Como qualquer historiador, tenho limites para a imaginação. Como qualquer cidadão, tenho preferências para o futuro. Dizem que o tema dos historiadores é o passado. Errado. O tema dos historiadores é a mudança (“l’histoire, science du changement dans le temps”, escreveu Marc Bloch). Essa mudança estende-se nos dois sentidos da linha do tempo, e toda ela interessa ao historiador. O grande problema do futuro, do ponto de vista do historiador, é apenas que não está documentado. A grande vantagem do futuro, do ponto de vista do cidadão comum, é que ainda não aconteceu. Teoricamente, isto significa que temos ainda espaço para que a agência humana — aquilo que nós fizermos entretanto — possa modificar o futuro. Daqui de onde estamos partem múltiplas linhas de história para o futuro, que ao historiador parecem semelhantes às múltiplas linhas que vêm do passado com as histórias que dele se podem contar. Cartas na mesa, então. Escrevo este texto com temperamento de historiador e com vontade de cidadão. Como qualquer historiador, tenho limites para a imaginação. Como qualquer cidadão, tenho preferências para o futuro.