ou vão ser executados fiscalmente
    Que arranjem trabalho para pagar ao fisco o IMI ou saiam da casa e emigrem
    Fossem para cientistas sociais em vez de apanhadores de laranja
    a 70 cêntimos por caixa (quase tudo vietnamitas anamitas grevitas)

    O patronato explorador recebe 30 cêntimos por quilo de laranja
    ou 2 euros por caixa (depende dos dias) esse é que devia ir prá greve e vender os laranjais que restam para o novo aeroporto ou coisa assim

    ê na bou à greve puque num tiengo transporte pa ir-me à greve

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