Em cada três jovens, um está desempregado, outro está precário, e duvido que o terceiro esteja a fazer aquilo para que foi formado. Comparado com isto, os juros da dívida, a banca falida, e o euro a desmanchar-se podem ser a crise imediata. Mas não são a crise verdadeira.
Por que está tudo a estourar ao mesmo tempo? Essa era a pergunta do início do ano. Tinha rebentado uma revolução na Tunísia antes do Natal, logo seguida por uma no Egito, no Bahrain, na Líbia, na Síria, e revoltas em Marrocos e na Jordânia, pelo menos. Qual era a explicação? No dia 5 de fevereiro um jornalista da BBC chamado Paul Mason tentou achar uma resposta e escreveu um texto com vinte razões, todas interessantes e discutíveis. A primeira é a crucial:
“Na raiz de tudo isto está um novo tipo sociológico: o licenciado sem futuro”.
Hmm. Vale a pena explorar esta ideia. O licenciado sem futuro, o mestrado com emprego precário, o doutorado emigrado são categorias transversais. Existem nas ditaduras e nas democracias. Nos países árabes e fora deles. Encontramo-los da Praça Tahrir às Puertas del Sol, do Occupy Wall Street à Geração à Rasca.
Na Europa, vários países têm o desemprego jovem em torno dos 25%: Portugal, França, Reino Unido, Itália, Irlanda, Polónia, Eslováquia, e por aí afora. Grécia: 43 por cento. Espanha: 45 por cento. Em alguns casos, o desemprego jovem saltou para o dobro nos últimos três anos.
Em cada três jovens, um está desempregado, outro está precário, e duvido que o terceiro esteja a fazer aquilo para que foi formado. Comparado com isto, os juros da dívida, a banca falida, e o euro a desmanchar-se podem ser a crise imediata. Mas não são a crise verdadeira. A crise que os governos e a Comissão Europeia se recusam a ver, porque não sabem sequer como começar a resolvê-la.
Chamou-me a atenção que Paul Mason cite um historiador (ele não diz qual) segundo o qual “a Revolução Francesa não foi feita pelos pobres, mas pelos advogados pobres”. Que quer isto dizer? Nem a política, nem a cultura, nem a classe social explicam uma pessoa. A educação, as expectativas goradas, o hábito (tornado necessidade) de estar informado, a mobilidade dentro da sociedade, a noção de que “isto não muda”, o acesso às tecnologias da comunicação (imprensa, livros e correspondência no século XVIII; blogues, twitter e facebook no século XXI), a experiência de uma liberdade (de uma alegria até) no mundo dos debates e das ideias que não se encontra no emprego nem no partido político são as pontas por onde devemos começar a pegar.
Se formos por aí, veremos que o jovem licenciado sem futuro não está sozinho. Por mais tentativas que tenham sido feitas para o pôr contra o funcionário público, ou o reformado, ou o profissional contratado, há qualquer coisa que os une. Talvez a noção de que a amálgama entre o mercado e a política fez de todos eles (de todos nós) descartáveis.
Considerem os seguintes sintomas dessa realidade. A CNN vai despedir 50 jornalistas, principalmente de imagem, para usar material recolhido pelos amadores. Pela primeira vez, a automação começa a substituir trabalho qualificado e não só braçal. Uma subida nas taxas de juro faz substituir políticos eleitos por tecnocratas.
Isto acontece quando poderíamos estar tão perto de conquistar velhos sonhos da humanidade: usar a educação contra a ignorância, o acesso à informação para o exercício da democracia, a automação contra o trabalho embrutecedor. Mas as conquistas não caem do céu.
Nota: Paul Mason, “20 reasons why it’s kicking off everywhere” (http://tinyurl.com/6bjjmz9)
12 thoughts to “A verdadeira crise”
Há um abismo crescente nesse “estar tão perto”…
Também eu estou a tirar um curso (não interessa mencionar qual) que, cada vez mais, acredito que não me servirá para nada. Nunca tive tantas dúvidas sobre o meu futuro como agora. Não tenho planos nem intenções. Só mesmo estando num profundo alheamento (o inglês tem uma boa palavra para isto: Oblivious) é que eu estaria a fazer planos para o que quer que fosse.
Sinto cada vez mais ódio por estas classes plutocráticas e governos coniventes, incapazes e incompetentes.
Se nos tiram o futuro, não temos nada a perder, não esperem que fiquemos parados!
Os paradigmas estão a mudar. Sente-se essa efervescência na contestação das pessoas. Julgo, porém que a carência no acesso às necessidades básicas, é que será, infelizmente, o catalisador para que finalmente a corda, que nos segura de cairmos no abismo, arrebente e se re-invente o sonho.
o inglês tem uma boa palavra para isto: Oblivious como se vê o
oblívio educativo nunca lançou estas gerações tão cultas
no conhecimento das raízes da linguagem que ajudam todo o emigrante
a surfar nas indo-europeias sem peias e sem canudos
Creio que é player piano um livro dos anos 60 de kurt vonnegutt jr.
que descreve um mundo automatizado cheio de doutores com canudos variados
e uma imensa massa de desempregados não quAlificados e de pensionistas/subsidiados
resumindo não é por haver uma massa semi-mimada de licenciados jovens que o desemprego é grande nestas faixas etárias
os lugares foram ocupados em permanência pelos papás desta geração
que é demasiado qualificada para sujar as mãos e tem por isso
tido demasiada lentidão em emigrar como fizeram gerações sucessivas dos seus ancestrais
e embora os dos cursos tecnológicos tenham começado a emigrar no meio da década de 90 foram sempre uma escassa minoria
a maior parte dos emigrantes ainda têm entre 40 e 60 anos
e os dos 20 aos 30 e muitos que emigram são geralmente aqueles que não tiveram sucesso no monstro educativo alimentado por exames
é ver o nº de casas vazias no Vale da Amoreira no Bairro do Arsenal Alfeite e noutros bairros sociais do norte centro e sul do país
miúdos com 20 e desempregados da construção civil com 30 a 50 e muitos anos e o 9º ano e menos enxameiam as estradas para as suiças
luxemburguesas
esses são os verdadeiros descartáveis
têm e sempre terão o sub emprego
e o salário dado em envelopes (e por vezes só mesmo o envelope)
Oblivia-se que o acesso às tecnologias da comunicação não garante conhecimento ou capacidades
lá por haver mais meios para se aprender a misturar 1/4 de H2SO4 com benzina petroquímica che non capisqué que num é por isso que 500 mil licenciados vão fazer anfetaminas ou explosivos em casa
(imprensa, livros e correspondência no século XVIII…não significam que um alucinado culto se torne num esclarecido cidadão
assim como o Berserker escandinavo alimentado a blogues, twitter e facebook no século XXI…tamém nã é o protótipo do paladino da democracia esclarecida
nem garante ao General Garcia dos Santos ou a outros cabeçudos
da democracia sem partidocracia (um conceito absurdo e irrealizável)
se tornem arkanjus da união entre os desavindos
, a experiência de uma liberdade…bófia são filhos da puta
são capachos do patrão
(quando a licenciatura esclarecida grita aos deserdados do 11º ou 12º ano a sua condição de força repressiva a 900 e a 1200 ao mês
com turnos de 24 horas a apanhar pedradas (Maria Joana Free)
acho que o mundo dos debates e das ideias …anda maIS ao mesmo nível de quando os moços do propedêutico e o pessoal das letras
atirava à polícia (com a 4ª classe ou o 1º ano dos liceus) o labéu de escumalha imperialista e póias da burguesia (que eram os ditos estudantis) ou se a tua mãe fosse puta ….eras polícia
sim o debate das ideias nã parece ter avançado muito
Façam greve e não façam o vosso trabalho
depois em vez de se arrombar a porta da reitoria
arromba-se a porta do parlamento
E a cleptocracia nacional é conhecida
Então porque é que não assaltaM assis a modos que uma das embaixadas de espanha do século XXI
podia ser a casa dumdum ou dunsduns político ali prós lados do Campo Grande
(que não falava nada em 1996 ou em 2006 e dá tantos avisos agora)
ou atacavam a embaixada alemã à grega
agora ir às embaixadas do fisco ou acampar como os trolhas junto do Pinheiro de Azevedo é demodé
só serve para fazerem uns vídeos no youtube
é que a Assembleia tirando os computadores já foi saqueada durante 37 anos já deve restar pouco para levar
enquanto que nas casas da cleptocracia res pubicana sempre há Picassos e outros bens culturais escavaqueiráveis
Sem dúvida que o momento é muito mau, e tantas cabeças pensadoras, tantos que tanto falam, sem pouco dizer, aparecem em todo o lado…nas n/ televisoes, debates, e mais debates, e telejornais de 1h30..e já se constatou o constatado, e ninguem, ninguem fala em soluçoes…WHY?
Seria necessarias soluçoes, e menos conversa…..
Não são os 250 ou 300 mil licenciados e mestres entre os 23 e os 30
que são a massa desses 700 e tal mil jovens nascidos entre 1981 e 1988
porque esses mesmo com cursos de comunicação social, sociologia ocupacional ou filosofia psicológica das multidões em fuga têm um background social e económico superior aos restantes 400 mil da sua geração (e maior acesso a qualquer lugar quer seja um lugar no estado (autarquias e outras inclusas)
e depois surge isto…egotismo puro
se não me dão eu saco…é uma generalização da adolescência que se vai estendendo à meia-idade e em breve à terceira idade
de resto vosotros geração de Abril sofrem desta problemática
(refiro-me aos filhos família e aos bolseiros que alcançaram um canudo
Sinto cada vez mais ódio por estas classes plutocráticas e governos coniventes, incapazes e incompetentes.
Se nos tiram o futuro, não temos nada a perder, não esperem que fiquemos parados!
como dizia uma gaja com um doutoramento nos idos de 88 ou 91
eu tenho um doutoramente eles são meros licenciados em medicina
and so it goes…goodbye ó eurrodeputé in short
Há quem só conheça a imposição e ou a subordinação. Seja nas relações, como nos meios,canais e intervenientes do ‘diálogo’.
Há quem,de madrugada,à tarde ou à noite se permita isso,mais a leviandade ilícita de etrena irresponsabilidade. De tudo.
Se ser novo e apaixonado é isto,Deus me conserve as câs.
Tirar um curso na esperança de com isso, entre outras razões, ter uma vida melhor é perfeitamente legítimo. Se não é assim digam-me porquê e eu calo-me. Não quis dizer que são só as pessoas que têm um canudo que merecem ter acesso a um trabalho e remuneração justas. Meti-me onde estou porque à uns anos tinha uma ideia do que queria fazer com o meu futuro. Agora acho que bem posso esquecê-la.
Sofro de egotismo Sr.”O problema demográfico não é prenhe de licenciados”? Talvez o seja, em maior ou menor quantidade.
Agora pergunto-lhe qual é o mal em querer trabalhar na área para a qual estudei. E não preciso de 20 ou 30 mil milhões. Há que chegue para todos, eu só quero a minha devida parte assim como quero que todos os outros tenham a sua.